Depressão ou fim de linha? Ronaldo recorreu ao mais polémico guru da auto-ajuda

10

Christof Stache / EPA

Cristiano Ronaldo está como nunca se viu – no pior dos sentidos. O avançado português só marcou um golo nos últimos nove jogos e está irreconhecível em campo, falhando golos que, no seu melhor, marcaria sem problemas. O que se passa afinal com o craque?

A derrota de Portugal com a Espanha que ditou a eliminação da Liga das Nações mostrou um Cristiano Ronaldo muito abaixo do que nos habituou. Foi visível a dificuldade na abordagem a alguns lances.

E há quem note que “Ronaldo perdeu os seus poderes”, o que nem é assim tão estranho quando já tem 37 anos.

“Já não é a fera que matava sem piedade”, analisa o o jornalista espanhol Miguel Ángel Lara no editorial no jornal desportivo Marca, dando como exemplo o jogo contra nuestros hermanos. “Gayà tirou-lhe uma bola de golo que antes era impossível o 7 deixar escapar”, aponta.

Contudo, Lara considera que “ninguém se atreve a dizer que a sua voracidade está esgotada”, frisando que “a última oportunidade de Portugal” foi de Ronaldo no jogo contra Espanha.

Mas será essa voracidade suficiente para ultrapassar este momento difícil?

“O problema do Cristiano Ronaldo é psicológico. Ele está com sintomas depressivos”, considera um utilizador do Twitter que é fã do português, recordando as dificuldades que o jogador tem ultrapassado nos últimos tempos, nomeadamente com a morte de um filho.

“Até o mais forte mentalmente tem momentos difíceis”, analisa outro fã do avançado.

Ronaldo pediu ajuda a famoso psicólogo canadiano

Esta ideia de que Ronaldo pode estar a meio de uma depressão não é de todo descabida. Afinal, além da morte do filho bebé, o avançado vê o fim da carreira próximo, ainda mais numa altura difícil em que tem sido complicado conseguir resultados com um Manchester United em transformação.

Os jogos no banco de suplentes com o novo treinador Erik Ten Hag depois da novela do mercado, em que foi apontado a vários clubes, mas sem conseguir a que seria uma desejada saída do United, também foram difíceis.

Pelo meio, faltam os golos que são sempre o melhor dos bálsamos para animar um avançado – ainda mais um que habituou os adeptos a ultrapassar sucessivamente vários recordes.

No meio de todo este turbilhão de emoções, o famoso psicólogo canadiano Jordan Peterson revelou, numa entrevista ao jornalista britânico Piers Morgan, que Cristiano Ronaldo o abordou e o convidou para ir a casa dele.

“Ele tinha tido problemas na vida dele há alguns meses e um amigo dele enviou-lhe alguns dos meus vídeos, ele viu-os e depois leu o meu livro, um dos meus livros, achou-o muito útil e queria falar“, conta o autor do best-seller “12 Rules for Life: An Antidote to Chaos” [“12 Regras para a vida: um antídoto para o caos” em português].

“Fui a casa dele e falamos durante umas duas horas“, revela Peterson que é um dos mais conhecidos gurus da auto-ajuda do momento.

“Falamos, sobretudo, sobre o que ele quer no futuro e sobre alguns dos obstáculos que está a enfrentar, como os enfrentar”, acrescentou, concluindo que foi uma “conversa estratégica” em torno destas questões.

Mas quem é Jordan Peterson?

Peterson é um distinto académico que se formou em psicologia na Universidade McGill, umas das mais prestigiadas do Canadá, em 1991. Chegou a dar aulas em Harvard e, actualmente, trabalha como professor de Psicologia na Universidade de Toronto, outra das referências do Ensino Superior canadiano.

Contudo, tornou-se uma celebridade mundial da Internet devido às suas posições polémicas e nada politicamente correctas (até porque ele define-se como contra esta postura) sobre temas como a identidade de género ou as feministas. Graças a isso conquistou grande sucesso entre muitas figuras associadas a partidos de direita e de extrema-direita.

