Uma reportagem da CNN cita relatórios da ONU e revela que Moçambique ajuda o regime norte-coreano a financiar-se através de cooperação económica ilegal. Moçambique nega desrespeitar sanções.
À primeira vista, nada de errado no porto de Maputo. Mas, entre todos os barcos, estão dois especiais: os enferrujados Susan 1 e Susan 2. Estes dois barcos de aparência velha não são os navios de pesca comuns. Na verdade, são veleiros que barcos que contornam as sanções com tripulantes da Coreia do Norte.
Inicialmente, pode parecer estranho o interesse de Pyongyang num par de navios enferrujados. Mas, em Moçambique, a pesca não é um negócio qualquer: é O negócio, sendo uma das indústrias mais lucrativas do país. A Coreia do Norte quer, por isso, um fatia desse muito apetitoso bolo e os barcos são fáceis de mover e esconder.
No Susan 1, a bandeira da Coreia do Norte foi substituída há meses pela bandeira da Namíbia, outro país acusado de ajudar o regime de Kim, mas a tripulação é norte-coreana. Os pescadores vão, muitas vezes, à cidade fazer compras, ignorando, provavelmente, o jogo geopolítico do qual são peões.
A pesca é apenas uma das muitas áreas de comércio ilícito nas quais os dois países estão envolvidos. Numa investigação de vários meses, a CNN descobriu uma rede secreta de cooperação de empresas (muitas delas de fachada), cooperação militar e treino de forças de elite entre a Coreia do Norte e Moçambique, todos em violação das sanções internacionais, de acordo com investigadores das Nações Unidas.
A cooperação é selada com contratos ilegais no valor de milhões de dólares. O dinheiro é canalizado através de diplomatas norte-coreanos de Maputo para Pyongyang.
O governo moçambicano já reagiu à reportagem negando estar a cooperar com o regime norte-coreano. Maria Manuela Lucas, vice-ministra do Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, admitiu a existência de uma relação política entre Moçambique a Coreia do Norte, mas garantiu seguir “à risca” as orientações das Nações Unidas, no que toca à cooperação económica.
Funcionários norte-americanos garantem saber há muito que o dinheiro angariado em Moçambique é redirecionado diretamente para o fundo nuclear do líder norte-coreano, o Offie 39.
Segundo o Observador, neste momento, tanto a administração Trump como a ONU, mantêm o regime de Kim Jong-un debaixo de olho, mas o plano não estará a funcionar como desejado.
De acordo com um relatório não publicado da ONU, citado pela CNN, a Coreia do Norte lucrou mais de 200 milhões de dólares (160 milhões de euros) a exportar carvão e outros produtos proibido (no âmbito das sanções) entre janeiro e setembro de 2017.
Nesse relatório, são descritas as violações das resoluções da ONU pela Coreia do Norte e seus cúmplices, já que Kim Jong-un utiliza o apoio dos seus aliados e recorre a contas offshore. A CNN teve acesso a comunicações oficiais trocadas entre as forças armadas moçambicanas e as da Coreia do Norte, incluindo um convite moçambicano às tropas norte-coreanas em 2015, para que se deslocassem ao país.
A ligação entre a Coreia do Norte e Moçambique já foi investigada pela ONU em 2017, mas a cooperação entre os dois países pode ser mais estreita do que consta do relatório.
Fontes militares moçambicanas confirmaram à CNN que forças de elite norte-coreanas foram treinadas numa base em Maputo há dois anos e, em troca, os norte-coreanos ajudaram Moçambique na criação de um sistema de defesa aérea e na remodelação de tanques.
Os relatórios semestrais da ONU pretendem expor quem ajuda os Estados que violam as sanções e já provaram ligações militares da Coreia do Norte a Moçambique no valor de 6 milhões de dólares (4,8 milhões de euros).
O valor foi angariado através de uma empresa de fachada com o nome Haegeumgang. A CNN descobriu a sede desta empresa, um edifício de dois andares na avenida Mao Tse-Tung, no centro de Maputo.
Pelos vistos os moçambicanos em vez de sofrerem apenas de um mal vão passar a sofrer de dois, pobre África nas mãos de quem caís-te!