Evocando razões de saúde pública devido à pandemia, as autoridades de Hong Kong proibiram a vigília de quinta-feira que visava assinalar o 31.º aniversário do massacre de Tiananmen. As aglomerações com mais de oito pessoas continuam proibidas naquela região, mas milhares de residentes ignoraram a proibição.
Segundo noticiou o Expresso, a proibição da vigília levou, entre outros atos, a detenções, apelos à independência, tentativas de bloqueio de estradas e outras ações frustradas, bem como slogans antigovernamentais. Mais de três mil agentes foram destacados.
Na quinta-feira, foi também aprovado pelo Conselho Legislativo de Hong Kong o projeto de lei que criminaliza o uso indevido do hino da República Popular da China, que prevê uma pena até três anos de prisão. Esta lei será agora formalmente ratificada pela chefe do Executivo local, Carrie Lam.
Na semana passada, o Congresso Nacional do Povo aprovou a lei de segurança de Hong Kong, segundo a qual as manifestações serão consideradas atos de subversão do poder do Estado, podendo configurar a prática de terrorismo.
“A vigília foi ostensivamente proibida com a explicação da necessidade de se manter o distanciamento social. Mas, tendo em conta a forte presença policial no local, esse motivo soa a falso”, disse ao Expresso a advogada Angeline Chan.
Outra jurista, que falou sob anonimato, disse: “Com a iminente lei de segurança, a proibição da vigília junta-se à atmosfera sombria que já se vive em Hong Kong”.
“É incrivelmente triste que a cerimónia tenha sido proibida pela primeira vez em 30 anos. No entanto, além das concentrações maiores, os residentes assinalaram a data individualmente ou em grupos mais pequenos, acendendo velas por toda a cidade e juntando-se a um evento online organizado pela Aliança de Hong Kong. As autoridades podem reprimir as nossas atividades, mas não vão conseguir reprimir o nosso espírito”, sublinhou a jurista.
Na sessão legislativa de quinta-feira, para aprovação da lei sobre o hino, a oposição esvaziou uma garrafa com um líquido acastanhado e malcheiroso, levando à suspensão do debate. Quando retomado numa outra sala, foi lançada uma nova garrafa.
Ao South China Morning Post, citado pelo Expresso, o primeiro dos deputados contestatários afirmou: “Nunca devemos perdoar o Partido Comunista, que matou o seu próprio povo há 31 anos sem que ninguém fosse responsabilizado. Um regime tão vergonhoso fica a cheirar mal para sempre”.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, prometeu que iria permitir que três milhões de pessoas de Hong Kong vivam e trabalhem no Reino Unido caso se avance com a nova lei de segurança. A China rejeitou a ideia, indicando que aquele país não tem o direito de fazer a oferta a residentes de Hong Kong que são cidadãos chineses.
“Polícia usou força irracional” em Macau
Deputados pró-democracia de Macau insurgiram-se esta sexta-feira contra a detenção de duas mulheres, por parte das autoridades, suspeitas de participarem numa reunião ilegal na quinta-feira para assinalar o massacre de Tiananmen.
“A polícia usou força irracional (…) Não havia necessidade de levar alguns jovens para à esquadra”, disse à agência Lusa o deputado Sulu Sou.
Já o deputado Au Kam San, pai das duas mulheres detidas e organizador da vigília que decorreu no interior de uma habitação, disse ter ficado em “choque”.
“Nunca imaginei que uma assembleia pudesse ser assim definida. Se esta definição absurda se mantiver, qualquer pessoa de Macau pode ser acusada de reunião ilegal em qualquer altura”, apontou, no Facebook, referindo à justificação que as autoridades deram para deter as suas filhas por mais de três horas.
“Verificou-se que duas mulheres eram suspeitas de violar as instruções relevantes deste departamento e realizaram atividades de manifestação”, indicou o Corpo de Polícia de Segurança Pública.
Na mesma nota, acrescentou: “Como as duas mulheres mencionadas acima eram suspeitas de violar as leis de ‘Direitos de reunião’ (…), a polícia levou-as a este departamento para uma investigação mais aprofundada”.
As detenções aconteceram por volta das 22:30 de quinta-feira (15:30 em Lisboa), no largo do Leal Senado, local onde normalmente se realiza a vigília. Au Kam San partilhou uma fotografia tirada por uma das suas filhas onde se pode ver duas velas de plástico e um panfleto alusivo à data e ainda a sua outra filha sentada num banco em frente à igreja de São Domingos.
O deputado foi um dos organizadores da vigília, que desta vez teve de ser feita na casa da sede da União de Macau para o Desenvolvimento da Democracia. A data foi assinalada, com transmissão ‘online’, por cerca de 10 pessoas, dentro de uma casa, entre as quais as duas mulheres detidas.
A vigília no largo do Leal Senado foi proibida pela polícia devido risco pandémico que se vive no território, uma justificação validada pelo Tribunal de Última Instância. Macau não regista casos novos há cerca de dois meses e teve no total 45 infetados com a covid-19.
Sulu Sou também viu a sua ideia rejeitada, pelas autoridades, de fazer várias ‘mini-vigílias’ em diferentes locais emblemáticos da cidade, com reuniões até cinco pessoas, de forma a respeitar as diretrizes contra aglomerações instauradas por causa da pandemia. “Acredito que quanto mais o Governo suprimir a sociedade civil, mais os cidadãos resistirão”, disse ainda.
Coronavírus / Covid-19
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