“Obras inventadas” no tempo de Alberto João Jardim e grupos económicos que cresceram com o “dedo do Jardim”. Sérgio Marques abandona Assembleia.
O deputado do PSD Sérgio Marques, eleito para Assembleia da República pela Madeira, anunciou hoje a renúncia ao mandato e a saída da comissão política regional do partido na sequência da polémica em torno de críticas à governação regional.
“Por ter deixado de reunir condições políticas para o prosseguimento das minhas funções parlamentares, e por também querer manter-me como um social-democrata de pensamento livre, comunico-vos que apresentei hoje ao Presidente da Assembleia da República a minha renúncia ao mandato de deputado eleito pelo círculo eleitoral da Madeira”, escreveu Sérgio Marques na sua conta no Facebook.
O parlamentar adianta que deu “conhecimento prévio” desta sua decisão ao presidente do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, comunicando-lhe também a “saída da comissão política regional”.
O dirigente destaca a “honra e privilégio” por ter representado os madeirenses na Assembleia da República.
“Sou coerente com o meu percurso político, e com a minha forma de pensamento e participação na política ativa, pugnada pela social-democracia e pela liberdade”, conclui.
Na origem desta decisão estão as acusações de Sérgio Marques, em declarações ao Diário de Notícias, de “obras inventadas a partir de 2000”, quando Alberto João Jardim (PSD) era presidente do executivo madeirense, e grupos económicos que cresceram com o “dedo do Jardim”.
Sérgio Marques, que fez parte do executivo madeirense como diretor regional entre 1988 e 1989, refere na reportagem divulgada no domingo que a governação de Alberto João Jardim “foi fantástica até 2000”, mas depois “começaram a inventar-se obras, quis-se continuar no mesmo esquema de governo, a mesma linha, obras sem necessidade, aquela lógica das sociedades de desenvolvimento, todo aquele investimento louco que foi feito pelas sociedades de desenvolvimento”.
No domingo, também na sua página do Facebook, Sérgio Marques declarou que parte destas declarações foram prestadas em ‘off’, no âmbito de um trabalho sobre os 47 anos do PSD no poder na Madeira, apontando que as suas opiniões eram “conhecidas, não são segredo, mas que se referem a momentos do passado, e que estão distantes da atualidade política regional”,
O social-democrata, que fez também parte do Governo de Miguel Albuquerque como secretário regional do Assuntos Europeus e Parlamentares, entre 2015 e 2017, afirmou ainda que foi afastado do cargo por influência de um grande grupo económico da região.
Na segunda-feira, questionado pelos jornalistas sobre esta situação e se Sérgio Marques deveria afastar-se do partido por iniciativa própria, o líder do PSD/Madeira e presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque disse: “O PSD é um partido livre e só está no PSD quem quer”.
Na sequência das declarações de Sérgio Marques, os deputados do PS na Assembleia Legislativa da Madeira anunciaram, no domingo, que vão solicitar uma comissão de inquérito para averiguar alegados favorecimentos do executivo madeirense a grupos económicos.
Na segunda-feira, por seu turno, os eleitos do JPP indicaram que vão chamar os empresários Luís Miguel de Sousa (Grupo Sousa) e Avelino Farinha (grupo AFA) ao parlamento madeirense para prestarem esclarecimentos sobre declarações de Sérgio Marques e também do ex-governante regional, Miguel de Sousa, que apontam para favorecimento destes grupos.
// Lusa