Covax tem, pela primeira vez, vacinas a mais para doar aos países mais pobres

John Cairns / University of Oxford

Vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford

Iniciativa estima que as doações comecem a diminuir nos próximos meses, à medida que os países ricos fecham o ciclo da pandemia. 

Depois de um ano a gerir os constrangimentos inerentes a um processo de vacinação global durante uma pandemia, a Covax, iniciativa internacional de partilha de vacinas contra a covid-19, tem finalmente vacinas a mais para doar pelos países mais pobres. De facto, nesta fase, o problema cinge-se mais à procura do que com a oferta, com a iniciativa a procurar um país, ou países, que necessitem de 300 milhões de doses.

Aquando do início do processo de vacinação – nas últimas semanas de 2020 e primeiras de 2021, dependendo dos territórios, – os países mais ricos do mundo adquiriam a maior parte das vacinas, inoculando as suas populações primeiro, criando um fosso de desigualdade também no que concerne às inoculações. Atualmente, mais de 70% das pessoas dos países ricos já foram vacinadas, ao passo que nos territórios mais pobres apenas um terço dos indivíduos estão imunizados por via da vacinação.

Quando a dificuldade deixou de ser a quantidade de vacinas disponíveis, os países enfrentaram dificuldades logísticas, como problemas nas cadeias de frio, mas também sociais, como hesitação vacinal ou falta de recursos económicos para apoiar a rede de distribuição.

Segundo a Reuters, em janeiro deste ano, a Covax tinha 436 milhões de vacinas para distribuir, mas os países abrangidos pelo programa pediram apenas 100 milhões de doses para serem distribuídas até ao final de maio. Esta foi a primeira vez em 14 rondas que a oferta por vacinas da covid-19 superou a procura.

Tal como explicou um porta-voz da Aliança Global para as Vacinas (Gavi), que administra a Covax juntamente com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Covax está agora numa situação em que há oferta atual suficiente para responder à procura, mas reconheceu que todo o o processo de vacinação que se segue à receção das vacinas tem falhas em vários países menos desenvolvidos.

“Só acabaremos com a lacuna da equidade de vacinas de uma vez por todas se pudermos ajudar os países a lançar os processos de vacinação rapidamente em em larga escala”, explicou o porta-voz. Ainda assim, ressalvou, que não forem atribuídas pela Covax nesta fase poderão ser alocadas no futuro.

No entanto, este atraso e o facto de existirem vacinas a mais é particularmente grave no caso das vacinas da Pfizer-BioNTech, que precisa de ser mantida a temperaturas ultra-negativas, a qual se tornou a principal vacina doada pelo programa global. Países africanos, como o Burundi e a Guiné-Conacri, têm lacunas em todas as etapas da cadeia de frio, tanto no que respeita ao território nacional como nos centros de distribuição locais, de acordo com uma investigação da UNICEF.

Este problema é naturalmente agravado pela falta de recursos económicos e reforça as preocupações de que a Covax não investiu com a devida rapidez nas infreaestruturas e equipamentos nos países que iriam receber as vacinas. Aliás, estima-se que as verbas destinadas a financiar estas iniciativas globais também comecem a escassear, à medida que que os países mais ricos começam a superar a pandemia.

De acordo com a Gavi, neste trimestre, apenas conseguiu angariar 195 milhões dos 5,2 mil milhões que estava a pedir, verba que será usada para adquiri e fazer o envio de vacinas, mas também fornecer seringas e apoio à entrega nos países mais pobres.

ZAP //

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