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Novo Banco recorreu a detectives para “caçar” devedores (mas foi em vão)

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Tiago Petinga / Lusa

Foi com perplexidade que os deputados ouviram as explicações dos responsáveis da Comissão de Acompanhamento do Novo Banco no Parlamento, onde se ficou a saber que a entidade financeira chegou a contratar detectives privados internacionais para investigar a fortuna de devedores, mas sem sucesso.

José Rodrigues de Jesus e Bracinha Vieira, os dois membros da comissão responsável por acompanhar a gestão dos activos do Novo Banco, cujas perdas estão cobertas pelo mecanismo de compensação do Fundo de Resolução que é detido pelo Estado, estiveram a ser ouvidos no Parlamento na comissão de Orçamento e Finanças, nesta quarta-feira.

Falando da dificuldade de cobrar alguns grandes créditos, Bracinha Vieira revelou que a comissão de acompanhamento perguntou ao Novo Banco se seria “possível contratar uma firma de detectives internacionais para tentar junto de ‘offshores’ investigar a fortuna” de um determinado cliente. A resposta do Banco terá sido que isso estava a ser feito, mas sem sucesso.

“Com surpresa minha já contratamos uma firma, mas até agora não houve qualquer efeito”, acrescentou, notando que estão em causa bens e dinheiro no Brasil e nos EUA.

Também José Rodrigues de Jesus reforçou que o Novo Banco “já andou atrás de pessoas a ver o que têm na América do Norte e no Brasil”, na tentativa de que esses bens cobrissem os créditos.

Banco perdeu “brutalidade de dinheiro” com empreitadas no estrangeiro

Bracinha Vieira falou ainda de alguns dos créditos que mais problemas trazem ao Novo Banco e que foram herdados do BES, notando que, em 2005 e 2006, houve um empréstimo “descomunal” do BES para compra de acções do BCP e que essa operação levou a um “prejuízo gigantesco” porque a garantia era um penhor de acções do BCP, que desde então se desvalorizaram 96%.

O mesmo elemento mencionou também garantias que o BES deu para empreitadas no estrangeiro, revelando que em determinada altura os governos de Argélia, Bolívia, Benim ou Congo “decidiram executar as garantias” e o Novo Banco “teve de honrar a garantia de boa execução” perante empreiteiros em dificuldades. O Novo Banco perdeu aqui “uma brutalidade de dinheiro”, referiu.

Há ainda prejuízos ligados ao que se passou no Grupo Espírito Santo (GES), perante investidores “irritados e indignados”.

Houve entidades que, perante perdas, “ou por estarem ligados ao dr. Ricardo Salgado ou por terem títulos de empresas do grupo não financeiro”, “decidiram fazer tudo para não pagar créditos que tinham ao Novo Banco”, colocando acções em tribunal, acrescentou Bracinha Vieira.

“Sabia que isto era mau, mas não que fosse tão mau”

José Rodrigues de Jesus, que também é bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC), assumiu perante os deputados que o que encontrou no Novo Banco era pior do que imaginava. “Eu sabia para o que vinha e sabia que isto era mau, eu não tinha a ideia de que fosse tão mau”, sublinhou.

O bastonário da OROC referiu também que é provável que o buraco no Novo Banco continue a crescer, justificando que “há uma forma de continuidade que é uma degradação”. José Rodrigues de Jesus sustentou que o buraco já não deve ir “muito mais longe”, mas “ainda há imparidades a fazer“, com “casos que vai ser preciso coragem para resolver”.

As declarações do responsável causaram perplexidade entre os deputados, mas ele não quis esclarecer de que tipo de casos fala, escudando-se no sigilo bancário, e referindo apenas que estão em causa “casos mediáticos” e complicados “por causa dos nomes” envolvidos.

Em causa estarão alguns dos grandes devedores da Caixa Geral de Depósitos, cuja lista já foi divulgada. “Alguns daqueles nomes estão em todos os bancos, estão no BCP, na Caixa, no Novo Banco”, assumiu José Rodrigues de Jesus.

No início do mês, o Novo Banco anunciou que ia pedir uma nova injecção de capital ao Fundo de Resolução de 1.149 milhões de euros, depois de ter divulgado prejuízos históricos.

Já no ano passado o Novo Banco recebeu 792 milhões de euros do Fundo de Resolução, pelo que, a concretizar-se o valor pedido agora, as injecções públicas na entidade financeira ficarão em mais de 1.900 milhões de euros.

Mas o Banco poderá pedir ainda mais dinheiro, já que o mecanismo de compensação previsto, aquando da venda da entidade ao fundo norte-americano Lone Star, determina que pode solicitar até 3.890 milhões de euros até 2026.

Bracinha Vieira referiu no Parlamento que o Novo Banco deverá pedir até um máximo de 3.000 milhões de euros. Este responsável vaticina ainda que, segundo os planos definidos, o Novo Banco vai atingir o ‘breakeven‘ (ponto em que um investimento começa a ser rentável) em 2020. Depois disso, não haverá mais pedidos de dinheiro ao Fundo de Resolução, assegurou aos deputados.

ZAP // Lusa

6 Comments

  1. Estranhamente e apesar de todas estas noticias, dizem que a contratação de altos cargos continuam. Será verdade? (ver Linkedin.com do Novo Banco)

  2. ja chegamos ao dia 1 de abril?
    dá vontade de rir com o que escrevem
    “,,, onde se ficou a saber que a entidade financeira chegou a contratar detectives privados internacionais para investigar a fortuna de devedores, mas sem sucesso….”
    estes detectives devem ser daqueles de brincar.
    conseguem encontrar um pirata informatico e nao conseguem encontrar os gatunos dos devedores do banco
    Ou será que nao ha interesse encontra-los? será que sao assim tao imunes?
    deviam contratar os policias ingleses que estao com o caso da Maddie, pois ao fim destes anos tem conseguido encontrar testemunhas, um possivel pedofilo, etc,

    gastaram dinheiro e agora estao cá os contribuintes para dar dinheiro para o banco fazer face aos roubos

    • Se calhar é por isso que querem o Pirata Informático em portugal. Não só porque descobriu o que sabemos relacionado com determinados clubes de futebol, mas também como o próprio afirmou, descobriu sobre pessoas influentes em portugal. Provavelmente políticos e gestores. Assim que chegar a portugal, se vier, vai ser morto em poucos dias.

  3. E não haverá detectives para caçar aqueles que meteram a massa nas mãos dos tais senhores clientes engravatados? Esses deveriam já estar todos atrás das grades por muitos anos!.

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