Se a compra do Everton pelo Friedkin Group se vier a concretizar, os norte-americanos passarão a controlar a maioria dos clubes da liga inglesa de futebol. A tão tradicional Premier League – e vista como melhor liga do mundo – pode estar a passar por um processo de “americanização”.
Quando a Premier League nasceu, em 1992, os 22 clubes geraram 205 milhões de libras (cerca de 246 milhões de euros) na sua época de estreia e o jogador médio ganhava 2.050 libras (2.460 euros) por semana.
Trinta anos mais tarde, com menos dois clubes, as receitas da liga tinham aumentado 2850% para 6,1 mil milhões de libras (7,32 mil milhões de euros) e o jogador médio ganhava 93 mil libras (mais de 111 mil euros) por semana.
No centro deste crescimento extraordinário está, como explica o The Conversation, a revolução americana.
Na época inaugural da Premier League, o futebol ainda estava a recuperar dos horrores dos desastres dos estádios de Hillsborough e Heysel. Os proprietários tendiam a ser locais e a ter um passado empresarial.
O único proprietário estrangeiro era Sam Hamman, do Wimbledon, um milionário libanês que comprou o clube por capricho.
Agora, é o cenário é bem diferente. Se o recente acordo do Friedkin Group, sediado no Texas (EUA), para a compra do Everton se concretizar, 11 dos 20 clubes da Premier League passarão a ser controlados ou parcialmente detidos por investidores norte-americanos.
Apesar na mania do “soccer” e ter serem vistos como a última fronteira do futebol masculino, os EUA parecem cada vez mais entusiasmados com o “soccer” inglês – que, na realidade, é “football”.
Hoje, quatro dos “big six” da Premier League são propriedade de norte-americanos – Manchester United, Liverpool, Arsenal e Chelsea – e um quinto, o Manchester City, tem uma participação minoritária significativa dos EUA.
O Aston Villa, o Fulham, o Bournemouth, o Crystal Palace, o West Ham e o Ipswich Town também têm vários graus de propriedade americana.
Mas não se trata apenas dos clubes de topo.
O investimento americano também se tem feito notar nos escalões mais baixos da pirâmide do futebol. Temos os exemplos do Wrexham, comprado pelos atores de Hollywood Ryan Reynolds e Rob McElhenny, e do Birmingham City adquirido por investidores americanos, incluindo pelo crónico vencedor da Super Bowl Tom Brady.
Risco de americanização da PL?
O The Conversation questiona-se sobre a razão desta obsessão americana pelo futebol inglês? E até que ponto se corre o risco de estes proprietários americanos “americanizarem” as tradições da Premier League – seja reduzindo o risco de clubes despromovidos ou transferindo jogos e até clubes para outras cidades?
Embora as despromoções e as promoções tenham sido sempre uma parte integrante do futebol inglês e europeu (e que lhe dão entusiasmo), isso não existe na NFL, na NBA, e noutras competições norte-americanas.
A Premier League, com os seus três lugares de despromoção no final de cada época, conta com 51 clubes diferentes desde o seu lançamento em 1992.
Apenas Arsenal, Tottenham, Chelsea, Manchester United, Liverpool e Everton – nunca foram despromovidos.
Como escreve o The Conversation, outros clubes da Premier League experimentaram o dramático custo-benefício da despromoção e da promoção.
O Oldham Athletic, por exemplo, que esteve na Premier League nas duas primeiras épocas, está agora no quinto escalão do futebol, fora da Liga Inglesa de Futebol (EFL). Em contrapartida, o Luton Town, que ainda em 2014 estava no quinto escalão, foi promovido à Premier League em 2023 – apenas para ser despromovido no final da época passada.
O crescente interesse americano estende-se a possíveis inovações como a realização de jogos da Premier League no estrangeiro e a adaptação de elementos das ligas desportivas americanas, como os jogos All-Star, reflectem uma tentativa contínua de explorar novos mercados e maximizar as receitas.
Este cenário representa um desafio contínuo e complexo para a Premier League, oscilando entre a tradição e a inovação, com potencial para alterar profundamente o panorama do futebol inglês e mundial.
A “revolução americana” no futebol inglês não só reconfigura a gestão financeira e a propriedade dos clubes, como também gera debates vibrantes sobre a integridade e o futuro do jogo.