Já tem sido descrito como “o mais importante e influente pensador canadiano desde Marshall McLuhan“, um importante nome na área da comunicação que criou o termo “aldeia global” muito antes de a Internet ter sido inventada.

Mas o colunista do The New York Times David Brooks fala de Peterson como “o mais influente intelectual público no mundo ocidental” do momento, enfatizando palavras do economista Tyler Cowen da Universidade George Mason.

E se para alguns é uma espécie de “profeta”, reunindo um séquito de seguidores, sobretudo homens jovens, que encaram o que ele diz quase como uma “religião”, para outros é “o professor da tolice” ou “um pateta perigoso” por aquilo que diz.

Ronaldo leu livro que é “barco salva-vidas para mares tempestuosos”

Os livros de auto-ajuda do psicólogo são um sucesso mundial, entre os quais o mais famoso é o “12 Rules for Life: An Antidote to Chaos”. Provavelmente, foi este o livro que Ronaldo leu, embora Peterson não o tenha revelado.

A obra é apresentada, nas comunicações de divulgação, como “um barco salva-vidas construído solidamente para mares tempestuosos: sabedoria antiga aplicada aos nossos problemas contemporâneos”.

A partir da sua experiência enquanto psicólogo clínico e de “lições dos mais velhos mitos e histórias da humanidade”, Peterson apresenta “12 princípios profundos e realistas” que permitem a cada um ter “uma vida de responsabilidade e significado”, aponta-se ainda nos materiais de promoção do livro.

Cada uma das regras é explicada num capítulo, sendo que a última é “Acarinha um gato quando encontrares um na rua”.

A primeira das regras é algo tão simples como “Senta-te direito com os teus ombros para trás”, com Peterson a defender a importância de uma “linguagem corporal mais autoritária” como um traço essencial para dominar.

O psicólogo dá o exemplo das lagostas e da forma como se comportam no reino animal para notar que quando mantemos uma postura encolhida, parecemos mais pequenos e derrotados e será assim que os outros nos vêem.

A ideia é simples: se queres ser feliz e poderoso, senta-se direito, conforme os princípios apontados no livro.

Na conversa com Piers Morgan, Peterson deu um exemplo mais prático de como a sua intervenção clínica pode ser feita, dando pistas sobre o que pode ter acontecido na conversa com Ronaldo, embora sem falar especificamente dele.

“Se pudesses visualizar um caminho para sair da tua miséria, para um sítio melhor, como seria? Tendo desenvolvido essa visão, que estratégias podem ser postas em prática para tornar isso mais provável”, nota Peterson sobre o trabalho que faz.

“Se tivesses que te orientar da forma mais adequada para conseguir este fim desejável, como organizarias o teu comportamento?”, é outra das ideias que Peterson deixa aos seus pacientes, como revelou a Piers Morgan.

Que CR7 no Mundial do Qatar?

No meio da tormenta, Ronaldo tem recebido várias mensagens de apoio, de anónimos e não só, entre as muitas críticas dos que pedem a sua saída da Selecção.

O treinador Carlos Carvalhal já veio a terreiro falar em “ingratidão” para com “um dos melhores jogadores de todos os tempos, que sempre jogou com orgulho pela nossa Selecção”. “No momento em que se calhar, pela primeira vez, precisa de apoio, muitos viram as costas e só o criticam”, apontou Carvalhal numa publicação no Twitter.

“O português cospe no prato que come”, também lamentou a irmã de Ronaldo, Kátia Aveiro.

Entre os críticos, o ex-internacional italiano Antonio Cassano, habitualmente pouco simpático nas suas análises a Ronaldo, aconselha o jogador português a pendurar as chuteiras.

“O Cristiano deve fazer um favor a si próprio e perceber que, quando não atinges um certo nível, deves fechar a loja. Ganhou tudo, foi um fenómeno. Pára! Tens de parar senão só vais dar com o banco de suplentes”, recomenda Cassano.

