Esta noite, o “competente” Costa e o “confiável” Rio estarão frente a frente para o debate que pode decidir o desfecho das próximas eleições

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PSD / Flickr; José Sena Goulão / Lusa

Rui Rio, António Costa

Recente aproximação das intenções de voto eleva a importância do debate desta noite, no que será o único frente-a-frente direto dos dois principais candidatos a primeiro-ministro.

A indústria das sondagens em Portugal dificilmente se pode comparar à dos Estados Unidos da América. Naquele país, as semanas que antecedem a derradeira votação são marcadas por novos resultados provenientes dos estudos de opinião concluídos quase diariamente. Uma tendência que se tem vindo a registar ao longo dos anos é a aproximação dos dois principais candidatos nas intenções de voto, o que acaba por deixar eleitores e meios de comunicação em suspenso e repletos de incertezas relativamente ao próximo presidente.

Novamente, Portugal está longe deste cenário, mas, também por cá, as últimas semanas — e as últimas semanas — deixaram antever o encurtamento distância que outrora separou António Costa e Rui Rio e que já não é comparável à que se registava há dois anos, antes das eleições legislativas de 2019 — cujos resultados oficiais acabaram por se revelar mais próximos do que o esperado.

Esta noite, António Costa e Rui Rio encontram-se para o debate mais importante de toda a campanha eleitoral, no que será mais uma oportunidade para os portugueses verem os dois principais candidatos a primeiro-ministro frente a frente e esclarecerem as suas dúvidas — se é que ainda as têm — sobre qual dos dois tem a melhor proposta governativa para o país e, em última instância, o melhor perfil para o cargo. Se bem que, neste campo, muitos parecem já ter tirado as suas ilações.

Nas mais recentes sondagens, António Costa suplanta Rui Rio quando aos portugueses é questionado qual dos dois candidatos é visto como “mais competente”, “mais solidário” e “mais influente”. Já o líder do PSD leva a melhor quando a batalha é sobre o “mais honesto”, ainda que por margens muito curtas. Na derradeira pergunta, qual dos dois está mais apto para exercer o cargo de primeiro-ministro, o secretário-geral do PS reúne 51% da preferência dos portugueses, ao passo que Rui Rio se fica por 25%.

Neste âmbito, é caso para dizer que Rui Rio pode estar a provar do seu próprio veneno — ou do veneno que infligiu a Paulo Rangel. Durante a campanha para as eleições diretas do PSD, o antigo autarca do Porto vendeu a ideia — e com aparente sucesso — de que o eurodeputado não deveria merecer o voto dos militantes do partido por ter pouca experiência governativa, o que seria uma desvantagem num cenário de eleições legislativas antecipadas, já que do outro lado estaria António Costa, primeiro-ministro há seis anos, ex-presidente da Câmara de Lisboa e antigo ministro da Administração Interna, da Justiça e dos Assuntos Parlamentares.

O sucesso do discurso e estratégia da campanha interna de Rui Rio foi registado pelo PS, que pretende, nestas legislativas, estabelecer o mesmo paralelo com o líder dos sociais-democratas. Tal como nota o jornal Público na sua edição de hoje, esta opção — de concentrar toda a campanha socialista na figura de António Costa e na competência que os portugueses lhe parecem reconhecer — já é visível, por exemplo, nos cartazes colocados nas várias cidades portuguesas, nos quais a cara do primeiro-ministro figura em grande plano, e no próprio site utilizado pelo partido para dar a conhecer o seu programa eleitoral, com o endereço antoniocosta2022.pt.

Também no discurso dos principais atores socialistas se espera que o foco esteja na figura de António Costa enquanto candidato a primeiro-ministro e não na possibilidade de um entendimento parlamentar sustentado por uma maioria à esquerda — essa via parece há muito eliminada pelos socialistas face ao insucesso das negociações para o Orçamento do Estado para 2021 e ao irremediável divórcio com os antigos parceiros à esquerda.

