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Comissão de vacinação não propôs professores. Falta vacinar 500 mil pessoas em maior risco

A decisão de incluir os professores e pessoal não docente entre os grupos prioritários acontece numa altura em que a vacinação das pessoas com mais de 80 anos e do grupo 50-79 com doenças de maior risco ainda não está concluída.

O Governo sempre disse que as escolas seriam as primeiras a desconfinar, o que se veio a confirmar, esta quinta-feira, quando o primeiro-ministro anunciou que, na próxima segunda-feira, voltam a abrir as creches, o pré-escolar e 1.º ciclo.

Para dar mais um sinal de segurança ao setor, o Executivo decidiu incluir os professores e funcionários não docentes entre os grupos prioritários para a vacinação contra a covid-19.

De acordo com o Ministério da Saúde, a vacinação dos “professores e auxiliares dos ensinos pré-escolar e primeiro ciclo, público e privado, deverá decorrer entre finais de março e início de abril”.

Só que, segundo o semanário Expresso, esta não é uma decisão consensual, sobretudo quando ainda se verifica uma escassez de vacinas e ainda não está finalizada a inoculação de todas as pessoas com mais de 80 anos e as que têm doenças consideradas de maior risco, com idades entre os 50 e os 79.

“Essa decisão não é uma recomendação da comissão técnica da vacinação contra a covid. Não existe evidência de que os professores apresentem maior risco de exposição do que alguns outros grupos profissionais que também têm pedido para o seu caso ser tido em consideração”, explicou ao jornal o professor de epidemiologia Manuel Carmo Gomes, membro desta comissão.

“Também não existe evidência de que os professores tenham maior risco de doença grave e morte do que as patologias consideradas para a 2ª fase de vacinação”, acrescentou, embora reconheça que esta questão deixará de ser um problema se as entregas das doses previstas começarem a aumentar.

Os números indicam que, do total de 670 mil pessoas com mais de 80 anos, há 47% que já foram vacinadas com a primeira dose (cerca de 311 mil). Para chegar à meta de ter 80% deste grupo vacinado com pelo menos uma dose até ao final deste mês faltam então 225 mil. E para ter todos imunizados são ainda necessárias 359 mil inoculações, explica o Expresso.

No caso das pessoas entre os 50 e os 79 anos, com as quatro doenças consideradas de maior risco, os números são ainda menos otimistas. São cerca de 400 mil pessoas e apenas 28% estão vacinadas. Ou seja, o que significa que receberam uma dose 112 mil e falta serem imunizadas 288 mil.

Com a retirada das restrições de idade relativamente à vacina da Astrazeneca, as autoridades de saúde estão confiantes de que se vai começar a ver “uma aceleração considerável do ritmo de vacinação”, sobretudo na faixa etária dos 65 aos 79 anos.

Carta aberta pede prioridade de pessoas com deficiência

Diversas personalidades assinaram uma carta aberta ao Governo e às autoridades de saúde para que as pessoas com deficiência sejam incluídas nos grupos prioritários de vacinação contra a covid-19, apontando que estão mais vulneráveis a riscos.

“Com esta carta apelamos a todos decisores políticos, em especial ao Governo de Portugal, à Direção-Geral de Saúde e ao Ministério da Saúde, para incluir as pessoas com deficiência nos grupos prioritários para receber vacinas contra a covid-19. A priorização das pessoas com deficiência na vacinação contra a covid-19, mais do que uma obrigação do Estado, é um sinal de humanidade e civilização”, lê-se na carta divulgada.

No documento, que tem como promotoras três mães de adultos com deficiência, defende-se que “a violação do princípio de proteção dos mais vulneráveis é um sinal flagrante da falência do Estado de Direito e uma negação dos valores que estiveram na fundação do Portugal democrático”.

A carta cita estudos científicos recentes para justificar a reivindicação, nos quais se aponta que “as pessoas com deficiência não só têm maior risco de ser infetadas como de morrerem devido à infeção”.

São referidos os riscos acrescidos para pessoas com deficiência intelectual, portadores de trissomia 21, doentes com perturbações do espetro do autismo, com paralisia cerebral ou doenças neuro-motoras, entre outros, que em consequência da deficiência têm uma menor capacidade de resposta imunitária ao vírus ou outras comorbilidades associadas que dificultam o combate à doença. A carta recorda que a Organização Mundial de Saúde colocou como objetivo principal na definição de critérios de prioridade prevenir mortes.

“A vacinação contra a covid-19 tem um papel essencial na preservação de vidas, especialmente no caso de pessoas em situação clínica de extrema vulnerabilidade. A inclusão de pessoas com deficiência nos grupos prioritários de vacinação é justificada não só por critérios científicos, mas também por critérios éticos de equidade e respeito pelos mais vulneráveis”, defendem os subscritores da carta aberta.

Entre os subscritores estão, por exemplo, vários médicos de diferentes especialidades, a reitora da Universidade de Évora, Ana Costa Freitas, a vice-reitora da Universidade Católica e ex-ministra da Educação, Margarida Mano, os autarcas de Loures e do Porto, Bernardino Soares e Rui Moreira, o embaixador António Martins da Cruz, os músicos Carolina Deslandes e Pedro Abrunhosa, para além de diversos professores universitários, advogados, jornalistas, escritores, artistas, empresários, desportistas e outros.

O ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, o ex-ministro José Pedro Aguiar Branco e a juíza conselheira do Supremo Tribunal de Justiça (ex-juíza do Tribunal Constitucional) Maria Clara Sottomayor também assinaram o documento.

Portugal alterou, esta semana, os critérios de prioridade para a vacinação, colocando, além dos professores e dos funcionários não docentes, os portadores de trissomia 21 nos grupos prioritários da primeira fase do processo.

ZAP // Lusa

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