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“Dancing Queen” May aguenta o fogo (e não tem medo de um Brexit sem acordo)

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Neil Hall / EPA

A primeira-ministra britânica afirmou que o Reino Unido “não tem medo” de deixar a União Europeia sem um acordo para o Brexit, frisando, contudo, a importância de manter uma boa relação com a Europa. May apelou ainda à unidade do partido Conservador – e até dançou ao som de Dancing Quen.

“Aqueles que respeitam o resultado [do referendo de 2016], independentemente do lado em que estavam há dois anos, precisam de se unir agora“, apelou a primeira-ministra britânica durante o seu discurso no congresso anual do partido Conservador que decorreu esta quarta-feira em Birmingham.

“Se não o fizermos e seguirmos em direções diferentes em busca das nossas próprias ideias de um Brexit perfeito, arriscamos não ter qualquer Brexit“, alertou.

Apesar de reconhecer que o governo britânico está a entrar na “fase mais difícil” das negociações com Bruxelas, e admitindo que a proposta apresentada pelo Reino Unido é “bastante complicada para a UE”, May reiterou a confiança num acordo positivo.

“Mas se continuarmos unidos e mantivermos a calma, eu sei que vamos conseguir um acordo favorável ao Reino Unido”, salientou.

A primeira-ministra britânica relembrou também que o seu Governo tratou a União Europeia com “respeito”, esperando que o bloco dos 27 faça o mesmo com o Reino Unido. May afirmou querer um bom pacto com Bruxelas reconhecendo, contudo, que caso este não aconteça será mau para ambas as partes.

“Será duro no início”, mas a “resistência” do povo britânico permitirá que o país siga em frente, aventurou. May sublinhou ainda não estar disposta a aceitar qualquer acordo, frisando que o Reino Unido “não tem medo” de deixar a UE sem um acordo. A primeira-ministrainistra continua a defender um acordo com Europa, mas não move um centímetro na sua estratégia.

No congresso, a conservadora defendeu o Chequers – o seu plano para o Brexit – que permitirá criar uma área de livre comércio para bens e serviços após a saída da UE. Ao mesmo tempo, frisou May, o seu plano protegerá o que considerou ser a “prezada união” do Reino Unido – em alusão às quatro nações: Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte -, sem que haja uma mudança na fronteira entre as duas Irlandas.

Críticas firmes a Boris e a Corbyn

Sem mencionar quaisquer nomes, May teve ainda oportunidade de deixar duras críticas aos seus principais opositores, que se têm mostrado totalmente eurocéticos.

No dia anterior, num evento paralelo ao congresso, Johnson lançou mais uma crítica à estratégia do governo britânico para as futuras relações com a União Europeia, qualificando a proposta de criar uma zona livre de comércio de bens e produtos agroalimentares com uma série de regras comuns à UE um “escândalo constitucional”.

A primeira-ministra, que reagiu na terça-feira numa entrevista à BBC dizendo que tinha ficado “zangada” com o deputado, retaliou, argumentando que os britânicos “não estão interessados em debates sobre a teoria do Brexit, mas o que significa na prática.

“Um Brexit que possa tornar o Reino Unido mais forte daqui a 50 anos não é bom se isso dificultar a vida hoje”, frisou no seu discurso.

May advertiu também para o risco de as querelas dentro do partido abrirem o caminho do poder ao maior partido da oposição. “Mesmo se não concordarmos com todas as partes desta proposta, precisamos de nos unir porque está na hora de encararmos o risco de termos um Partido Trabalhista que, se estivesse no governo, aceitaria qualquer acordo que a UE oferecesse, independentemente de quão prejudicial fosse para o Reino Unido”, disse.

A líder britânica teve também Corbyn como alvo, dirigindo-lhe um dos seus ataques mais duros. Para May, o líder trabalhista é a principal ameaça a Downing Street, ao Partido Conservador e ao próprio Labour, pela sua natureza anti-União Europeua, anti-NATO, pró-Rússia e anti-semita.

“O que se abateu sobre o Labour é uma tragédia nacional. O ‘Partido de Jeremy Corbyn’ rejeita hoje os valores comuns que sempre balizaram as nossas divergências políticas. É nosso dever garantir que [Corbyn] nunca poderá fazer o mesmo com o país”, frisou.

May dançou ao som de ABBA (e até gracejou)

A primeira-ministra britânica subiu ao palco do Symphony Hall de Birmingham ao som de Dancing Queen, dos ABBA. Numa clara tentativa de aliviar as tensões que têm assombrado o Reino Unido, May dançou na sua entrada e até se atreveu a gracejar.

May, consciente da importância do seu discurso, depois de no ano passado ter sido alvo de sátira de um comediante após ter sofrido um ataque de tosse e de uma uma letra no painel de fundo ter caído durante o discurso, conseguiu aguentar as críticas de que tem sido alvo, contornando-o o “fogo”, sem abandonar aquilo que defende.

“Vão desculpar-me se hoje tossir. Estive acordada a noite toda a colar as letras do cenário”, gracejou.

A dança (inesperada) de May – numa clara alusão à sátira de que foi alvo após ser filmada a dançar com crianças numa visita a uma escola na África do Sul – e forma como foi gracejando ao longo do discurso, embalaram o seu discurso.

E a estratégia parece ter funcionado. De acordo com os principais analistas e comentadores políticos, bem como a generalidade dos média internacionais, o discurso de May foi um sucesso estrondoso – o melhor de todo o seu mandato.

A primeira-ministra britânica conseguiu quebrar o gelo quanto ao acordo, marcando pontos junto dos seus militantes. Mantendo-se fiel a si mesma e ao plano que defende, May tem todos os motivos para estar orgulhosa da sua prestação – Bruxelas é o próximo teste.

SA, ZAP // Lusa / EFE

6 Comments

  1. Pelos vistos existe mais medo cá do lado continental do que lá na ilha da senhora May, quanto ás consequências do Brexit e de submissos que foram durante anos perante os britânicos andam agora os continentais armados em valentões no fim da casa roubada. Existe muito medinho actualmente por cá de que a moda pegue e está-se numa situação muito crítica em que existe muita contestação sobretudo há política migratória na Europa tão defendida por muitos responsáveis europeus.

    • Os ingleses sempre roeram a corda aos acordos. São muitos os exemplos, Corsários, Mapa cor de rosa, India, Gibraltar, África do Sul…

    • “à política migratória” é “à” sem h. Mas que raio, quando leva h vocês não põe e quando não leva vocês põe. Só leva h quando é uma forma do verbo haver.

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