Com uma vantagem, ainda que ligeira nas sondagens, António Costa deverá, no debate desta noite, jogar pelo seguro e manter o estilo que lhe tem garantido — pelo menos, segundo vários comentadores políticos — ganhar os debates em que participou e tentar prolongar essa vantagem até às semanas decisivas da campanha eleitoral. Caso tal não aconteça — e com Rui Rio a optar por um tom conciliador, como tem sido a sua estratégia, de forma a não afastar qualquer tipo de eleitor — as próximas semanas serão marcadas, ao estilo norte-americano, por grande incerteza no que respeita ao vencedor das eleições legislativas.

De acordo com os especialistas ouvidos pelo Diário de Notícias, o debate desta noite pode ser especialmente relevante e esclarecedor em matérias de “económico-financeiras”, com o candidato que conseguir explicar melhor o seu programa a ganhar pontos junto do eleitorado que podem ser determinantes para os resultados. “Rio vai claramente atacar a falta de crescimento económico e Costa tentar encostá-lo à tradição dos governos de Passos”, explicou José Adelino Maltez.

Apesar de adversários, é importante notar que não se deve esperar do debate desta noite dois discursos antagónicos. Ao longo dos últimos anos, PSD e PS, sob liderança de Costa e Rio, assinaram acordos relativos ao processo de descentralização e à posição portuguesa nas negociações com a Europa sobre os critérios para a estruturação dos orçamentos comunitários e distribuição dos fundos estruturais para o Portugal 2030. Paralelamente, votaram alinhados em matérias como o regime do TVDE, as alterações às finanças locais ou o fim dos debates quinzenais.

ARM //

7 Comments

  1. Eu cheira-me que o que vai acontecer vai ser exactamente o reverso da medalha de 2015: O PS irá ganhar sem maioria suficiente pra governar de forma estável e sem acordos à esquerda possíveis. Já Rui Rio conseguirá à direita os acordos que bem entender porque tanto o CDS como o IL entre outros, estão de braços abertos pra Rui Rio.

    Sondagens leva-as o vento mas aprender com a história, é sempre mais válido. Teremos uma geringonça de Direita.

  2. Outra vez PS? Novamente PS? Portugal está esgotado de estagnação económica. Mais do mesmo. Mais corrupção política no recrutamento de dirigentes públicos para a administração pública central do Estado. A geração portuguesa mais qualificada de sempre está desempregada ou a auferir 900 euros por mês. Há tanta injustiça no trabalho em Portugal. Alguma coisa está errático. Como é possível a taxa de desemprego de Portugal ser aproximadamente a taxa natural de desemprego e sendo a trajetória do PIB real em queda. Em Portugal não há eficiência económica e não há produtividade por causa da corrupção política e do clientelismo partidário nos cargos públicos de Dirigentes Públicos sem currículo.

  3. Mais 4 anos de Costa e PS? Recordo-me dos governos de Cavaco Silva em que nos últimos anos mesmo os seus apoiantes de sempre já estavam fartos do mais do mesmo e deu-se a mudança, mas parece que António Costa esqueceu-se disso e fatalmente o tempo acabará por desgastá-lo e sairá pela porta pequena

  4. O debate desta noite entre António Costa e Rui Rio foi significativo. Correu mal a Costa e ele soube bem que o perdeu, pois, após o debate, sentiu necessidade de fazer campanha durante uma longa meia hora, de forma despudorada, justificando-se enquanto a CNN lhe permitiu. Costa está a sentir o chão a fugir-lhe debaixo dos pés. Já nem ele acredita em sondagens. Viu-se o que aconteceu ao seu delfim Fernando Medina nas autárquicas em Lisboa. Este, sem vergonha, lá estava na CNN a louvar Costa. Sousa Pinto, mais um ao lado, lá estava louvando a prestação do chefe. Mais uma vez de forma descarada mandou os seus boys de partido para as diversas estações de TV louvá-lo até à exaustão. Não chegou para ganhar o debate. Azar!

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