Portugal pode enfrentar, nos próximos anos, uma séria escassez de água, com as torneiras a ficarem efectivamente secas. O alerta é feito num estudo realizado pela Fundação Calouste Gulbenkian no âmbito do Dia Mundial da Água.
Até 2040, Portugal pode ter falta de água para as necessidades mais básicas, de acordo com o estudo “O uso da água em Portugal: olhar, compreender e actuar com os protagonistas-chave”.
Promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian e desenvolvido pelo C-Lab – The Consumer Intelligence Lab entre 2019 e 2020, a pesquisa foi apresentada nesta segunda-feira, no âmbito do Dia Mundial da Água.
“É urgente antecipar o risco de ter de gerir pouca água face às necessidades do país”, alerta a sub-directora do Programa Desenvolvimento Sustentável da Fundação Calouste Gulbenkian, Filipa Saldanha, a propósito do estudo, em declarações ao Eco.
Num cenário mais drástico, as torneiras podem mesmo ficar sem água.
As “ameaças à disponibilidade de água colocam em risco a nossa saúde e a nossa capacidade de produção de bens e serviços essenciais, incluindo alimentos”, alerta Filipa Saldanha.
“Num cenário de escassez de água, uma das áreas que ficaria desde logo comprometida seria a produção agrícola nacional e o grau de auto-suficiência alimentar de Portugal”, acrescenta, frisando que isso teria “implicações ao nível da criação de riqueza e geração de emprego”.
Portugal com “risco elevado” de falta de água
O estudo tem por base o ‘Water Exploitation Index’ da ONU e constata que a situação em Portugal “não é problemática”, embora aquele índice não incorpore o impacto das alterações climáticas e as projecções de consumo.
Contudo, há outros 33 países que vão enfrentar “riscos extremamente elevados de stress hídrico”, que ocorrem quando a captação de água para consumo é superior a 80% das disponibilidades médias anuais do país, segundo a análise do World Resources Institute para 2040.
Neste âmbito, destacam-se o Norte de África e o Médio Oriente.
Com um “risco elevado”, ou seja, quando o consumo de água está entre 40% e 80% das disponibilidades, são identificados 26 países, incluindo Portugal.
Por região, a zona abaixo do Tejo apresenta o nível máximo de risco “e é precisamente no Alentejo e no Algarve onde se registaram mais secas de maior dimensão e gravidade ao longo de todo o século XX”.
Agricultura é responsável por 75% do consumo de água
O setor agrícola é responsável por “75% do total de água utilizada” em Portugal, acima da média da União Europeia (24%) e mundial (69%), como denota o estudo da Calouste Gulbenkian.
Esta percentagem está em linha com o que se verifica nos países mediterrâneos, como Espanha (79%) e Grécia (81%), o que acontece devido à existência de regadio.
Nestas culturas, a rega vai substituir a falta de chuva e compensar o calor verificado nas estações quentes.
Em 2016, a área agrícola regada no país “correspondia aproximadamente à região do Algarve”, o equivalente a 5% do território nacional.
Contudo, a “agricultura de sequeiro ainda define a maioria da superfície utilizada para a agricultura em Portugal”.
Segundo a mesma análise, 71% dos agricultores não tem contador de água, sendo este recurso retirado, sobretudo, a partir de furos, charcas, poços e outras estruturas (56%).
As barragens públicas servem um terço da área regada, porém, “a barragem do Alqueva constituiu um grande contributo para a evolução do regadio nos últimos anos, correspondendo o Alentejo a cerca de metade da área regada do país”, indica ainda o estudo.
Os dados da investigação promovida pela Fundação denotam a pouca preocupação dos agricultores com a sustentabilidade e o uso eficiente da água, registando que apenas 30% adoptou tecnologia avançada para controlo da rega e gestão da água.
Filipa Saldanha destaca que é importante mudar este panorama, até porque são os agricultores “os principais interessados em encontrar soluções”.
O estudo também refere que 53% dos agricultores sentem que, actualmente, há menos água disponível.
Entre os agricultores que adoptaram novas tecnologias, a grande maioria (85%) garantiu poupar água.
Também 85% dos agricultores afirmaram gastar menor energia pela optimização da rega, enquanto 66% gastam menos fertilizantes e 77% ganham tempo utilizando o controlo pelo computador ou telemóvel.
ZAP // Lusa
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