Poucos dias depois de se saber que Yasser Arafat foi envenenado, o mistério de quatro décadas sobre se o poeta chileno Pablo Neruda foi envenenado foi aparentemente esclarecido esta sexta-feira, quando exames forenses mostraram que não há agentes químicos nos seus restos mortais.
Apesar disso, a família e o motorista do vencedor do prémio Nobel da Literatura não ficaram satisfeitos e afirmaram que iriam pedir mais exames.
Neruda morreu sob circunstâncias suspeitas durante o caos que se instalou no país com o golpe militar de 1973. A versão oficial diz que morreu de cancro, mas o motorista e auxiliar do poeta afirma que agentes da ditadura de Augusto Pinochet injectaram veneno no estômago de Pablo Neruda quando o poeta se encontrava internado na clínica Santa Maria, em Santiago. O corpo do poeta foi exumado em abril com o objetivo de determinar a causa da sua morte.
“Nenhuma substância química relevante foi encontrada que possa ser ligada à morte de Neruda”, afirmou Patricio Bustos, chefe do serviço de medicina legal do Chile, enquanto lia os resultados dos sete meses de investigação realizada por um grupo de 15 cientistas forenses.
Bustos afirmou que os especialistas encontraram traços do medicamento usado pelo poeta para tratar o cancro, mas não há evidências forenses que comprovem que a morte de Neruda tenha sido provocada por qualquer causa que não tenha sido natural.
Porém, o resultado não satisfez familiares e amigos de Neruda, que afirmam que o caso ainda não foi solucionado. “O caso de Neruda não se encerra aqui”, afirmou o advogado do Partido Comunista chileno, Eduardo Contreras. “Hoje mesmo vamos requerer mais amostras. Eles procuraram agentes químicos, mas não foram feitos estudos sobre agentes biológicos. Um capítulo muito importante foi encerrado e isso foi feito com muita seriedade, mas isso não está acabado.”
Neruda, que ganhou o prémio Nobel da Literatura em 1971, é mais conhecido pelos seus poemas, mas foi também diplomata e político de esquerda, além de amigo próximo do presidente socialista Salvador Allende, que morreu durante o cerco ao palácio de La Moneda, no dia do golpe militar liderado por Pinochet.
Allende teria cometido suicídio no interior do palácio presidencial, mas a questão também é controversa e há suspeitas de que foi assassinado pelas forças do golpe.
ZAP / MA/AE/Associated Press.