O Ártico está a aquecer quatro vezes mais depressa do que o resto do mundo e, em algumas áreas, chega a ser sete vezes mais.
Estes valores foram calculados através de uma nova investigação, realizada por um grupo de cientistas climáticos noruegueses.
Este efeito, chamado “amplificação do Ártico“, está bem documentado, embora o novo estudo, publicado a 11 de agosto na communication nature & environment, descubra que a região está a aquecer ainda mais rapidamente do que se pensava.
Uma das razões é a perda da cobertura de gelo sobre o mar no Ártico. A água exposta do oceano absorve mais radiação do sol do que o gelo branco.
Assim, à medida que a cobertura de gelo diminui, a taxa de aquecimento aumenta. Os cientistas climáticos chamam-lhe um ciclo de feedback positivo, por vezes referido como sendo um ponto de viragem.
As mudanças no Ártico podem ter um impacto de grandes dimensões noutras partes do mundo. A camada de gelo derretido da Gronelândia pode aumentar o nível do mar, por exemplo, enquanto as correntes de circulação oceânica podem ser alteradas, o que, por sua vez, afeta os padrões meteorológicos noutras partes do mundo.
Uma questão óbvia é se existe alguma forma de travar o aquecimento, especificamente no Ártico. Felizmente, existem algumas ideias, mesmo que não estejam comprovadas na prática.
Um dos métodos propostos pelos cientistas é a possibilidade de libertar material, como o dióxido de enxofre, na estratosfera, o que provocaria a formação de pequenas partículas que refletiriam mais da energia do sol de volta ao espaço.
Com menos radiação solar a entrar na atmosfera, o solo abaixo arrefeceria. Este processo é conhecido como uma injeção de aerossol estratosférico.
O conceito tem sido estudado há algum tempo e é semelhante ao que acontece quando um grande vulcão entra em erupção.
Por exemplo, a erupção de 1991 do Monte Pinatubo nas Filipinas libertou cerca de 20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre e partículas de cinzas, e arrefeceu o planeta em cerca de 0,5℃ durante um ano.
O arrefecimento da Terra com este método implicaria a subida do dióxido de enxofre para a estratosfera a baixas latitudes. O material seria então distribuído por todo o mundo através dos ventos e migraria gradualmente em direção ao polo no hemisfério em que era libertado, fornecendo assim um escudo refletor.
Se a libertação fosse aplicada a baixas latitudes em ambos os hemisférios, nesse caso seria capaz de arrefecer toda a Terra.
No entanto, se quiséssemos apenas arrefecer o Ártico, então as partículas poderiam ser libertadas mais perto da região. A estratosfera também começa muito mais abaixo (cerca de 9 km no Polo Norte, em comparação com 17 km no equador) — os aviões não teriam de voar tão alto, segundo o Inverse.
A segunda ideia envolve “nuvens brilhantes” sobre o oceano a fim de, mais uma vez, refletir mais da energia do sol de volta ao espaço. Esta ideia tem por base as partículas ejetadas dos funis dos navios que, sob certas condições, causam a formação de nuvens sobre o oceano.
No entanto, o tipo de nuvens que se formam depende do tamanho dos cristais de sal. Se os cristais forem suficientemente pequenos, então as nuvens formam-se de gotículas muitas pequenas.
Isto é importante porque as nuvens compostas por gotas mais pequenas parecem mais brancas do que aquelas com gotas maiores, e portanto refletem mais luz solar, mesmo que as nuvens tenham a mesma quantidade total de água.
Por conseguinte, pode ser possível branquear as nuvens, criando mais “spray marinho” e mais gotículas minúsculas. Isto pode ser conseguido perto do Ártic,o através da utilização de barcos.
Assim, há duas ideias que poderiam ajudar a preservar o Ártico e ganhar-nos tempo enquanto trabalhamos para resolver a raiz do problema — nomeadamente o nível de gases com efeito de estufa na atmosfera, que já é demasiado elevado.
Contudo, ambas as ideias para travar o aquecimento no Ártico necessitam de uma investigação e desenvolvimento muito mais pormenorizados.
Este estudo precisa de envolver grupos internacionais, mas especialmente aqueles que são mais afetados pelas alterações climáticas e menos capazes de se adaptarem. Isto inclui grupos indígenas não só no Ártico, mas também aqueles de outras partes do mundo, cujos países podem mesmo não existir nas próximas décadas, uma vez que o nível do mar continua a subir.