O coordenador do plano de vacinação contra a covid-19 deu uma entrevista à SIC, esta quinta-feira, na qual abordou as próximas fases deste processo, mas também o seu futuro que, assegura, não passará pela política.
Nesta entrevista, o vice-almirante Henrique de Gouveia e Melo foi confrontado com várias dúvidas de pais, que se encontram de férias e que questionavam se seria possível os filhos serem vacinados fora da sua área de residência.
“Em princípio, não. E porquê? Porque nós não conseguimos fazer um processo [de vacinação] que ande atrás das férias dos portugueses. (…) O que nós esperamos é que os pais tenham a oportunidade, ou antes ou depois, de vacinar os seus filhos e por isso demos dois fins-de-semana. Teremos em aberto outras soluções que vierem a ser consideradas, mas sempre dentro da área de residência”, explicou.
Questionado sobre a possibilidade de os menores se dirigirem aos centros de vacinação sem o conhecimento dos pais, o coordenador da task force esclareceu que estes não serão vacinados sem estarem acompanhados por um responsável.
“Todos estes jovens têm de aparecer acompanhados por um responsável no centro de saúde para poderem ser vacinados”, afirmou.
Relativamente à luz verde da DGS para vacinar os jovens dos 12 aos 15 anos, Gouveia e Melo rejeitou que tenha havido pressões suas nesse sentido.
“Acho que a doutora Graça Freitas já tomou atitudes muito corajosas e não a acho nada pressionável, pelo contrário. (…) A DGS usou todo o tempo que tinha para decidir, as decisões antes do tempo não servem para nada”, declarou.
Na mesma entrevista, o coordenador da task force abordou o facto de ainda haver pessoas que não querem ser vacinadas, admitindo que pode haver um “clima infundado” de receio mas destacando também a vacinação veio “reduzir imenso a mortalidade”.
“Não há dúvida de que o processo de vacinação veio reduzir imenso a mortalidade. (…) Se olharmos para as mortes em janeiro e as que temos agora, a diferença deve-se essencialmente à vacinação”, afirmou.
Quanto à possível necessidade de uma terceira dose da vacina, o vice-almirante admitiu que, neste momento, ainda “não estamos preparados” para esta situação e destacou que a DGS é que vai tomar essa decisão. Contudo, o responsável destaca que, se isso acontecer, haverá vacinas suficientes.
“Se houver uma missão para dar a terceira dose, logo pensaremos que recursos são necessários”, declarou.
Questionado por Rodrigo Guedes de Carvalho sobre os processos relacionados com os casos de vacinação indevida, Gouveia e Melo adiantou que muitos já passaram à fase de inquérito e disse acreditar que “a justiça será feita, mesmo que venha um pouco atrasada”.
Sobre o facto de, na altura, ter ficado um bocado “irritado” com estes casos, o vice-almirante explicou que, pela ética militar que lhe é inerente, gosta de “pessoas transparentes e que cumprem regras”.
“Numa situação em que estavam a morrer pessoas e que havia falta de vacinas, qualquer alteração às prioridades era uma coisa grave e, nesse sentido, irritava-me e continua a irritar-me”, admitiu.
No final da entrevista, questionado sobre quando é que termina a sua missão, Gouveia e Melo garante que, neste momento, está focado “até ao último dia” e que quem determina isso é o poder político e as Forças Armadas.
“Não faço pressão para terminar mais cedo ou mais tarde, não me compete fazer essa pressão. O poder político decidirá na altura certa quando é que deveremos abandonar este barco e passar para outro”, declarou.
E, depois disso, o vice-almirante irá voltar ao seu quotidiano anónimo? A resposta foi clara.
“As pessoas podem tentar tirar-me desse quotidiano anónimo, mas que eu vou tentar voltar a ele depois disto, vou tentar. Sou militar, tenho as minhas funções militares, estive muito exposto nesta fase, mas não tenho nenhuma veia política. Gosto da minha profissão, toda a minha vida fui militar e espero acabar a minha vida profissional enquanto militar”, concluiu.