Também quero ser fixe. O que devo fazer?

Alejandro Ernesto / EPA

De Viana do Castelo a Vila Real de Santo António. Do Rio de Janeiro a Pequim. As pessoas querem ser fixes. “Fixe” é uma palavra que ouvimos em todo o lado – na música, na moda, nas redes sociais… Mas, afinal, o que é isto de ser fixe?

Um estudo publicado recentemente no Journal of Experimental Psychology tentou perceber o que torna uma pessoa fixe.

Será que se trata apenas de ser popular ou estar na moda? Ou há algo mais profundo?

O estudo propõe-se a responder a uma pergunta simples, mas surpreendentemente inexplorada. “Quais são os traços de personalidade e os valores que fazem alguém parecer fixe – e será que diferem entre culturas?”

À margem desta investigação, foi pedido a quase 6.000 pessoas de 12 países (Austrália, Chile, China, Alemanha, Índia, México, Nigéria, Espanha, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia e Estados Unidos) que pensassem em alguém que conhecessem pessoalmente e que fosse “fixe”, “não fixe”, “bom” ou “mau”.

Depois, pediu-se que descrevessem as caraterísticas e os valores dessa pessoa utilizando medidas psicológicas validadas.

Os dados mostraram que o que torna uma pessoa fixe está associada, em exclusivo, às mesmas seis caraterísticas em todo o mundo: as pessoas mais fixes tendem a ser extrovertidas, hedonistas, aventureiras, abertas, poderosas e autónomas.

Uma breve história sobre ser fixe

Os primeiros escritos sobre ser “cool” (expressão em inglês) descreviam-na como uma contenção emocional: estar calmo, composto e sem preocupações.

O que faz sentido, visto que “cool”, traduzido à letra, pode significar frieza.

Esta perspetiva, enraizada na metáfora da temperatura e da emoção, via a ser “cool” como um sinal de auto-controlo e domínio.

Alguns destes estudiosos atribuem esta forma de ser “cool” à escravatura e à segregação, em que a contenção emocional era uma estratégia de sobrevivência entre os africanos escravizados e os seus descendentes, simbolizando autonomia e dignidade face à opressão.

Mas outros propõem que a contenção “cool” existia muito antes da escravatura.

Seja como for, os músicos de jazz da década de 1940 ajudaram a popularizar esta personalidade “cool” – descontraída, emocionalmente contida e com estilo – uma imagem mais tarde adotada pela juventude e por várias contraculturas.

Empresas como a Nike, a Apple e a MTV comercializaram o “cool”, transformando uma atitude contracultural numa estética global mais comercial.

Isto é o que torna alguém fixe

Os resultados do novo estudo sugerem que o significado de “fixe” mudou. É hoje uma forma de identificar e rotular pessoas com um perfil psicológico específico.

As pessoas fixes são sociais: extrovertidas.

Procuram o prazer e a diversão: hedonistas.

Assumem riscos e experimentam coisas novas: aventureiras.

São curiosas e abertas a novas experiências: abertas.

Têm influência ou carisma: poderosas.

E, talvez acima de tudo, fazem as coisas à sua maneira: autónomos.

Estas seis características-chave mantiveram-se notavelmente estáveis em todos os países onde o estudo incidiu.

Também se descobriu que, embora ser fixe se sobreponha ao facto de ser bom ou favorável, ser fixe e ser bom não são a mesma coisa.

Por exemplo, ser gentil, calmo, tradicional, seguro e consciencioso estava mais associado a ser bom do que a ser fixe.

Além disso, algumas caraterísticas “fixes” não eram necessariamente boas.

Ser fixe também é inspiração

O facto de tantas culturas concordarem sobre o que torna alguém fixe sugere que o “fixe” pode ter uma função social partilhada. As caraterísticas que tornam as pessoas fixes podem torná-las mais propensas a experimentar coisas novas, a inovar novos estilos e modas e a influenciar os outros.

Estes indivíduos ultrapassam frequentemente os limites e introduzem novas ideias – na moda, na arte, na política ou na tecnologia. Inspiram os outros e ajudam a moldar o que é visto como moderno, desejável ou com visão de futuro.

Ser “cool”, neste sentido, pode funcionar como uma espécie de marcador de estatuto cultural – uma recompensa por ser ousado, aberto e inovador.

Não se trata apenas de um estilo superficial. Trata-se de sinalizar que se está à frente da curva e que os outros devem prestar atenção.

O que aprendemos com isto de ser fixe?

Em primeiro lugar, os jovens de todo o mundo podem ter mais em comum do que muitas vezes pensamos. Apesar das enormes diferenças culturais, tendem a admirar as mesmas caraterísticas. Este facto abre possibilidades interessantes de comunicação, colaboração e influência interculturais.

Em segundo lugar, se quisermos estabelecer uma ligação com os outros ou inspirá-los – seja através da educação, da marca ou da liderança – é útil compreender o que as pessoas consideram fixe.

O “fixe” pode não ser uma virtude universal, mas é uma moeda universal.

E, finalmente, há algo de reconfortante em tudo isto: ser fixe não tem a ver com ser famoso ou rico. Tem a ver com a forma como se vive. É curioso? Corajoso? Fiel a si próprio? Se assim for, é provável que alguém o ache fixe – independentemente da sua origem.

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