O Famalicão suspendeu hoje Miguel Afonso, “por mútuo acordo e com efeitos imediatos”, até que seja “apurada” a verdade sobre o alegado assédio sexual do atual treinador da equipa de futebol feminino famalicense a jogadoras do Rio Ave.
“O Futebol Clube Famalicão, com o interesse máximo de salvaguardar os seus valores, as suas pessoas e o seu emblema, vem comunicar, face aos acontecimentos ocorridos no dia de ontem [quinta-feira], a suspensão de funções, por mútuo acordo e com efeitos imediatos, do treinador Miguel Afonso até que a verdade dos factos seja apurada”, indica o clube, em comunicado.
De momento, de acordo com o Famalicão, “assumirá as funções de treinador principal, de forma interina, o técnico Renato Lobo e restante equipa técnica”.
“O FC Famalicão renova que não se revê em nenhuma atitude de teor abusivo ou de desigualdade de género, seguindo o seu caminho assente nos valores em que acredita e com o objetivo único de dignificar cada vez mais este emblema”, reiteram os famalicenses.
O clube volta a manifestar “total disponibilidade a todas as partes envolvidas e às entidades competentes para coadjuvar no alcance da verdade”, depois de, na quinta-feira, já ter prometido que, depois de apurada “a verdade dos acontecimentos”, tomaria “todas as providências ao seu alcance para o sancionar”.
Várias futebolistas que alinharam no Rio Ave em 2020/21 denunciaram, numa notícia publicada na quinta-feira pelo jornal Público, ações de assédio sexual do então treinador do clube de Vila do Conde, atualmente no comando técnico do Famalicão, da Liga feminina, já depois de ter estado na época passada na Ovarense.
De acordo com o jornal, Miguel Afonso, de 40 anos, terá trocado mensagens íntimas com jogadoras do emblema da Foz do Ave, com idades entre os 18 e 20 anos.
O Rio Ave admitiu ter tido conhecimento de “abordagens despropositadas” do treinador, mas que o assunto, a pedido das futebolistas, não teve seguimento.
O Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) abriu um processo a Miguel Afonso, que incorre, numa pena de suspensão de três meses a um ano, segundo o Regulamento de Disciplina da FPF, que prevê esta infração desde 01 de julho último, data da sua mais recente atualização, no seu artigo 126.º-B.
Um conjunto de jogadoras enviou, na manhã desta sexta-feira, uma denúncia anónima à Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Segundo a Tribuna Expresso, a queixa foi submetida através da plataforma de denúncias no site da federação.
A denúncia inclui gravações de mensagens de áudio e excertos de conversas nas redes sociais.
Reveladas mensagens de assédio
A antiga “team manager” do Belenenses Mariana Vaz Pinto partilhou uma série de mensagens que alegadamente terão sido trocadas entre Miguel Afonso e uma jogadora, que após este episódio terá mesmo decidido deixar de jogar futebol.
— Mariana Vaz Pinto (@marianavazpinto) September 29, 2022
“Esta miúda deixou de jogar futebol por causa deste homem e deste tipo de intimidação/assédio… é preciso dizer mais alguma coisa? Vamos continuar a fechar os olhos? @FCF_Feminino isto não foi suficiente para vocês afastarem o treinador e proteger o vosso clube e plantel?”, lê-se num dos tweets partilhados por Mariana Vaz Pinto.
Uma mulher de 26 anos, treinada por Miguel Afonso na equipa Bonitos de Amorim, nos arredores da Póvoa de Varzim, não se mostra surpreendida com as denúncias de alegado assédio sexual.
“Não me surpreende, de todo. Era o estilo dele. Não tenho mensagens, porque as apaguei, mas também chegou a tentar comigo”, confessa a antiga jogadora, em anonimato, ao jornal Record.
“O Miguel era um treinador que gostava de falar com todas as jogadoras, nem sempre nos termos mais corretos”, salienta. “Até hoje, é caso único na minha carreira”.
Daniel Costa, ZAP // Lusa
Perante estes factos provados, não será lata a mais desse treinador vir a público negar e defender-se do indefensável?