Cristóvão Colombo poderá afinal não ter trazido a sífilis para a Europa

Wikimedia

Retrato póstumo de Cristóvão Colombo, por Sebastiano del Piombo (1519)

Tudo o que sabemos sobre a origem da sífilis na Europa pode precisar de uma revisão, de acordo com um novo estudo.

Durante séculos, acreditou-se que Cristóvão Colombo e a sua tripulação tinham trazido a sífilis do Novo Mundo para a Europa, durante as suas viagens no final do século XV.

No entanto, descobertas recentes, cujos resultados foram publicados esta semana na revista Nature, sugerem uma história mais complexa.

A teoria tradicional baseava-se em relatos históricos que correlacionavam o surto de sífilis na Europa com o regresso dos marinheiros das expedições de Colombo. Esta narrativa ganhou força devido ao súbito aparecimento de casos de sífilis nas cidades portuárias europeias durante esse período.

Além disso, escavações na América do Sul desenterraram restos de esqueletos com lesões semelhantes às causadas pela sífilis, apoiando ainda mais a ideia de Colombo como portador da doença.

No entanto, novas provas põem em causa esta explicação. Os investigadores realizaram um estudo exaustivo que envolveu a análise do ADN humano antigo de ossos com 2.000 anos encontrados no Brasil.

Contrariamente às expectativas, escreve a Business Insider, a análise do ADN revelou a presença de uma bactéria relacionada, da família Treponema, responsável por uma doença diferente chamada Bejel.

A Bejel, ao contrário da sífilis, não é sexualmente transmissível e encontra-se sobretudo em regiões áridas, pelo que a sua descoberta numa região tropical húmida e costeira surpreendeu os investigadores.

Esta revelação põe em causa o pressuposto de que as lesões encontradas em ossos antigos da América do Sul indicam inequivocamente a presença de sífilis antes da chegada de Colombo.

Embora o estudo não refute de forma conclusiva a teoria de que Colombo foi o causador da malapata, oferece informações sobre a história evolutiva da família Treponema.

Ao traçar a linhagem genética destas bactérias, os investigadores descobriram um antepassado comum que remonta a cerca de 14.000 anos atrás. Este facto sugere que vários membros da família Treponema, incluindo os responsáveis pela sífilis e Bejel, poderiam ter existido globalmente muito antes das expedições de Colombo.

Segundo Verena Schünemann, co-autora do estudo, “A prevalência destas bactérias em diferentes continentes antes do contacto de Colombo com os indígenas americanos põe em causa a noção de sífilis como doença do Novo Mundo“.

“A compreensão do passado evolutivo da sífilis e de doenças resistentes aos antibióticos torna-se crucial para o desenvolvimento de estratégias de tratamento eficazes”, acrescenta a investigadora.

A importância deste trabalho vai assim além de resolver o mistério em torno do papel das viagens de Colombo na chegada à Europa desta doença, geralmente transmitida por contato sexual – que apesar de poder ser controlada por antibióticos, tem aprendido a contorná-los, mantendo-se prevalente em todo o mundo.

ZAP //

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