Uma organização privada sem fins lucrativos acusa a Coreia do Norte de criar e treinar golfinhos para fins militares, à semelhança dos programas já desenvolvidos pelos Estados Unidos e Rússia, mas também não descarta que a alegação incida simplesmente sobre a atividade da piscicultura.
A U.S. Naval Institute (USNI) diz que há imagens de satélite que mostram uma alegada instalação para treinar estes animais numa base naval em Nampo, a oeste do país.
De acordo com um artigo publicado no seu site, as imagens em causa datam de 2015, quando o que parecia ser um viveiro de animais apareceu junto de um estaleiro perto de unidades navais norte-coreanas. “Mas a atividade principal mudou-se para um local mais acima no rio, na periferia da cidade (…) Esta base, possivelmente onde os golfinhos são criados, começou o seu desenvolvimento em outubro de 2016″, pode ler-se.
A mesma organização reconhece semelhanças entre estas imagens e os centros de treinamento de golfinhos russos e norte-americanos, mas não descarta que os viveiros possam ser apenas isso mesmo – “algum tipo de piscicultura”.
Ainda assim, a organização parece acreditar mais na hipótese do treinamento para fins militares, sublinhando que muitas das infraestruturas captadas pelas imagens são diferentes de outros viveiros já observados na Coreia do Norte.
“A Coreia do Norte tem enfatizado cada vez mais a criação de peixes nos últimos anos e estes estão a aparecer em todo o país. Muitos são comandados pelas forças armadas”.
Em declarações à revista norte-americana Newsweek, Harry Kazianis, Diretor Sénior de Estudos Coreanos do Centro de Interesse Nacional, disse ser possível que as imagens em causa mostrem um programa militar com golfinhos.
“Embora muitas vezes pensemos nos norte-coreanos como pessoas pobres, famintas e atrasadas, a sua economia e desafios levam-nos a inovar de formas com as quais às vezes não nos podemos relacionar”, começou por explicar.
“Devido à falta de recursos, [os norte-coreanos] criam muitas vezes armas que nunca consideraríamos, e usar golfinhos para aplicações militares faz sentido neste contexto. Embora seja difícil saber em quais missões e quais cenários os golfinhos seriam usados, acredito que seja possível”, rematou.
Embora possa parecer um pouco estranho, o uso de golfinhos nas forças armadas remonta à década de 1960, quando vários animais marinhos, como tubarões, tartarugas e golfinhos foram testados para se apurar o seu potencial em operações.
O Programa de Mamíferos Marinhos da Marinha dos Estados Unidos (NNMP), com sede em San Diego, no estado da Califórnia, recorre atualmente a golfinhos e leões marinhos para algumas tarefas, como a deteção de minas subaquáticas.
O programa foi mantido em segredo durante décadas, levando a especulações de que os animais eram utilizados como armas ofensivas. O NNMP diz que estas afirmações não são verdadeiras, apesar de continuarem populares na imaginação das pessoas.
Na mesma época, outros países desenvolveram programas semelhantes, incluindo a Rússia, o país que mais se destacou neste campo à época.
Em abril de 2019, um grupo de pescadores noruegueses encontrou uma baleia com um arnês no dorso, no qual se podia ler: “equipamento de São Petersburgo”, e logo associou o aparecimento do animal ao programas militares da Rússia.
Especialistas noruegueses citados pelo jornal britânico The Guardian na época adiantaram que o equipamento podia ser usado para transportar uma câmara ou até uma arma.
Depois do que viram, levantaram suspeitas de que o animal tenha recebido treino militar do exército russo e esteja a ser usado como arma de espionagem no Mar da Noruega. “Se esta baleia vem da Rússia — e há grandes razões para acreditar que sim — então não são cientistas russos, mas sim a marinha“, disse Martin Biuw, do Instituto de Investigação Marinha da Noruega, citado pelo mesmo diário.