Variação nas diretrizes emitidas para os cidadãos totalmente vacinados prende-se com a diferença entre o progresso do processo de vacinação nos Estados Unidos da América e na totalidade do mundo.
Agora que entraram numa nova fase da pandemia — já atingiram a imunidade de grupo —, os Estados Unidos da América enfrentam um novo dilema: devem os cidadãos vacinados continuar a usar máscara?
A resposta não é clara, já que varia consoante as entidades tidas como referência, isto é, a Organização Mundial de Saúde ou o Centro de Prevenção de Doenças norte-americano (CDC).
Num primeiro momento, a razão para as divergência parece ser a variante Delta, cuja predominância em vários territórios tem vindo a por em causa a eficácia das vacinas. No entanto, há também uma justificação burocrática.
A primeira a soar o alarme foi Mariângela Batista Galvão Simão, diretora assistente da Organização Mundial da Saúde, quando, a 25 de Junho, alertou para a importância do uso de máscara mesmo após a toma da segunda dose da vacina.
Dias mais tarde, Rochelle Walensky, diretora do CDC, contradisse a indicação da OMS, citando a alta proteção que as pessoas vacinadas têm contra a variante delta e outras estripes de Covid.
OMS: Imunizados devem continuar a usar máscara
Tal como referido anteriormente, o OMS defende que que o uso consistente de máscara continua a ser importante, mesmo para as pessoas vacinadas. Segundo Mariângela Simão, “as pessoas não podem sentir-se seguras só porque têm as duas doses. Elas ainda precisam de se proteger”.
“Usar máscaras em espaços públicos continua a ser essencial para evitar que se inale partículas que podem deixar as pessoas doentes”, disse Maria Van Kerkhove, uma epidemiologista norte-americana na mesma reunião de 25 de Junho.
Enquanto que a vacina da Pfizer e da Moderna têm uma proteção comprovada contra as variantes, os cientistas não descuram a possibilidade de que infeções “revolucionárias” possam ocorrer.
O Cnet cita o exemplo de uma mulher totalmente vacinada de 65 anos, no estado da Califórnia, que morreu após contrair covid-19 — de acordo com o noticiado, apresentava doenças pré-existentes.
CDC: Totalmente vacinados podem sair sem máscara
As normas do Centro de Controlo de Doenças norte-americano que vigoram atualmente descartam o uso de máscara para os cidadãos norte-americanos totalmente vacinados.
Na informação disponibilizada, é referido que aqueles que já se incluem neste grupo podem retomar as suas atividades sem o uso de máscara ou distanciamento social, exceto quando exigido, como é o caso de aviões ou escritórios.
No dia 30 de Junho, em declarações ao programa Today Show, da NBC, Walensky reforçou a posição do organismo, referindo que os cidadãos “totalmente vacinados estão completamente protegidos contra variante Delta”.
Ainda assim, o CDC também admite a hipótese de infeção pela nova variante caso a ela estejam expostos. De facto, numa comunicação à imprensa realizada na Casa Branca a 22 de Junho, o epidemiologista Anthony Fauci classificou a variante que teve origem na índia como “a maior ameaça nos Estados Unidos à tentativa de eliminar a Covid-19”.
Assim sendo, qual deve ser o comportamento dos norte-americanos — e dos restantes cidadãos quando os países onde vivem atingirem níveis de imunidade semelhantes?
Anthony Fauci, que liderou a luta contra a covid-19 nos EUA e que atualmente aconselha Joe Biden nas questões relacionadas com a pandemia, defende que “há uma razão” para a discordância nas diretrizes emitidas pelos dois organismos — muito simples, por sinal.
“A Organização Mundial de Saúde é responsável pelo planeta, como um todo. Há diferenças do mundo, no geral, para aqui, para os Estados Unidos da América — para onde o CDC emite diretrizes.”
Segundo o Our World in Data, apenas 23.7% da população mundial está totalmente vacinada contra a covid-19, número que aumenta drasticamente quando nos referimos aos Estados Unidos da América: 47% — de acordo com dados da Mayo Clinic.
Como tal, para os oficiais norte-americanos o foco não está no uso de máscaras, mas no reforço da vacinação onde esta ainda regista números inferior à media norte-americana.
Para reforçar o seu ponto, Fauci recorreu a estudos que comprovam que as duas doses das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca são 90% (ou mais) eficazes na redução de hospitalizações resultantes da variante delta.
Portanto, enquanto a Organização Mundial de Saúde de encarrega de emitir normas para todo o mundo, onde a larga maioria da população não está vacinada, o CDC centra a sua abordagem no território norte-americano — onde a vacinação está a ter os resultados esperados.