O habitual desfile do 25 de abril, na Avenida da Liberdade, foi doce. Não houve tempo para uma única palavra crítica, muito menos de protesto ao Governo.
Os cravos e os chaimites marcaram presença, mas os atos revolucionários foram postos de lado no desfile que encheu a Avenida da Liberdade, em Lisboa, de vermelho. Este ano, a manifestação do 25 de abril foi marcada pela suavidade, não tendo registado qualquer ponto de atrito ou de fricção.
De acordo com o semanário Expresso, a ministra da Saúde, Marta Temido, desfilou sorridente; o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, mostrou também um sorriso rasgado; e o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, juntava-se à coluna da Juventude Socialista que gritava: “queremos revolução, socialistas em ação”.
No entanto, tanto António Mendonça Mendes como todos os outros, pareciam querer manter-se longe de qualquer ato revolucionário, optando pela paz. Este ano, nem uma palavra ordem nem um cartaz tentou beliscar o Governo.
Há problemas com a lei de bases da saúde; as leis laborais e a degradação dos serviços públicos são um problema e ninguém esconde; os professores representam muito bem a figura do calcanhar de Aquiles do Governo e a carga fiscal e o rol de queixas que a própria aliança de esquerda faz questão de desfilar no Parlamento e nos comícios em todo o país não é segredo.
Ainda assim, no festejo dos 45 anos da revolução, o palco não sustentou críticas. Foi apenas a livre expressão do amor aos valores de abril.
Em abril, Portugal é pacífico e o passeio público pela Avenida da Liberdade nada mais foi do que um hino de louvor à Revolução dos Cravos. Sem inimigos a abater, com palavras doces para enunciar. Os revolucionários desfilaram lado a lado com o Governo numa ode ao 25 de abril de 1974.