José Sena Goulão / Lusa

A líder do PAN, Inês Sousa Real.
Foi divulgada, este domingo, uma carta aberta que pede a avaliação da atual direção do PAN. A liderança do partido, encabeçada por Inês Sousa Real, é acusada de se desviar dos “valores fundadores”.
Uma carta aberta subscrita por ex-dirigentes do PAN pede uma avaliação da direção do partido “sem receio de ter de mudar”, acusando a atual liderança de se desviar dos “valores fundadores”.
Numa carta aberta divulgada na Internet dirigida a pessoas filiadas, simpatizantes e dirigentes do PAN, os 35 signatários, em que se incluem os antigos dirigentes Bebiana Cunha, Anabela Castro, Nuno Pires, Miguel Queirós ou Carolina Pia, salientam que todos “têm a sua história dentro do PAN” e recordam o lançamento das fundações do projeto político Pessoas-Animais-Natureza em 2009.
Os signatários, entre os quais estão vários nomes que se demitiram da direção nos últimos meses, consideram que a atual liderança “não encara os próprios erros e falhas” e tem tido um mandato marcado “por dissabores internos, diversas derrotas políticas, lutas de poder que se tornaram mais importantes do que a missão do partido e por uma cultura de afastamento da crítica interna”.
“A atual liderança tem vindo a afastar-se dos valores fundadores do PAN, quando sistematicamente toma decisões contrárias à sua génese e incompreensíveis perante os princípios do partido. As opções que se vão tomando assentam numa lógica de mera estratégia de sobrevivência política, em que os fins passaram a justificar os meios”, criticam.
Em declarações à Antena 1, Pedro Ribeiro e Castro acusa a líder do partido Inês Sousa Real de ser autoritária e não ter capacidade de autocrítica.
“A partir do momento em que se ouvem vozes dissonantes e não se aceitam críticas, isto é uma autocracia. A Inês nunca teve espírito de autocrítica“, disse o deputado municipal do PAN em Gaia, que subscreve a carta.
Ribeiro e Castro considera que a líder do partido devia ponderar a demissão, referindo que “líderes de partidos que não conseguem atingir objetivos eleitorais, sejam eles eleitorais ou internos, demitem-se”.
“Coligações incompreensíveis”
Sobre as autárquicas de 12 de outubro, os signatários apontam “a ausência de uma estratégia coerente”, que resulta “em coligações avulsas, sem critérios ideologicamente compreensíveis, assentes em promessas de cargos ou falta de projetos políticos próprios”.
“Há coligações, naturais em democracia, que são aceitáveis, por serem feitas com forças políticas cujos valores podem convergir com o PAN. Contudo, são completamente incompreensíveis as coligações com partidos ideologicamente opostos e distantes, nomeadamente aqueles que permitem a prática de crimes ambientais ou que defendem a promoção da tauromaquia”, disse.
O PAN integra coligações com o PSD e a IL em Sintra e com estes dois partidos e o CDS-PP, em Faro, por exemplo.
Os signatários deixam um apelo coletivo para que se pare e avalie o atual rumo, “antes que seja demasiado tarde e o PAN desapareça ou se transforme num outro ideário político e social”.
“Sem receio de ter de mudar. É preciso relembrar que o PAN é mais do que a soma das suas pessoas e que a sua ideologia é mais importante do que quaisquer tipos de interesses”, afirmam.
Os subscritores asseguram continuar “comprometidos com os valores e a missão do PAN na sociedade portuguesa” e deixam o que classificam de “apelo simples e ambicioso”.
“Avaliar o caminho que tem sido traçado, reposicionar o partido na sua matriz ideológica, seja no pensamento estratégico, seja na sua comunicação, e reconstruir o PAN a partir dessa avaliação e sentido de missão. Escutar, com humildade, os que estão e os que se afastaram por não se reverem no atual PAN”, pedem.
E lançam uma pergunta: “Está o PAN ainda a ser fiel aos princípios que afirma defender? Está o PAN a ajudar as causas, ou a desmerecê-las?”.
A carta aberta termina pedindo que “se ouçam todas as vozes – sobretudo aquelas que permanecem fiéis ao projeto original e que não se reveem no rumo atual”.
“Acreditamos que um novo caminho é possível e que o PAN pode – e deve – voltar a ser o farol que ilumina o futuro (…) Façamo-nos ouvir, com a esperança de que o PAN se possa cumprir! É a hora!”, apelam.
No sábado, confrontada com demissões internas recentes, a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, considerou que as saídas foram de pessoas que “não estavam comprometidas” nem com a sua agenda, nem com o partido.
ZAP // Lusa