Mas Cristiano Ronaldo já disse que quer jogar o Europeu de 2024, quando estará perto dos 40 anos. A grande dúvida entre os adeptos portugueses é, contudo, mais imediata. Que CR7 poderemos ter no Mundial do Qatar que está à porta – e que será, previsivelmente, o último de Ronaldo?

Susana Valente, ZAP //

10 Comments

  1. Ronaldo nem esteve mal, deixou papar naquela bola dividida que seria meio golo, mas mais uma vez esteve sempre bem posicionado. Podia ter feito o golo quando se isolou perante o guarda-redes espanhol, mas este último fez mais uma defesa fantástica. Se não fosse o guardião Espanha teria levado pelo menos 3 golos. Continua a ser o melhor ponta-de-lança disponível para a seleção e um grande exemplo.

  2. Estou absolutamente saturado desta treta trágico-cómica. Se o menino tem uma depressão porque os brinquedos estão a acabar, que o assuma, o seu grupo de apoio que se deixe de encenações. Piers Morgan será um jornalista, mas é, também, um grande amigo do moço madeirense. logo um credível (?) transmissor dos dói-dói do seu amigo. Para concluir, não acredito que CR tenha capacidade cognitiva para entender conceitos mais complexos que os livros deste “guru” devem ter. Suponho, claro.

  3. É a primeira vez que vejo Jordan Peterson ser chamada de “guru da auto-ajuda” xD
    Os dois néscios que comentaram antes de mim (Eduardo e Armando Santos) representam o típico bronco futeboleiro. Absoluta de falta de empatia e de sofisticação intelectual!

    • Ainda bem que vieste tu com a tua elevação e clarividência estupidificar ainda mais tudo. Foi um bom contributo para a ciência futebolística…e mesmo para a psicologia em geral.

  4. Néscio? Nada contra, é a sua presunçosa opinião, ainda que concorde com a ausência de sofisticação intelectual, o meu crédito não permite que aceda à loja gourmet que vende esse exclusivo produto. Isto é, não suficientemente néscio. Quanto à empatia, fico com a ideia que o caro confunde o conceito com uma libido em desordem. Quanto ao dever de empatia com o moço madeirense deixe que o esclareça: sobre o sujeito tenho uma opinião ainda mais impiedosa e cáustica que aquela que foi formulada pelo Prof. Gentil Martins, dois ou três anos atrás. Resumindo, sou completamente contra o desperdício, empatia incluída.

  5. JORNALISMO NO SEU PIOR…

    O artigo refere-se á seleção espanhola como sendo “nuestros hermanos” quando na verdade eles se referem a nós como nossos vizinhos e nada de irmãos, ao ver isso parei de ler o artigo…
    Como pode um jornalista dizer que os espanhóis são nossos irmãos???

    • Caro leitor,
      A expressão “nuestros hermanos”, em referência aos espanhóis, é uma expressão popular portuguesa, antiga e bem conhecida.
      Talvez por se chamar Antônio, não a conheça.
      Tem todo o direito à ignorância, e a manifestar a sua opinião — e obviamente a criticar a de outrém.
      Mas iniciar o seu comentário, em todo o esplendor das maiúsculas que usou, a criticar o “jornalismo no seu pior”, é mais do que expressar uma opinião ou crítica.
      É exacerbar essa opinião destilando fel sobre o mensageiro, de forma gratuita, violenta, despropositada.
      É fruto de quem não convive bem com a liberdade de imprensa, com o direito e dever de informar.
      É a intolerância no seu pior.
      É o trauliteirismo no seu pior.
      É o tempo que vivemos, no seu pior.

      • “Talvez por se chamar Antônio, não a conheça.” kkk k kkkk kk kkkk
        Esta partiu-me todo…
        Os brasileiros devem pensar que só os temos a eles como irmãos.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.