As defesas de Rosa Grilo e de António Joaquim, julgados pela morte do triatleta Luís Grilo, marido da arguida, apontaram hoje em tribunal falhas à investigação da Polícia Judiciária (PJ) e pediram a absolvição dos respetivos constituintes.
Nas alegações finais do julgamento, que decorre em Loures com um tribunal de júri, Tânia Reis, advogada da arguida, considerou que a acusação do Ministério Público (MP) se baseia em prova indireta e numa “teoria apresentada” pela PJ, [que os arguidos mataram para ficarem com os cerca de 500.000 euros dos seguros] que pode levar “a um erro judiciário”, aludindo a uma eventual condenação.
A advogada criticou a PJ por “nada ter feito” e seguido outras linhas de investigação, dando o exemplo, de testemunhas que viram Luís Grilo numa “discussão acesa com outro indivíduo” no dia do desaparecimento, ou o facto de o telemóvel da vítima estar numa torre de habitação, num bairro do Carregado, na noite 17 de julho de 2018, um dia após os arguidos terem alegadamente matado Luís Grilo.
Tânia Reis questionou ainda a razão pela qual a PJ não averiguou a informação de que testemunhas viram várias pessoas e dois carros de gama alta no local onde viria a ser largado o corpo de Luís Grilo, em Benavila, concelho de Avis, terra dos pais da arguida.
A advogada apontou falhas e contradições à investigação, nomeadamente o facto de a acusação referir que Luís Grilo foi morto no quarto de hóspedes e um dos peritos ter dito em julgamento que o homicídio ocorreu na suíte da casa do casal na localidade das Cachoeiras, concelho de Vila Franca de Xira.
O procurador Raul Farias alegou hoje que foi apenas Rosa Grilo quem conduziu a viatura, que nunca foi apurada pela investigação, [a acusação refere que foram os dois] com o corpo do marido até Benavila. Tânia Reis questionou como é que a sua cliente conseguiu depois retirar o cadáver do automóvel.
Sobre a versão apresentada em julgamento pela sua constituinte, “que o marido foi morto por quatro indivíduos angolanos devido a negócio com diamantes”, a advogada, que voltou a colocar em causa as perícias da PJ, a legalidade das escutas e a custódia da cadeia da prova, lamentou que alguns a considerem “hilariante”, mas sublinhou que é a versão da sua cliente, que deve ser absolvida.
O advogado de António Joaquim pediu igualmente a absolvição do seu constituinte do homicídio de Luís Grilo, apontando 11 falhas à investigação da PJ, com base no manual de procedimentos desta polícia de investigação criminal, junto aos autos, a seu pedido.
Ricardo Serrano Vieira considerou ser um “escândalo” a PJ, “que tem uma sede que custou 114 milhões de euros e um orçamento anual de 85 milhões de euros, não ter feito aquilo que lhe competia fazer durante a investigação”, referindo-se às perícias da balística que ficaram por fazer ou à forma como foram realizadas as perícias biológicas ou a recolha de prova ou de vestígios.
O advogado classificou a investigação da PJ neste caso de “trabalho de alfaiate, ajustar à medida do freguês”, aludindo às falhas, contradições, erros, omissões e presunções que, no seu entender, se verificaram durante esta investigação.
O advogado reiterou que houve contaminação da prova, quebra da cadeia de custódia da prova e uma leitura e análise erradas obtidas através dos telemóveis dos arguidos, com base nas antenas de georreferenciação.
Para Ricardo Serrano Vieira, o seu constituinte “nada tem a ver” com o crime, sublinhando que não foi a arma de António Joaquim a utilizada para matar Luís Grilo, acrescentando que apenas existe prova indireta e “zero” de prova pericial e testemunhal, como alegou hoje o procurador do MP Raúl Farias.
O corpo do triatleta Luís Grilo, morto em 15 de julho de 2018, foi encontrado com sinais de violência e em adiantado estado de decomposição, mais de um mês após o desaparecimento, a cerca de 160 quilómetros da sua casa, na zona de Benavila.
O Ministério Público atribui a António Joaquim a autoria do disparo sobre Luís Grilo, na presença de Rosa Grilo, no momento em que o triatleta dormia no quarto de hóspedes na casa do casal, na localidade de Cachoeiras, Vila Franca de Xira (distrito de Lisboa).
// Lusa