Cientistas e investigadores vão este sábado debater os problemas da profissão e procurar listar propostas para promover a qualidade da ciência e a estabilidade no emprego científico, ultrapassando a precaridade que dizem existir nesta área.
Maria João Berhan da Costa, da organização do Encontro Nacional de Cientistas em Portugal, que decorre em Lisboa, explicou à agência Lusa que “uma grande maioria da ciência realizada em Portugal, e que tem tido tão boas referências, é feita por pessoas [que estão] completamente precárias, estão há décadas a trabalhar com horizontes de poucos anos, cinco ou três anos”.
“Por isso, o caso do concurso cientistas FCT [programa investigador FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia] teve aquele impacto, houve unidades de investigação que ficaram muito ameaçadas porque deixa de haver mão-de-obra”, acrescentou.
O encontro, organizado pela Plataforma em Defesa da Ciência e do Emprego Científico foi decidido pouco depois da assembleia que reuniu muitos cientistas, realizada após a divulgação dos resultados do concurso de investigadores FCT, que atribui verbas ou bolsas a profissionais e que “os cientistas dizem ter tido muitas irregularidades”.
“As pessoas que se sentiram mal avaliadas e se ressentiram das injustiças e das irregularidades desse concurso estão a impugná-lo coletivamente, mas, ao mesmo tempo, pensou-se que era uma oportunidade de pôr toda a gente interessada na questão da qualidade da ciência e estabilidade no emprego científico a descobrirem o que querem e a maneira de organizarem o seu trabalho”, explicou Maria João Berhan da Costa.
Assim, este “é um encontro de cientistas preocupados com o estado das coisas que querem pensar sobre elas e dar o seu contributo” para a sua resolução, concluiu a organizadora.
Embora tudo dependa das propostas que se apresentarem, a organização acredita que “as pessoas sabem tratar dos seus próprios problemas e vão avançar propostas” para a “questão chave [que] é a precariedade do emprego científico”.
A diminuição do número de bolsas individuais da FCT levou, em janeiro, a comunidade científica, incluindo bolseiros, candidatos, docentes e investigadores, a saírem à rua, em Lisboa, em protesto, acusando o Governo de desinvestimento na ciência.
Em fevereiro, o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, anunciou um reforço de verbas para a ciência – um total de 12 milhões de euros para bolsas e projetos de investigação, provenientes de montantes comunitários e de outros já previstos.
Numa “newsletter” publicada dois dias depois, a FCT, entidade pública que atribui apoio financeiro à investigação científica, anunciou a concessão de mais 300 a 350 bolsas de doutoramento e pós-doutoramento do concurso de 2013.
A secretária de Estado da Ciência, Leonor Parreira, tem explicado a redução do número de bolsas individuais com a opção por dar prioridade ao investimento em entidades e projetos de investigação.
ZAP/Lusa