As boas notícias no crédito à habitação devem ser encaradas com cautela e prevendo para um futuro próximo menos risonho.
O crédito à habitação continua a dar boas notícias aos portugueses: em Agosto a prestação da casa vai descer no máximo 124 euros.
Num empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, com um spread (margem comercial do banco) de 1%, nos contratos Euribor a 12 meses a descida será a tal de 124 euros, comparando com a mensalidade de há um ano.
Nos empréstimos com Euribor a 6 meses, a descida em relação a Fevereiro deste ano será de cerca de 47 euros.
A descida menor será nos contratos a 3 meses: menos 22 euros comparando com os números de Maio.
Mas…
…esta descida não vai durar sempre. Nuno Rico, especialista da DECO-PROteste, avisa que esta tendência deve prolongar-se até Setembro. A partir de Outubro, “quem tem maturidades de contratos mais curtas – nomeadamente de Euribor a 3 meses – pode ter descidas mínimas ou eventualmente pequenas subidas”.
Nesta entrevista à Executive Digest, Nuno reforçou a ideia de incerteza no mercado, mas deixou um aviso mais importante: o endividamento das famílias está muito alto. Aliás, tem os números mais elevados dos últimos 14 anos.
É melhor fazer muito bem as contas: “Este é um período importante para prevenir eventuais subidas no futuro: aproveitar esta poupança que está a ser gerada pela descida das taxas de juro e amortizar, ou preparar – pôr o dinheiro de parte – uma amortização mais para a frente quando as taxas voltarem a subir e aliviar o impacto da subida dos juros. Quem vai ao mar tem de se preparar em terra”.
Mas esta também está a ser uma fase em que as famílias “estão a endividar-se em montantes significativos”, reforça.
“Qualquer subida que vá acontecer nos próximos meses, mesmo que pequena, terá um impacto significativo nas prestações”, avisou Nuno Rico.
Nesta altura, “qualquer variação traduz-se rapidamente numa subida de 150 ou 200 euros na prestação. Isso pode trazer dificuldades às famílias, que muitas já estão a contratar no limite da sua taxa de esforço”.
Por isso, é melhor encarar estas descidas com cautela e com antecipação: “Olhando para este cenário, a partir do próximo ano, mantendo-se esta tendência ou até numa pequena subida [nas taxas de juro], para quem tem estes níveis de endividamento poderá ser muito complicado”.
“Se se juntar um cenário de estagnação económica com a natural consequência nos rendimentos e nas taxas de desemprego, poderá deixar muitas famílias com a corda na garganta”, concluiu Nuno Rico.