Mota Amaral e António Costa destacaram os feitos de Balsemão enquanto Primeiro-Ministro e ficaram no ar referências ao “escorpião” Marcelo, que esteve presente mas saiu antes do início da cerimónia.
Decorreu na tarde de Quinta-Feira a homenagem aos 40 anos do VII Governo Constitucional, chefiado por Francisco Pinto Balsemão, em 1981. A iniciativa foi promovida pelo Primeiro-Ministro e decorreu em São Bento, com uma plateia de 120 pessoas e Pinto Balsemão não resistiu a deixar algumas alfinetadas a Marcelo.
Várias figuras conhecidas marcaram presença, como Ramalho Eanes, Cavaco Silva, Ferro Rodrigues, Manuela Ferreira Leite e Rui Rio. Os ministros Eduardo Cabrita, Graça Fonseca, Tiago Brandão Rodrigues e Francisca Van Dunem também assistiram à cerimónia. A representar o Expresso e a SIC estiveram Ricardo Costa, José Gomes Ferreira, Henrique Monteiro e João Vieira Pereira.
Durante a cerimónia, o fundador do PSD deixou no ar questões sobre os perigos para a democracia e perguntou se “podemos ser tolerantes com os intolerantes“, escreve o Público. “Com a globalização existem cada vez mais outras fontes de poder não democraticamente designadas”, afirmou Pinto Balsemão, que denunciou o crescimento do poder de entidades não eleitas na política, na sociedade e na economia.
Francisco Pinto Balsemão apelou também à “defesa do papel cada vez mais relevante que os meios de comunicação social profissionais, regidos por códigos deontológicos e sujeitos a sanções e sujeitos a sanções em caso de incumprimento, desempenham na sociedade de desinformação em que vivemos”.
O antigo Primeiro-Ministro afirma também que os meios de comunicação profissionais são mais importantes na “legitimação do poder” com o “avolumar da informação” que agora circula mais rapidamente.
Estando perante um homenagem ao seu Governo, Pinto Balsemão lembrou também alguns dos bons momentos dessa fase, como a Lei da Nacionalidade, o início da adesão à União Europeia ou o novo quadro do direito penal próprio de uma sociedade democrática.
António Costa também discursou. O Primeiro-Ministro destacou os seus feitos políticos, mesmo com a oposição interna no partido, e fez uma referência especial à revisão constitucional de 1982.
“Foi um período decisivo para Portugal, os governos asseguraram a transição da revolução para a consolidação da democracia. Foi uma das mais duras batalhas que esses governos travaram”, afirmou Costa.
O orador convidado João Bosco Mota Amaral afirmou que Francisco Pinto Balsemão foi o político mais atacado, até mesmo dentro do PSD. “Sempre activo, sempre combativo, ambos partilhámos o sonho de instaurar em Portugal uma democracia ocidental”, disse, e destacou como Balsemão “saiu com honra do desafio” de suceder a Sá Carneiro, um “Primeiro-Ministro de forte carisma”.
“Francisco Pinto Balsemão continua na vida política com um P grande” elogiou Mota Amaral, citado pelo Observador, e acrescenta que Balsemão foi vítima do “mais intenso e menos fundamentado” ataque ‘ad hominem’ e de “traições mesquinhas” dentro do PSD.
De forma irónica, Pinto Balsemão notou também a “visita rápida, mas simbólica do senhor Presidente da República”. Recorde-se que Marcelo Rebelo de Sousa foi Ministro dos Assuntos Parlamentares de Balsemão e foi também seu sucessor na direcção do Expresso.
Antes do início da cerimónia, Marcelo passou pela Sala da Lareira em São Bento e acompanhou o homenageado até ao palco, mas saiu quando a homenagem começou.
No fim da cerimónia, Balsemão voltou a picar o seu sucessor no Expresso ao revelar que quando era Primeiro-Ministro convidou Marcelo para jantar em São Bento no Natal por este estar sozinho. Apesar dos desentendimentos, afirmou que o voltaria a convidar “no caso de ele estar sozinho” outra vez.
“Memórias” dos desentendimentos com Marcelo
Esta Quinta-Feira foi também lançado o livro “Memórias”, da autoria de Balsemão, e o patrão da Impresa é pouco elogioso para com Marcelo Rebelo de Sousa, descrevendo o a demissão do actual Presidente da República como possivelmente “a maior traição” da sua vida e dizendo que foi avisado de que estava “a meter veneno em casa” ao convidá-lo para o seu executivo, avança o Observador.
Numa entrevista que vai ser sair no Público no Domingo, o antigo Primeiro-Ministro afirma que o primeiro mandato do Presidente tem “nota positiva”, mas o segundo mostra “alguns percursos que são um pouco curvilíneos”.
“Não é fácil estar de bem com Deus e com o Diabo”, afirma Balsemão, que faz também uma referência à fábula da rã e do escorpião – quando o escorpião ataca a rã enquanto os dois atravessam um rio e ambos acabam por se afogar – para descrever os altos e baixos com Marcelo Rebelo de Sousa.
O fundador do PSD elogiou também a liderança de Rui Rio e as propostas que tem feito. À saída da cerimónia de homenagem, Rio mostrou que a admiração é mútua ao dizer que Balsemão “era demasiado evoluído para um país na altura tão atrasado quanto Portugal” e que “seria um bom primeiro-ministro na Noruega, aqui tem mais dificuldade”.
“Na altura ele sofreu imensas traições e imensa oposição, e de que maneira. Eu estava lá, vi isso, mas estive sempre do lado dele”, afirmou Rio, lembrando que fez parte do Conselho Nacional do PSD e depois da direcção nacional de Balsemão nesse período.
Sobre os paralelos com a oposição interna que também vive actualmente dentro do PSD, Rio diz que “hoje a informação é muito diferente”. “Os comentários, os jornais, tudo funciona de forma muito diferente, a internet. Na altura era muito diferente. Em termos relativos, não sei se ele foi alvo de mais ataques do que aquilo que hoje eu possa ser, mas em valor absoluto não tenho dúvidas de que hoje é muito mais duro”, remata.
De facto o PSD não é o PPD. O PSD é o clube de advogados, padrinhos e os seu servos. Os últimos ainda acreditam no Pai Natal. Por necessidade, provavelmente.
O PPD era para ser aquilo que chegou a ser o PS -> Social Democrata.
Boa estratégia do Costa que deu uma oportunidade final para alguém mostrar quem é o Marcelo do padrinho Marcelo. Ele faz parte de gente do outro senhorio que está sempre do outro lado das interesses do país, da categoria Durão Barroso, gente para quem tudo vale.
Balsemão, embora das mesmas origens, mostrou-se digno de ser chamado democrata e conseguiu dinamitar o pedestal do Professor e com muito gosto 🙂