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Joaquim já foi pescador. Agora, transforma lixo em obras de arte

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Arménio Belo / Lusa

Raízes ou troncos de árvores, chapas de ferro ou zinco, tachos e panelas velhas, tudo serve para dar forma às esculturas que Joaquim Pires, ex-pescador, vai criando num atelier improvisado, em casa, no Cabedelo, em Viana do Castelo.

Joaquim Pires, um ex-pescador de Viana do Castelo, dedicou 42 anos à pesca do bacalhau, mas era a “ânsia de dar nova vida a materiais que já ninguém queria” que lhe “ocupava a mente” durante “a vida escrava no mar”.

Há dois anos chegou a reforma e a possibilidade de “passar os dias a dar largas às ideias que lhe assaltam a cabeça”. “Há alturas que nem consigo dormir. Surge-me uma ideia para fazer uma peça e levanto-me da cama para ir procurar um tronco de árvore ou uma velharia que alguém deitou fora e fazer nascer o que me está a martelar na cabeça”, contou o autodidata de 66 anos.

Da faina diz não ter saudades, por ser uma atividade “muito dura” que não escolheu, antes “herdou do pai e do avô”. Já as horas que passa “às voltas com as esculturas, não se sente a passar”.

“Estou aqui entretido com as minhas obras e as minhas ferramentas. Um formão, as lixas, a motosserra e a navalha. Só isso basta para fazer as minhas peças”, afirmou enquanto dá forma aos flamingos e às garças que está a esculpir em pedaços de madeira. Pedaços de baldes velhos de tinta servem de asas e galhos finos fazem de pernas e pescoço das aves.

Parte do material recolhe durante as caminhadas que faz pela praia do Cabedelo mas há outras “velharias” que os amigos lhe vão arranjando, “sabedores da veia de artista”.

Dependendo da forma de cada material, assim nascem serpentes, crocodilos, imagens religiosas, helicópteros, aviões, entre muitas outras peças, a que já perdeu a conta.

O ateliê de zinco, que ergueu nas traseiras da casa prefabricada, onde vive há 42 anos, na Senhora das Areias, junto ao porto de mar de Viana do Castelo, na margem esquerda do rio Lima, foi ficando “pequeno” para guardar a criatividade de Joaquim.

No bairro onde vive, criado há mais de quatro décadas para os pescadores de Darque, todos lhe conhecem a faceta de artista. Já quem passa pela avenida, em frente à casa, é alertado pelas duas enormes antenas parabólicas, enfeitadas com motivos ligados ao mar, colocadas no portão da entrada da habitação.

Iam deitá-las fora. Eu pintei-as e enfeitei-as com um barco, os peixes, as gaivotas. Tudo ligado à pesca”, especificou.

Ao lado, no café onde passa algum tempo, tem expostas algumas peças, uma cortesia do proprietário para o “ajudar nas vendas”. “Não peço muito dinheiro pelos meus trabalhos. É só para compor a reforma”, referiu, lamentando a falta de divulgação do seu trabalho: “Estou um pouco escondido aqui”, desabafou.

Joaquim já fez “duas exposições em Lisboa, outras tantas no Porto, em Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira”. “Em 2016 participei, a convite do senhor Agostinho Santos, na Bienal de Arte de Cerveira”, destacou orgulhoso, referindo-se ao artista plástico e jornalista, natural de Vila Nova de Gaia.

A exposição, intitulada “Imaginário”, esteve patente no Fórum Cultural de Vila Nova de Cerveira com as “interpretações plásticas” de Joaquim Pires e Agostinho Santos.

No mesmo ano, os Antigos Paços do Concelho de Viana do Castelo acolheram a mostra “O escultor de memórias e de sonhos”, onde tratou os valores culturais locais e regionais, traduzindo e representando o universo em que vive, as crenças e costumes.

// Lusa

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2 Comments

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