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Escola do Porto vai acolher 4 crianças da Ucrânia: “Os meninos daqui já aprendem ucraniano”

Chapim Azul

Duas para o primeiro ciclo, duas para os grupos da fase pré-escolar: “Aqui não estamos a falar da guerra. Estamos a falar da paz”.

“Vai ser uma experiência interessante para todos os grupos”. É assim que Inês Moreira da Silva, fundadora e directora da Chapim Azul, antevê a chegada e a integração de quatro crianças que fugiram à guerra na Ucrânia.

Ainda não há data definida mas a chegada de duas meninas já está garantida: uma que já tem toda a documentação pronta e que vai entrar em breve; a outra chegará a Portugal no próximo sábado e vai ser integrada quando o processo burocrático estiver concluído.

A ideia foi da própria directora desta escola no Porto, quando se apercebeu que as crianças mais crescidas do primeiro ciclo começaram a ficar preocupadas; e as educadoras também. “As crianças começaram logo a escrever no diário que queriam juntar coisas para enviar para a Ucrânia”, relata, em entrevista ao ZAP.

Na sexta-feira seguinte, numa reunião online (a directora esteve em casa durante a primeira semana da guerra devido à COVID-19), abordou a situação: “Falei com todos e disse que, de facto, a guerra está a acontecer mas temos que olhar para o que cada um de nós pode fazer para atingirmos a paz. Temos sempre alguém que precisa da nossa ajuda, seja na Ucrânia, seja na rua aqui ao lado. Neste momento são os meninos da Ucrânia” – e foi aí que começaram a juntar alimentos.

Depois, a decisão de acolher crianças vindas da Ucrânia: “Pensei: isto também é minha responsabilidade. O que podemos fazer? Isto é o que posso fazer: receber as crianças. Perguntei ao conselho pedagógico se tem noção do desafio que vem aí. Porque não sabemos que crianças vão chegar; podem chegar crianças traumatizadas. O conselho pedagógico reuniu e aceitou muito bem, toda a gente tem vontade de abraçar este projecto, que não vai ser tão fácil como parece: haverá ginástica, adaptação, preparação da língua…”, elencou.

Comunicação e cidadania

Entretanto, as crianças que frequentam a Chapim Azul estão “excitadíssimas” e, por vontade própria, já estão a aprender ucraniano.

Inês Moreira da Silva falou precisamente sobre a adaptação ao idioma ucraniano, partindo do princípio que nenhuma das novas crianças fala português: “No nosso segundo ano de existência recebemos meninos da Estónia, que só falavam o idioma do seu país. Já na altura foi um grande desafio e saíram daqui a falar português após dois anos”.

“Temos quadros de comunicação aumentativa. As imagens facilitam a comunicação nos primeiros tempos. E os meninos já estão a aprender palavras básicas em ucraniano e que eles próprios, depois, vão ensinar aos professores”, contou.

“Isto é uma aprendizagem real da cidadania activa. A prática de cidadania está toda escrita, mas não chega. Este é um momento importante”, partilhou a directora.

Falar sobre guerra…e paz

Voltando ao assunto que origina esta novidade, houve uma conversa com as crianças da escola logo nos primeiros dias do conflito. Porque a preocupação reinava: “Na primeira semana elas andavam preocupadas e conversámos sobre isso. Tivemos um momento só sobre a guerra, incluindo o serviço de psicologia. A tónica foi centrada nos refugiados. As crianças estavam a pôr-se na pele dos meninos que agora estão a fugir“.

“E ficaram todos contentes quando perceberam que podiam ajudar, ao enviar coisas. Até já completámos a segunda angariação”, continuou.

Agora, o foco na escola é outro: “Não estamos a falar da guerra. Estamos ao contrário: a falar da paz. Temos falado sobre o que podemos fazer para contribuir para a paz, lá fora e até cá dentro da escola. E agora a preocupação deles é aprender ucraniano; e todos os dias perguntam quando chegam as crianças novas“.

A direcção já comunicou às autoridades que a escola está disponível para receber quatro crianças. “Avisaram que não há subsídios, mas eu não pedi nada. Sei que vamos ser nós a ter os custos“, comentou.

E, no momento de falar com a DGEstE – Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, teve a indicação de que (pelo menos naquele dia) a Chapim Azul era a única escola do ensino privado a tomar esta iniciativa.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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