CDU vs. Livre: o debate (ou tertúlia) em que não se debateu

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ZAP // António Pedro Santos, Manuel de Almeida / Lusa

Rui Tavares com comunicação mais eficaz do que Paulo Raimundo. Juntos em muitos assuntos, incluindo num afastamento do PS.

Os líderes do PCP e Livre rebateram hoje os apelos do PS ao voto útil, salientando a sua importância numa eventual maioria à esquerda para forçar os socialistas a negociar, e concordaram no direito à greve dos polícias.

No debate que colocou frente-a-frente na CNN Portugal, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, em representação da CDU (coligação PCP/PEV), começou por dizer que os comunistas nunca falharão a uma convergência “que responda aos problemas concretos do país”, lembrando o “papel determinante” que o partido teve em 2015, na formação da ‘geringonça’.

Realçando que no dia 10 de março o país “não vai eleger nem primeiros-ministros, nem secretários de Estado” mas sim 230 deputados, Paulo Raimundo insistiu que “a única forma de o PS vir a respostas necessárias, no emprego, no trabalho e no caminho da paz, é com uma maioria diferente”.

“Não é reforçando o PS que nós lá vamos”, defendeu.

Também o porta-voz do Livre Rui Tavares considerou que “a melhor maneira de implementar as ideias do Livre é votar no Livre”, aplicando a mesma lógica ao PCP, numa resposta ao líder do PS, Pedro Nuno Santos, que num debate com o historiador argumentou que a única forma de colocar em prática as propostas do Livre é com um governo socialista.

Votar no PS às vezes nem para implementar as ideias do PS serve como vimos com a maioria absoluta, que passados dois anos foi ao charco. É uma pressão sobre o eleitorado que deu no que deu, e creio que as pessoas estão muito avisadas perante esse tipo de chantagens”, argumentou Tavares.

O deputado do Livre mostrou-se convicto de que uma maioria à esquerda “de progresso e ecologia” é “mais coerente”, contrapondo que à direita existe “uma incoerência muito grande” e “um processo de canibalização interna”.

Sobre uma proposta do programa eleitoral do Chega, que avança com o direito à greve por parte dos polícias da PSP e da GNR, os dois dirigentes manifestaram o seu acordo, com Tavares a salientar a necessidade de “serviços mínimos e enquadramento legal”.

Paulo Raimundo defendeu a fusão destas duas forças de segurança e Rui Tavares mostrou-se contra a possibilidade proposta pelo Chega de os polícias poderem ter filiação partidária.

“Desconfio muito de partidos que pretendem partidarizar as forças de segurança”, alertou.

O debate decorreu num tom calmo e as únicas divergências entre CDU e Livre surgiram em temas como a União Europeia ou o apoio militar à Ucrânia.

Questionado sobre se a posição do PCP no que toca ao conflito pode afetar os resultados eleitorais, Raimundo respondeu que “estranharia que uma força pela paz fosse penalizada por querer a paz” e criticou o fornecimento de material militar à Ucrânia.

O dirigente comunista defendeu que o partido sempre salientou que “a guerra não começou em 2022, mas sim em 2014” e que os intervenientes não eram apenas a Ucrânia e a Rússia mas também os EUA, a NATO e a União Europeia “que não é neutra neste processo”.

Rui Tavares defendeu a importância do projeto europeu no contexto internacional atual, considerou que não se pode “abandonar a Ucrânia” e manifestou-se contra todos os imperialismos, “seja o dos EUA ou o russo”.

Para o Livre é necessária “uma política externa ancorada na autodeterminação dos povos”, criticando o PS por estar a “arrastar os pés” no reconhecimento do estado da Palestina.

A SIC Notícias indica que este debate à esquerda foi “um cruzar de ideias, sem grande entusiasmo, morno”; em termos de comunicação, Rui Tavares voltou a ser mais eficaz do que Paulo Raimundo. O jornal Expresso refere que se assistiu a um debate “em que não debateram”, numa conversa que pareceu uma “tertúlia”; novamente com vantagem para o porta-voz do Livre. Foi uma conversa entre “dois homens de boa vontade, com ar de boas pessoas e de que até conseguiriam trabalhar um com o outro”.

ZAP // Lusa

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