Um descendente do autor do grande clássico da literatura italiana “Divina Comédia” vai pedir em tribunal a sua ilibação de uma condenação à morte há mais de 700 anos.
“As penas de exílio e morte a que foi condenado o meu querido antepassado são injustas e nunca foram anuladas, como aconteceu com Galileu Galilei”, condenado por heresia e perdoado já no século XX, disse o astrofísico Sperello di Serego Alighieri, e descendente de Dante Alighieri, ao jornal Corriere Della Sera.
“Portanto, se a lei permitir, pediremos uma revisão”, adiantou Aligheri, que está a trabalhar no processo com o professor universitário de Direito Processual Penal Alessandro Traversi.
Aligheri defende que o julgamento a que o autor da “Divina Comédia” foi sujeito, em 1302, foi puramente político, numa altura em que Florença era alternadamente controlada por dois grupos, os brancos e os negros, pertencentes à fação dos Guelfos, que apoiava o Papa de Roma e das cidades-Estado italianas na disputa com o imperador germânico.
O julgamento, refere, teve lugar depois de o grupo dos negros tomar o poder, em 1301, e devido ao facto de Dante ser um destacado membro do grupo dos brancos.
Num primeiro julgamento, Dante foi condenado ao pagamento de uma multa de cinco mil florins e exílio de dois anos e, num segundo, em março de 1302, não compareceu e foi condenado à morte.
Segundo Traversi, “será interessante perceber se à luz dos estatutos florentinos da época e das normas legais atuais, os dois julgamentos podem ser sujeitos a revisão”.
De acordo com o jornal italiano, a lei prevê que uma sentença possa ser revista em caso de apresentação de provas da inocência do condenado, não estando determinado qualquer prazo temporal para o pedido de revisão.
Antes de ser iniciado qualquer procedimento, está agendada para o mês de maio uma conferência sobre o tema, em que irão participar historiadores, linguistas e advogados. Entre os nomes mais sonantes estão Antoine de Gabrielli, descendente do juiz Cante de Gabrielli da Gubbio, que condenou o célebre escritor, Margherita Cassano, vice-presidente da Suprema Corte de Cassação italiana e Mauro Iacoviello, ex-procurador-geral adjunto deste tribunal.
Para Traversi, o objetivo é chegar a uma conclusão sobre se houve justiça na condenação de Dante, ou se esta foi “o fruto envenenado de políticas que recorriam à Justiça para atacar adversários”.
ZAP // Lusa