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Abusos físicos, psicológicos e sexuais. Prestigiada Escola de Ballet de Viena encorajava crianças a fumar para ficarem magras

A prestigiada Escola de Ballet State Opera de Viena, na Áustria, uma das mais conceituadas do mundo, está envolvida num escândalo que envolve abusos físicos, psicológicos e sexuais sobre jovens com idades que vão dos 10 aos 18 anos. Entre as denúncias está o facto de alguns professores encorajarem os estudantes a fumarem para permanecerem magros.

Esta é uma das conclusões da investigação que foi ordenada pelo Governo depois das denúncias feitas na reportagem de uma revista austríaca em Abril passado. A publicação ouviu actuais e antigos estudantes que falam em diversos tipos de abusos, queixando-se de que alguns professores praticam “métodos do Século 19”.

Segundo estes testemunhos, os jovens bailarinos eram agredidos, pontapeados, arranhados até sangrar, puxados pelos cabelos e humilhados devido à sua aparência física, sobretudo com referências ao peso, o que levava alguns a desenvolverem distúrbios alimentares como anorexia e bulimia.

Foi esse o caso de uma antiga estudante, actualmente com 19 anos, que contou à revista que alguns professores da Escola atacavam verbalmente os alunos, especialmente com referências ao seu peso. “Diziam coisas como ‘És muito gorda, só devias beber água e comer ananás durante o fim-de-semana’”, relatou, realçando que a cada performance que tinham, uma professora dizia que precisavam de “perder 4 quilos” porque o palco os fazia “parecer mais gordos”.

Outra jovem que começou a ter aulas na Escola com apenas 6 anos de idade e que desistiu duas semanas antes dos exames finais, por não conseguir “aguentar mais”, relatou também que quando tinha 14 anos, uma professora lhe pontapeou o tornozelo com tanta força que sofreu lesões nos ligamentos que a obrigaram a dois meses de paragem.

A antiga director da Escola, Jolantha Seyfried, fala de uma “mentalidade de escravidão” e uma antiga estudante, agora com 20 anos, diz que uma vez uma professora a pontapeou como se fosse “uma bola de futebol”.

A Comissão de Investigação concluiu que muitas destas acusações têm fundamento e considerou ainda que a Escola não oferece os cuidados médicos suficientes aos estudantes e que há um “desrespeito” pelo seu bem-estar.

“É claro que as crianças e adolescentes não são suficientemente protegidos contra discriminação, negligência e efeitos médicos negativos”, refere o relatório com as conclusões finais.

No documento, nota-se ainda que os estudantes eram aconselhados a fumarem para permanecerem magros e que eram tratados pelos primeiros nomes e pelo tamanho das roupas.

A Comissão refere que não há controle sobre o excessivo treino dos jovens e conclui que isso pode colocar “em perigo o seu bem-estar”.

O relatório considera também que o director da State Opera, o francês Dominique Meyer que esteve à frente da Academia durante cerca de uma década e que está de saída para se tornar no director do Teatro Scala de Milão, falhou no seu papel de supervisão.

Dominique Meyer já admitiu que “aconteceram coisas que não são aceitáveis” na Academia e disse que uma das professoras se tinha portado “muito mau”. Esta professora, que será de origem russa, já terá sido dispensada e, segundo alguns antigos alunos, terá imposto na Escola de Viena um regime de “exercícios de estilo soviético”.

Outro professor da Escola está suspenso após ter sido acusado de abuso sexual por um estudante de 16 anos. O Ministério Público austríaco está a investigar a denúncia.

Entretanto, a direcção da Academia já reagiu às conclusões da Comissão de Investigação, notando que num inquérito interno, detectou “incidentes muito desagradáveis que são completamente intoleráveis” e que lamenta “profundamente”. Num comunicado, a Academia refere ainda que está a procurar desenvolver “um ambiente de trabalho positivo, de confiança, respeitoso e saudável” e a implementar “reformas significativas em várias áreas”.

Algumas das medidas anunciadas foram a redução do número de performances dos estudantes, a inclusão de uma cadeira sobre nutrição e imagem corporal e a contratação de psicólogos para apoiar os estudantes.

A Comissão de Investigação já considerou as medidas insuficientes. E o ministro da Cultura da Áustria, Alexander Schallenberg, pediu acções urgentes.

Criada em 1771, a Escola de ballet State Opera de Viena é uma das mais prestigiadas da Europa, atraindo jovens de todo o mundo. Acolhe cerca de 100 estudantes com idades entre os 10 e os 18 anos e os seus alunos acabam por integrar algumas das mais conceituadas companhias do mundo, como a Royal Ballet de Londres, o American Ballet Theatre de Nova Iorque e o Teatro Mariinsky de São Petersburgo.

SV, ZAP //

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