Quantas divergências cabem em 25 minutos? No debate entre Rui Tavares e Rodrigues dos Santos, todas as que remetam para ideologia

ZAP // Tiago Petinga / Lusa

No debate entre CDS e Livre, os seus representantes esgrimiram argumentos relacionados com a disciplina de Religião e Moral e com a chamada “ideologia de género”, trazendo também de volta algumas figuras malogradas dos respetivos partidos adversários.

Francisco Rodrigues dos Santos e Rui Tavares sentaram-se ontem frente a frente para um debate que ficou, novamente, marcado pelas divergências ideológicas entre os dois — que nunca conseguiram realmente encontrar pontos de consenso nos seus programas e ideias. Ao longo dos 25 minutos que durou o frente a frente, os líderes partidários competiram para ganhar a competição dos soud bites e discordaram em matérias como os impostos, a “ideologia de género” e a disciplina de Religião e Moral.

Numa tentativa de se proteger de possíveis ataques, Rui Tavares começou por defender a proposta do Livre de criar um projeto-piloto destinado a estudar a implementação do rendimento básico incondicional, ao qual o CDS se opõe, argumentando, por exemplo, “o dinheiro público não nasce nas árvores”. “Será certamente mais barato do que as mudanças no IRS que o PSD e o CDS fizeram em Lisboa e que vai dar aos mais ricos 7 milhões de euros só este ano, e 30 milhões no total”, justificou Rui Tavares.

Para Francisco Rodrigues dos Santos, o programa do Livre não passa de uma “fábrica de impostos que pretende eutanasiar a economia“, numa altura em que esta precisa de investimento, defende. Como forma de reforçar o seu ponto, o líder do CDS chamou para a conversa Arnaldo de Matos, a quem comparou Rui Tavares, e o PCTP-MRPP, estabelecendo novamente paralelismos, nomeadamente com os tempos do PREC. “Limitar os prémios atribuídos nas próprias empresas (…) isto é comunismo puro“, atirou o líder do CDS.

Rui Tavares retorquiu com uma expressão que Rodrigues dos Santos tem usado por diversas vezes na hora de caracterizar os programas eleitorais dos partidos de esquerda: “pornografia fiscal“, atribuindo também “pontos extra pela imaginação” ao seu adversário.

O debate prosseguiu para questões ainda mais ideológicas, como a medida proposta do CDS para extinguir a Comissão para a Igualdade e Ideologia de Género, a qual serviu para Rui Tavares confrontar Rodrigues dos Santos com a sua vontade de “criar um papão da ideologia de género”, algo que não considera “intelectualmente honesto” tendo em consideração a matriz democrata-crista do CDS, a qual deveria ter “todas as preocupações com esses homens e mulheres”. O passo seguinte, e natural, foi a defesa do líder do CDS às aulas de Religião e Moral, que acusou o Livre de querer promover um “laicismo radical” que “nem Soares nem Cunhal atacaram porque entenderam que este anti-catolicismo ficou enterrado na Primeira República”.

Neste âmbito, Rodrigues dos Santos tentou surpreender Rui Tavares, dizendo que quase confundia o seu adversário no debate com Joacine Kater Moreira face às suas tentativas de “reescrever a história“. “Olhei para si e estava a ver a Joacine Katar Moreira (…) Está a praticar o joacinismo. Joacine saiu do Livre, mas o Livre ficou no Joacinismo”.

Rui Tavares não o deixou resposta, trazendo para cima da mesa também um ativo do CDS que Francisco Rodrigues dos Santos gostaria de poder esquecer: Nuno Melo, a propósito da polémica que o eurodeputado iniciou depois de duas professores da Telescola terem usado uma gravação de Rui Tavares, enquanto historiador, para lecionar uma matéria, questionando se seria o próprio o professor das aulas em questão. “Para quem fala de cultura de cancelamento, não teria orgulho de se meterem no trabalho e perseguirem duas pessoas de fazer divulgação livre de história de um historiador que por acaso é do Livre”, atirou o líder do Livre.

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