Rio desfez finalmente as dúvidas em torno do seu futuro, depois de se ter aconselhado do seu núcleo duro que nunca terá duvidado da decisão do líder.
As dúvidas em torno da recandidatura de Rui Rio à liderança do PSD foram lançadas pelo próprio ainda antes das autárquicas, quando fez depender o seu futuro do resultado das eleições autárquicas. Perante uma análise incerta — o PS assegurou um maior número de Câmaras, mas o PSD conseguiu recuperar algumas aos socialistas, com Lisboa à cabeça —, as incertezas adensavam-se, em grande parte devido às constantes recusas de Rio em esclarecer o mistério.
Após o concelho nacional, que garantiu ao líder laranja uma pesada e surpreendente derrota na votação sobre o adiamento das eleições internas, muitos eram o que acreditavam que o seu caminho tinha chegado ao fim, sobretudo face ao crescente número de apoios que Paulo Rangel está aparentemente a reunir.
O anúncio da sua recandidatura, pela mão de Salvador Malheiro, foi, por isso, recebido com surpresa por alguns, mas não por aqueles que lhe são mais próximos e que fizeram parte da tomada de decisão, com alguns a avançarem à comunicação social frases como “Dos fracos não reza a história” ou “Ele não é homem de desistir”. O objetivo a que se propõe é derrotar Rangel e fazer do antigo autarca do Porto candidato a primeiro-ministro.
Como tal, a direção de Rio não terá problemas, num cenário em que o Orçamento do Estado é chumbado, em convocar um Conselho Nacional extraordinário e submeter novamente a votos um adiamento das eleições internas. Tal como aponta o Observador, a esperança é que os os conselheiros, desta vez, deem razão a Rio e percebam os riscos inerentes à realização de eleições internas de forma simultânea às eleições nacionais antecipadas.
De acordo com o calendário previsto, o PSD deve ir a eleições diretas a 4 de Dezembro, o que significa que dificilmente teria um líder em funções até ao congresso do partido, previsto para 14,15 e 16 de janeiro. A confirmar-se o chumbo do Orçamento e a queda do Governo, os portugueses iriam ser chamados a eleger uma nova Assembleia da República apenas poucos dias depois — com todos os procedimentos associadas a umas eleições legislativas para os partidos.
Nas suas intervenções públicas, Paulo Rangel tem descartado este cenário — na segunda-feira, em entrevista à TVI, caracterizou-o como “improvável“. O eurodeputado é da opinião que Marcelo Rebelo de Sousa também não marcaria eleições sem que as questões em torno da vida interna dos países estivesse inteiramente resolvida, principalmente quando o que está em causa é o principal partido da oposição. Os aliados de Rio discordam, por considerarem que por muita força política que Marcelo tenha, esta não é suficiente para suster a vida política nacional só para que o PSD resolva os seus problemas.
A possibilidade de o Orçamento do Estado para 2022 ser aprovado também está a ser acautelada pelo núcleo de Rio que, nesse caso, o aconselham a concorrer com duas mensagens distintas: a primeira tem como objetivo convencer os militantes de que com o seu voto não estão a eleger um líder partidário, mas sim um futuro candidato a primeiro-ministro.
Aqui, os seus conselhos acreditam que Rio tem vantagem sobre Rangel, o qual, vão defender, não tem experiência executiva.
O segundo ponto incide num discurso “nós” contra “eles”. Ainda segundo o Observador, Rio está convencido que Rangel se rodeou dos herdeiros de Passos que ainda restam no aparelho social-democrata — os mesmos que se desligaram das bases por protagonizarem a “elite dos predestinados“, das quais também fazem parte Miguel Pinto Luz e Luís Montenegro que já perderam anteriormente contra Rio.
Apesar de acreditar que, desta feita, o favoritismo não está do seu lado, Rio crê que o voto das bases está do seu lado, isto é, aposta na ideia de que quem decide são os militantes e não os importantes do partido, já que esses, estima-se, apoiam Rangel.