No seu habitual espaço de opinião na SIC, Luís Marques Mendes considerou este domingo que o Estado está bem — a Nação é que está mal.
O comentador Luís Marques Mendes considerou este domingo no seu espaço semanal na SIC que “vivemos um tempo muito desigual”, porque o Estado está bem, mas a Nação está mal.
“O Estado está bem porque está cheio de dinheiro. Nunca teve tanta liquidez. Nesse plano, vivemos uma situação excecional”, diz Marques Mendes.
Mas, diz o comentador, “a Nação vive com sérias dificuldades, sobretudo a classe média e os sectores mais carenciados”
Mesmo assim, há que fazer distinções, considera o ex-ministro: “nem tudo corre bem, como diz o Governo. Nem tudo é um desastre, como conclui a oposição”.
Entre os aspetos positivos, Marques Mendes aponta a redução da inflação e da dívida em % do PIB, cujo mérito atribui ao Ministro das Finanças, e o crescimento das exportações— que diz, é mérito das empresas.
Já os aspetos negativos da atual governação, diz Luís Marques Mendes, têm todos a ver com a vida das pessoas: o aumento do custo de vida, “culpa” sobretudo da inflação, a subida dos juros e a falta de casas para arrendar, o corte real de 4% nos salários e a maior carga fiscal de sempre, penalizadora de pessoas e empresas.
“Em 2022, tivemos a maior carga fiscal de sempre (36,4%). A seguir à 2ª maior de sempre, em 2021 (35,3%). A seguir à 3ª maior de sempre, em 2020 (35,2%). Um Governo campeão na carga fiscal!”, salienta Marques Mendes.
Quem ganhou o debate do Estado da Nação
Marques Mendes considera que o primeiro-ministro ganhou o debate sobre o Estado da Nação no Parlamento, apesar de o líder parlamentar do PSD, Miranda Sarmento, “ter estado muito melhor” do que em debates anteriores.
António Costa “passa melhor na televisão, que no Parlamento”, diz o comentador. “A questão é: como é que o primeiro-ministro ganha o debate, estando o Governo em má fase e em queda nas sondagens?”, interroga-se.
O antigo líder do PSD considera que nestes debates, “os primeiro-ministros ganham sempre. Ganha António Costa, como antes ganhava Passos Coelho e antes ganhava José Sócrates. Este modelo de debates favorece muito quem é Primeiro Ministro”.
Segundo Marques Mendes, “o primeiro-ministro é muito bom na retórica parlamentar e na habilidade política. Essa é a sua grande praia. Nesse plano, ele é quase imbatível”.
“Mas não tenhamos ilusões“, diz o comentador. “a retórica parlamentar cada vez diz menos às pessoas. E a maioria dos Portugueses não está feliz. Nem com o estado da Nação. Nem com o estado do Governo”.
Segundo Marques Mendes, a remodelação é o novo D. Sebastião da política nacional. “Cerca de três quartos dos portugueses querem uma remodelação. Até dentro do PS é desejada”.
Mas, salienta, a remodelação “é uma arma de dois gumes. Se houver bons nomes gera uma boa impressão. E se não houver nomes fortes? E se os nomes fortes não aceitarem ir para o governo? Aí dá-se o anti-clímax. Muita expectativa a que se segue muita desilusão. Uma escolha difícil”.
Desaparecida em combate
Em relação à recente polémica à volta do Ministério Público, despoletada pelas buscas em casa de Rio Rio e nas instalações do PSD, Marques Mendes considera que a Procuradora-Geral da República está desaparecida em combate.
“Ao que parece, Lucília Gago está mesmo de férias. Mal, muito mal“, diz Marques Mendes. “Já devia ter falado. Como escreveu no Público o Juiz Desembargador Manuel Soares, presidente da ASJP, “uma ação deste melindre deve ser previamente preparada e imediatamente explicada“.
“Uma vez que não deu uma explicação pública, a PGR tem toda a gente contra si: de um lado, os magistrados do MP que consideram que a PGR não os defende; do outro lado, políticos que acham que o MP extravasou as suas competências“, diz o comentador.
“Há silêncios muito inconvenientes”, realça.
“Este silêncio é lamentável, mas não me surpreende”, salienta Marques Mendes. Há 5 anos discordei publicamente da sua nomeação. Esta magistrada tem independência, mas não tem qualquer capacidade de liderança“.
“Com todo o respeito, é uma inexistência. Espero que daqui a um ano, o primeiro-ministro e o presidente da República tenham mais talento do que tiveram há 5 anos” na escolha do novo Procurador Geral da República, conclui Luís Marques Mendes.