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Estado de Malta responsabilizado pela morte da jornalista Daphne Caruana Galizia

Ethan Doyle White / Wikimedia

O Estado de Malta “deve assumir a responsabilidade” pelo assassínio da jornalista, devido à cultura de impunidade promovida pelas mais altas esferas do Governo. 

Um inquérito independente sobre a morte da jornalista Daphne Caruana Galizia, que fez parte da investigação designada “Panama Papers”, divulgado esta quinta-feira, concluiu que o Estado de Malta “deve assumir a responsabilidade” pelo assassínio devido à cultura de impunidade promovida pelas mais altas esferas do Governo.

A família de Caruana Galizia moveu um inquérito sobre o atentado à bomba em 16 de outubro de 2017 que destruiu o carro que conduzia em Malta, perto de sua casa, e que vitimou a jornalista. O assassínio neste país da União Europeia (UE) suscitou uma profunda indignação na pequena ilha mediterrânica e pela Europa.

O inquérito concluiu não existirem provas de um envolvimento direto do Estado no assassínio, mas refere que o Estado “tem de assumir a responsabilidade (…) por fomentar uma atmosfera de impunidade, proveniente das mais altas esferas no centro da administração do [gabinete do primeiro-ministro], como um polvo, que se estende a outras entidades, como as autoridades reguladoras e a polícia, motivando o colapso do Estado de direito”.

O relatório diz que o Estado e as suas entidades falharam em não reconhecer o risco de vida de Caruana Galizia devido às ameaças que recebia, e também fracassou em não adotar medidas para evitar esse risco.

Yorgen Fenech, um importante empresário com ligações a diversos responsáveis governamentais, é indicado pelos procuradores como sendo o mentor do crime. Declarou-se não culpado das acusações de alegada cumplicidade na morte e de organizar e financiar o atentado.

Três homens foram acusados de terem perpetrado o ataque, dois ao fornecerem os explosivos e um terceiro por ter servido de intermediário e estão a ser julgados. Um dos acusados já admitiu o seu envolvimento no ataque.

O antigo primeiro-ministro de Malta, o social-democrata Joseph Muscat, demitiu-se no final de 2019 na sequência de amplos protestos que exigiam a verdade sobre o assassínio da jornalista de investigação, e cujas reportagens questionavam o Governo de Muscat mas também a oposição.

O relatório também emite uma série de recomendações para um reforço das leis e uma melhor proteção aos jornalistas em Malta.

O primeiro-ministro Robert Abela apelou a uma “análise matura” do relatório “para além dos argumentos partidários”. “As lições devem ser apreendidas e as reformas devem prosseguir com grande determinação”, disse Abela através de uma declaração num ‘media’ social.

// Lusa

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