Criminalidade nas escolas aumentou. Isto quer dizer que houve mais crimes?

As ocorrências de natureza criminal nas escolas aumentaram 6,8% no ano letivo passado. Foi o número mais elevado dos últimos 10 anos. Mas podemos dizer que houve mais crimes nas escolas? Talvez não.

A criminalidade nas escolas voltou a aumentar, no ano letivo 2023/2024.

De acordo com uma versão preliminar do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024,que a Lusa divulgouesta segunda-feira, as forças de segurança registaram um total de 7.128 comunicações, das quais 5.747 foram de natureza criminal.

Este número tem vindo a aumentar significativamente, na última década. Mas isto quer dizer que há cada vez mais crimes?

Em declarações à Antena 1, o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares esclareceu que esta tendência crescente está em linha com a também maior sensibilidade das escolas para reportarem estes casos às autoridades.

“Os dados podem ser mais altos agora porque nós [escolas/professores/diretores] estamos cada vez mais sensibilizados para reportar os casos. Antes, tratávamos das questões na própria escola e, normalmente, não se fazia esse registo“, explicou Manuel Pereira.

Ainda assim, o dirigente associativo admite que atualmente se vive uma realidade preocupante: “há muitos casos de natureza criminal. Regularmente, comunicamos casos ao Ministério Público, às autoridades, GNR ou PSP, casos que acontecem dentro da escola ou fora da escola. Estamos muito preocupados, porque achamos que as escolas nem sempre têm os meios ou mecanismos necessários para poder proteger as vítimas”.

O RASI destacou os crimes de ofensas à integridade física (2.249 ocorrências), furtos (cerca de 1.000), ofensas sexuais (171 ocorrências), e roubos (com 117). Há também a registar 76 ocorrências por posse ou uso de arma.

De referir que também foram contabilizadas as ocorrências fora do recinto.

Em relação à distribuição geográfica, Lisboa é o distrito onde foram registadas mais ocorrências (2.044). Segue-se o Porto (1.133), Setúbal (707), Aveiro (434), Faro (416), Braga (383), Leiria (258) e Santarém (249).

Criminalidade violenta aumentou

Na sociedade, em 2024, a criminalidade violenta e grave aumentou 2,6% no ano passado em relação a 2023, com 14.385 crimes registados.

Contudo, a criminalidade geral desceu 4,6% ao registar 354.878 participações.

O RASI preliminar dá conta que na criminalidade violenta e grave os crimes que mais subiram foram roubo por esticão (mais 8,7%), roubo de viatura (mais 106,3%) roubo em edifícios comerciais ou industriais (mais 21,7%), violação (mais 9,9%) e roubo a bancos ou outros estabelecimentos de crédito (mais 128,6%).

Os crimes que mais desceram no ano passado face a 2023 foram resistência e coação sobre funcionário (-16,2%), ofensas à integridade física voluntária grave (-6,1%), roubo na via pública exceto por esticão (-0,3%), outros roubos (-8,3%) e roubo a posto de abastecimento de combustível (-12,3%).

A delinquência juvenil manteve no ano passado a tendência de subida desde 2021, que destaca a predominância de casos ligados à criminalidade sexual.

7 país mais seguro do Mundo

À saída da reunião do Conselho Superior de Segurança Interna, que aprovou o RASI, esta segunda-feira, o primeiro-ministro Luís Montenegro disse que o Governo vai manter reforço de operações policiais, face à insegurança sentida por muitos portugueses.

“A minha opinião não mudou, nós temos todas as razões para continuar a investir na segurança, no policiamento de proximidade, na prevenção das condutas criminais que são geradoras do sentimento de insegurança que muitos portugueses sentem no seu dia-a-dia”, afirmou.

O Índice Global da Paz de 2024 pôs Portugal na sétima posição.

Talvez a perceção de insegurança esteja a ser inflacionada, ou artificialmente alimentada. E talvez seja necessário colocar em perspetiva os episódios de insegurança que ocasionalmente ocorrem no país — e olhar para eles à escala do que acontece nos restantes 162 países classificados no índice. Portugal é mais seguro do que 156 das nações avaliadas no IGP.

Miguel Esteves, ZAP // Lusa

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