Bioazulejos enrugados, inspirados numa forte habilidade dos elefantes e feitos de cogumelos-ostra, reduziram a absorção de calor em 25% em comparação com telhas lisas.
O que é que é feito de cogumelos e de “pele” de elefante?
Provavelmente não adivinharia, mas são azulejos biológicos, que prometem arrefecer edifícios… sem eletricidade.
As inovadoras peças de fachada foram criadas por cientistas de Singapura para responder a um planeta cada vez mais quente, com sistemas de arrefecimento cada vez mais caros e onde os edifícios contribuem com quase 40% das emissões relacionadas com a energia. Os azulejos desenvolvidos pela equipa da Universidade Tecnológica de Nanyang imitam a notável gestão do calor da pele dos elefantes para arrefecer espaços interiores sem recurso a qualquer fonte de eletricidade.
A pele enrugada do maior animal terrestre do mundo (que não têm glândulas sudoríparas) mantém-no relativamente fresco em ambientes quentes e húmidos como o da savana. São as suas profundas rugas que aumentam a área de superfície da pele e ajudam a reter mais água. Mais evaporação liberta o calor e mantém o gigante mamífero arrefecido entre as ondas de calor.
“Bolo” saiu fresquinho do forno
Tal como os elefantes, as telhas singapurianas parecem “velinhas”. Mas o ingrediente secreto é o cogumelo-ostra.
Os cientistas cultivaram o micélio (uma espécie de raiz que os fungos usam para crescer) do Pleurotus ostreatus e misturaram-no com aparas de bambu, aveia e água.
Este “bolo” orgânico foi depois prensado em moldes hexagonais com uma textura semelhante à da pele de elefante. Durante as duas semanas seguintes, os fungos colonizaram o material para dar origem a uma estrutura sólida e porosa. Após outro período de maturação, os azulejos foram levados ao forno para secar e ganharem forma permanente.
Do forno saiu uma telha leve e biodegradável com uma superfície naturalmente enrugada, que não só isola, mas também melhora o arrefecimento, garantem os investigadores em estudo publicado na Energy & Buildings.
Segundo o estudo, os testes mostraram que os “azulejos de elefante” reduziram a absorção de calor em 25%, em comparação com as telhas lisas. E também aqueceram mais lentamente — 5,01°C por minuto, face aos 5,85°C das versões lisas. O azulejo de cogumelo também libertou o calor de forma mais eficiente: arrefeceu a uma taxa de 4,26°C por minuto, em comparação com 3,56°C para o azulejo liso. Mas faltava saber como é que o material biológico respondia à chuva.
A chuva simulada aumentou a pique a perda de calor, com taxas de arrefecimento a subirem 70% para 7,27°C por minuto. Agradeça-se, aqui, aos cogumelos, que conseguem repelir água e manter as gotículas na superfície, explicam os investigadores.
“A pele fúngica que se desenvolve na superfície do azulejo repele a água, permitindo que as gotículas permaneçam na superfície em vez de saírem imediatamente”, explicou Eugene Soh, autor principal do estudo, ao ZME Science: “isto promove o arrefecimento por evaporação”.
Apesar de tudo, a equipa admite: a indústria nunca aceitaria um “biotijolo” que demore três a quatro semanas a produzir. É um aspeto a melhorar, bem como a confiança no micélio, que é quase nula.