Confusão na Assembleia de Lisboa: líder do grupo Reconquista retirado pela polícia

Jerome Dahdah / Flickr

Edifício da Câmara Municipal de Lisboa.

“Comunas, um dia vão pagar caro”, ouviu-se em resposta aos gritos de “25 de Abril, sempre”, após um discurso de Afonso Gonçalves, líder do grupo ultranacionalista, que não cumpriu as regras da Assembleia lisboeta.

A reunião da Assembleia Municipal de Lisboa (AML) foi esta terça-feira temporariamente suspensa após intervenção do presidente do grupo ultranacionalista Reconquista, Afonso Gonçalves, que foi retirado da sala pela Polícia Municipal por desobedecer às regras deste órgão.

Fazendo uso do período de intervenção aberto ao público, que é dedicado à exposição de problemas por parte dos munícipes, Afonso Gonçalves apresentou-se como presidente e fundador do movimento Reconquista e disse que iria falar sobre segurança e criminalidade em Lisboa.

Como os restantes munícipes, tinha três minutos para fazer a sua intervenção e utilizou esse tempo maioritariamente para pedir, por várias vezes, “silêncio na sala”, tendo em conta o “burburinho”.

“É curioso que tenha de ser um munícipe a estabelecer algumas regras de bom senso e respeito democrático”, declarou.

Em resposta, a presidente da AML, Rosário Farmhouse (PS), disse que “a assembleia tem sempre alguma dinâmica e algum ruído de fundo” e avisou: “Esta é Assembleia Municipal de Lisboa, não é a sua assembleia, portanto agradeço que possa fazer a sua intervenção com as regras da Assembleia Municipal de Lisboa.”

Rosário Farmhouse questionou o microfone na lapela de Afonso Gonçalves, que tinha pessoas a filmá-lo na sala, além de estar a ser feita a transmissão habitual da AML, tendo o presidente do grupo ultranacionalista dito que os serviços o permitiram.

Depois de utilizar a maioria dos três minutos para trocar palavras com a presidente da AML sobre as regras deste órgão, em particular a questão do silêncio durante a intervenção, Afonso Gonçalves pediu o restabelecimento do tempo. Rosário Farmhouse respondeu que não era possível, mas admitiu dar “alguma tolerância”.

“Venho dar voz aos problemas dos lisboetas, de forma realista e honesta, apesar da censura e do silenciamento que me têm tentado impor e a que sou sujeito. A Lisboa de hoje já não é a verdadeira Lisboa. A Lisboa de hoje é uma capital de sujidade, de substituição populacional, de crime, de insegurança”, declarou Afonso Gonçalves, enquanto recebia alertas da Mesa da AML de que já tinha terminado o tempo de intervenção.

Apesar dessa indicação, o representante do Reconquista desobedeceu e continuou a falar, mantendo-se no palco. Rosário Farmhouse lamentou o “discurso injurioso para com os membros desta assembleia”, ressalvando que seria possível enviar informação por escrito.

Afonso Gonçalves insistiu em continuar a falar, nomeadamente sobre imigração, e voltou a ser advertido pela presidente: “Não pode vir aqui ditar as regras da assembleia municipal.”

“É vergonhoso a vossa forma de fazer democracia”, considerou o presidente do Reconquista.

Na sequência desta intervenção, a presidente suspendeu temporariamente a sessão e dois elementos da Polícia Municipal retiraram Afonso Gonçalves do palco.

Os partidos de esquerda gritaram “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”, ao que um elemento do grupo Reconquista respondeu, enquanto filmava: “Comunas. Um dia vão pagar caro”.

O grupo Reconquista apresenta-se, no seu site, como um movimento político apartidário fundamentado em três pilares: “pátria – preservar a identidade etnocultural portuguesa; identidade – defender os valores familiares, sociais e culturais tradicionais; e futuro – reivindicar instituições que verdadeiramente representem e projetem o interesse do Estado-Nação”.

O grupo e o seu líder, hoje expulso da Assembleia, tem vindo a ser associado a André Ventura e ao Chega.

“Ventura a partilhar o símbolo da Reconquista ao lado do símbolo do Chega e com uma estética associada à Remigração, e ainda há pessoas a duvidar? Vamos mesmo ganhar”, escreveu Afonso Gonçalves na rede social X aquando da partilha de Ventura de uma montagem sua vestido de comandante da TAP para defender a deportação de imigrantes ilegais.

O grupo é o mesmo que conseguiu alugar e reunir na mesma Assembleia em novembro, num evento que contou com militantes que seguem declaradamente a doutrina de Adolf Hitler, com figuras de destaque no cenário da extrema-direita internacional, como Steve Laws, um britânico autointitulado “caçador de migrantes”, Dries Van Langenhove, uma figura de relevo na extrema-direita belga, e Keith Woods, um irlandês com ligações ao Ku Klux Klan., apurou na altura o Expresso.

O grupo reforça que não é neonazi: a Reconquista “é uma organização nacionalista e tradicionalista; não neonazi”, escreve nas redes sociais.

ZAP // Lusa

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