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Costa “não conhece” polémica em Timor com o novo chefe das secretas

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Manuel de Almeida / Lusa

O primeiro-ministro, António Costa

O primeiro-ministro, António Costa

O primeiro-ministro, António Costa, mantém a confiança em José Júlio Pereira Gomes para o cargo de chefe das “secretas”, e alega desconhecimento perante o caso Timor que questiona a actuação do diplomata.

“A confiança que tenho no embaixador José Júlio Pereira Gomes para o desempenho das funções foi o que me levou a convidá-lo” para o cargo de secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), sublinhou António Costa aos jornalistas, à margem da inauguração de um hotel, na Covilhã.

O primeiro-ministro foi questionado se admitia reconsiderar a confiança no chefe das secretas, depois de nos últimos dias terem surgido várias críticas à forma como Pereira Gomes abandonou Timor-Leste, após o referendo de 1999 naquele país.

António Costa nota que não tem motivos para mudar a sua escolha, manifestando total desconhecimento com os acontecimentos, ocorridos em Timor-Leste em 1999, numa altura em que era ministro dos Assuntos Parlamentares.

O caso Timor

Em 1999, aquando do referendo à independência de Timor Leste, Pereira Gomes era o chefe da missão de observadores portugueses no país que estava ocupado pela Indonésia. Há várias vozes que o acusam pela saída intempestiva de Portugal do país, a 9 de Setembro daquele ano, alegadamente contrariando a decisão do governo, e de ter deixado para trás os timorenses que estavam a trabalhar com a missão nacional.

Pereira Gomes garante, num artigo de opinião no Público, que o Governo português deu ordem de retirada à missão nacional, quando a violência se alastrou por Timor, negando ter deixado para trás os timorenses.

Mas a eurodeputada do PS Ana Gomes e o jornalista do Público Luciano Alvarez, que integravam a comitiva portuguesa em Timor-Leste, acusam-no de mentir.

José Júlio Pereira Gomes mente quando diz que a saída dos observadores aconteceu por ‘ordem expressa’ do Governo; e mente quando afirma: ‘Todos os timorenses – e seus familiares – que tinham trabalhado com a nossa missão de observação e connosco se tinham refugiado nas instalações da UNAMET foram evacuados [retirados] connosco e em virtude da nossa intervenção’”, refere Luciano Alvarez num artigo no Público.

Alvarez assegura que esses timorenses só foram salvos devido à intervenção de outros membros da missão e dos jornalistas portugueses que estavam no país.

António Costa era na altura ministro dos Assuntos Parlamentares, mas desconhecia o caso, refere a TSF, e está a tentar recolher mais informações, conforme adiantam os jornais Expresso e Diário de Notícias.

Costa já terá ouvido o director nacional da PSP, Luís Farinha, que integrava a missão de observadores em Timor, e pretenderá também auscultar António Guterres, o primeiro-ministro da altura, e Jaime Gama, o então ministro dos Negócios Estrangeiros.

“Não inspira confiança e autoridade”

Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, já pediu ao Governo para “reconsiderar” a escolha, lembrando que “quando Pereira Gomes chefiava a missão em Timor houve vários episódios bastante complicados” e notando que houve no seu partido quem tenha acompanhado a situação de perto.

O PSD, que começou por considerar que Pereira Gomes tinha “um bom perfil” para o cargo, conforme palavras da deputada Teresa Leal Coelho, vice-presidente do partido, ao Diário de Notícias, mostra-se agora, também preocupado com a escolha.

Já a eurodeputada Ana Gomes manifestou-se “muito surpreendida e apreensiva”, porque, “não estando em causa o percurso profissional, falta a Pereira Gomes o perfil psicológico”, conforme declarações ao mesmo jornal.

“Tenho dúvidas de que o embaixador Pereira Gomes tenha capacidade para aguentar situações de grande pressão. Não inspira confiança e autoridade junto dos seus subordinados nos serviços de informações”, diz ainda Ana Gomes ao DN.

O Presidente da República também já comentou o caso, considerando que será “muito importante” a audição prévia de Pereira Gomes no Parlamento.

Após a visita à Base das Lajes na Ilha Terceira, nos Açores, Marcelo Rebelo de Sousa disse estar a acompanhar o assunto, notando que se for chamado “a intervir” fá-lo-á de modo “discreto” para ser “eficaz”.

ZAP // Lusa

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