A descoberta foi feita pelos advogados do Presidente e os documentos já foram devolvidos aos Arquivos Nacionais. Trump já reagiu e questionou se as casas de Biden também vão ser “invadidas” pelo FBI.
O Departamento de Justiça norte-americano está a rever documentos confidenciais que foram encontrados no antigo escritório privado de Joe Biden num “think tank” em Washington.
A descoberta foi feita pelos advogados do actual Presidente dos Estados Unidos e foi confirmada pela Casa Branca esta segunda-feira. O inquérito do Departamento de Justiça vai agora determinar se o procurador-geral Merrick Garland precisa de nomear um conselho especial para avaliar a situação, tal como fez no caso dos documentos confidenciais que Donald Trump escondeu em casa.
Os documentos em causa datam de quando Biden era vice-presidente de Obama e foram encontrados pelos seus advogados a 2 de Novembro, quando estavam a empacotar ficheiros, relata o The New York Times. Não se sabe ao certo quantos documentos estão em causa, que tipo de informações contém e que nível de confidencialidade é que têm.
Na noite de segunda-feira, o assessor jurídico de Biden, Richard Sauber, informou que os advogados do Presidente procederam à entrega dos documentos aos Arquivos Nacionais. “A Casa Branca está a cooperar com os Arquivos Nacionais e com o Departamento de Justiça”, disse num comunicado divulgado na segunda-feira.
Sauber disse que os advogados alertaram imediatamente o escritório do Conselho da Casa Branca, que notificou a Administração Nacional de Arquivos e Registos — que assumiu a custódia dos documentos no dia seguinte.
Os documentos foram encontrados num armário fechado à chave. Biden usou o escritório periodicamente entre meados de 2017 e o ínicio da sua campanha presidencial em 2020.
Ao contrário de Trump, a recuperação dos documentos não partiu de nenhum pedido dos arquivos e não há nenhuma indicação de que Biden tenha resistido a quaisquer pedidos para os devolver.
Trump questiona a actuação do FBI
Apesar da diferença nas circunstâncias, Donald Trump já comentou a situação e questionou o tratamento que recebeu quando o FBI fez uma rusga à sua casa para reaver documentos confidenciais que se recusou a devolver.
“Quando é que o FBI vai invadir as muitas casas de Joe Biden, talvez até a Casa Branca? Esses documentos definitivamente não foram desclassificados”, escreveu Trump na sua rede social, a Truth Social.
Trump fez assim um paralelo com o caso que o envolve diretamente, quando, a 8 de Agosto, agentes do FBI realizaram uma vasta busca à sua mansão na Flórida com base num mandado de “retenção de documentos confidenciais” e “obstrução a uma investigação federal”, e apreenderam cerca de trinta caixas, que continham documentos marcados como “ultrassecreto”, “secreto” ou “confidencial”.
Quando saiu da Casa Branca, Donald Trump levou consigo caixas inteiras de documentos, embora uma lei de 1978 obrigue qualquer presidente norte-americano a entregar ao Arquivo Nacional todos os seus e-mails, cartas e outros documentos de trabalho. Entre os documentos levados indevidamente incluíam-se informações sobre o arsenal nuclear de outros países.
Apesar de poder não vir a ser considerado culpado de algum crime, este caso já deve trazer várias dores de cabeça a Biden, especialmente após as críticas duras que teceu ao “irresponsável” Donald Trump por manter documentos com informações sensíveis em casa.
A recém-conquistada maioria Republicana na Câmara dos Representantes também promete dificultar a vida ao chefe de Estado, com várias promessas de maior escrutínio à administração Biden.
Na noite de segunda-feira, o congressista James Comer, presidente do Comité de Supervisão da Câmara de Representantes, disse aos jornalistas que o tratamento dado à descoberta de documentos classificados pelos advogados de Joe Biden demonstra um sistema de justiça de “dois níveis”.
“A Casa Branca vai ser invadida? Eles vão invadir o Centro Biden? Não sei. Esta é uma preocupação adicional de que há um sistema de justiça de dois níveis dentro do Departamento de Justiça sobre como eles tratam os Republicanos e os Democratas… certamente como eles tratam o ex-presidente e o atual”, avaliou Comer.
Já o congressista Democrata Jamie Raskin afirmou que os advogados de Biden “parecem ter tomado medidas imediatas e adequadas”.
“Tenho confiança de que o procurador-geral tomou as medidas apropriadas para garantir uma análise cuidadosa das circunstâncias sobre a posse e descoberta desses documentos e tomar uma decisão imparcial sobre qualquer outra ação que possa ser necessária”, disse Raskin.
Adriana Peixoto, ZAP // Lusa
