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“Um país, dois sistemas”. Continuam os protestos em Hong Kong contra lei de extradição

Will Oliver / EPA

A polícia de Hong Kong informou, esta quinta-feira, que 11 manifestantes foram detidos e 22 agentes ficaram feridos no protesto contra emendas à proposta de lei que preveem a extradição de suspeitos de crimes para a China.

O comissário Stephen Lo Wai-chung disse que os detidos foram acusados de conduta desordeira e de crimes relacionados com tumultos e sustentou que, embora a polícia tenha dado espaço de manobra para os manifestantes expressarem a sua oposição, foi necessário o uso da força por terem sido arremessados objetos às forças de segurança.

O responsável policial confirmou ainda a utilização de gás lacrimogéneo, gás pimenta e armas antimotim para dispersar os manifestantes.

Relativamente a estes confrontos, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shuang, considerou que os protestos “não são uma manifestação pacífica”, mas antes um “flagrante tumulto organizado”, e acrescentou que “nenhuma sociedade civilizada, regida pela lei, toleraria ações ilegais que perturbam a paz e a tranquilidade”.

Este foi o segundo protesto em quatro dias a causar o caos no centro da ex-colónia britânica, agora administrada pela China, com esta última manifestação a ser marcada também pelo confronto entre jovens e as forças de segurança. Os acontecimentos obrigaram o Executivo a adiar o debate e a encerrar até sexta-feira as instalações da sede do Governo.

“Por razões de segurança, os gabinetes do Governo permanecerão temporariamente encerrados hoje e amanhã”, lê-se num comunicado do portal do Governo do território.

No domingo, centenas de milhares de pessoas protestaram contra a proposta de lei, com os organizadores a falarem de mais de um milhão de pessoas e as forças policiais a admitirem apenas 240 mil. A imprensa estatal chinesa só hoje referiu os protestos, caracterizando-os como um “tumulto” e acusando os manifestantes de “atos violentos”.

Proposto em fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”.

Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.

A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio ‘um país, dois sistemas’, precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.

Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.

ZAP // Lusa

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