Se houver cessar-fogo na Ucrânia, “a próxima guerra da Rússia será com… a Ucrânia”

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(dr) Kremlin

Vladimir Putin, presidente da Rússia

Especulações sobre ataque a um país da NATO parecem uma tentativa de “extrapolar o que tem acontecido na Ucrânia para outros países”.

A Rússia continua em guerra com a Ucrânia; e continuam os receios sobre um ataque mais generalizado dos russos. Mais concretamente, há crescentes receios na Europa de que a Rússia desafie a segurança colectiva da NATO, atacando um país da organização do Atlântico Norte.

O recente aumento das especulações sobre um ataque russo à NATO parece uma tentativa de “extrapolar o que tem acontecido na Ucrânia nos últimos anos para outros países europeus”, começa por analisar Maksim Samorukov no portal Meduza.

Maksim Samorukov é investigador do Carnegie Russia Eurasia Center, uma instituição na Alemanha que reúne os maiores especialistas mundiais sobre a Rússia – e que se centra nos principais desafios políticos em toda a região após a invasão à Ucrânia.

O especialista acha pouco provável Vladimir Putin avançar para outro país sem resolver a questão ucraniana. A Rússia poderá vir a concordar com um cessar-fogo na Ucrânia após “algum sucesso parcial”. Ou seja, controlar algum território que faz parte da Ucrânia.

Mas se houver um cessar-fogo, a próxima guerra da Rússia será com… a Ucrânia, e não com a Europa. “Enquanto a Ucrânia existir na sua forma actual, é difícil imaginar que a Rússia se afaste e comece subitamente a atacar a Letónia ou outro país qualquer”, disse Samorukov.

Por outro lado, se houver uma vitória maior da Rússia na Ucrânia, “a embriaguez da vitória” poderá levar Moscovo a pressionar ainda mais uma Europa fraca e dividida.

O especialista recordou, neste contexto, que o exército russo é grande e que a economia russa depende de um próspero complexo militar-industrial.

No meio das especulações, há um assunto mais constante: a Rússia a testar a vontade da NATO em defender as cidades fronteiriças nos países bálticos – Estónia, Letónia e Lituânia.

Há poucos dias, a NATO concordou em aumentar o investimento na defesa de cada país-membro; e isso também influenciará certamente o comportamento futuro de Moscovo.

“A Europa está a reforçar as suas forças armadas e está a fazê-lo para conter a Rússia. Isto provocará obviamente irritação retaliativa na Rússia e criará pressão para que esta se rearme na mesma moeda ou para que a Europa pare de se rearmar antes que isso aconteça”, analisa o especialista do Carnegie Russia Eurasia Center.

O caso Kaliningrado

O investigador focou-se depois em Kaliningrado, o famoso enclave da Rússia situado entre a Polónia e a Lituânia.

“Como se espera que naveguem até lá? E a logística, já que a Estónia tenta inspeccionar os petroleiros e tudo o resto? E há o problema das exportações russas através do Mar Báltico, por exemplo, quando a Dinamarca afirma poder verificar se os petroleiros russos, a frota paralela, cumprem as normas ambientais dinamarquesas”.

Este “acesso obstruído a Kaliningrado”, na perspectiva da Rússia, é um “ultraje que ameaça a segurança básica da nação”. Samorukov alertou que o Kremlin pode mesmo concluir que a posição vulnerável de Kaliningrado equivale a um bloqueio, o que justifica uma declaração de guerra.

“Se a Lituânia não restabelecer o acesso normal a Kaliningrado, mesmo através da Bielorrússia, a Rússia estará basicamente a dizer que não responderá pelas consequências“, explicou Maksim Samorukov.

Aí, se a Rússia testasse a disponibilidade da NATO para defender a Lituânia, Moscovo poderia argumentar que procurava um corredor para o território russo bloqueado – e não empreender outra ocupação.

No geral, a crescente preocupação sobre uma eventual invasão russa nos Estados Bálticos está ligada à percepção de que a Rússia está a ganhar na Ucrânia. Mas a guerra entrou numa “fase imprevisível”; o ritmo do avanço da invasão, juntamente com a possibilidade de “saltos qualitativos” no combate, deixa o desfecho do conflito numa incógnita.

Um último factor: Vladimir Putin. “Ninguém vive para sempre, e algo pode acontecer por uma série de razões imprevisíveis. Uma mudança no topo da Rússia pode transformar tudo.”

ZAP //

8 Comments

  1. Tendo em conta como vai a guerra, quero dizer operação especial se não ainda acabo por ofender algum avante camarada com mais uma perca gigantesca de um deposito de armas em Donetsk Oblast que é candidata a maior explosão não nuclear de sempre e o termino prematuro de um General do FSB que era responsável pela contra espionagem. Ontem não foi um bom dia para o Putin e os Avantes

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    • Iendo em conta que são os países da NATO que desde o inicio provocaram os russos, com a pretensa instalação de armamento nuclear na Ucrânia apontada a Moscovo. fornecem armas convencionais, munições, e oferecem operacionais para combater pela Ucrânia, de vez em quando para chatear Putin, com ataques no interior da Russia, ´será lógico que os russos de repente se chateiem e façam o mesmo no lado de cá, ou nao..? E nesse caso quem é que “ataca” quem?
      Não sou “camarada”, só procuro ver as coisas de uma forma lógica. E, finalmente, parece que o amigo continua confundindo a Russia com a União Soviética.

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      • A Russia só tem o arsenal nuclear que tem porque a Ucrânia o entregou, em 1991, como condição para ter paz
        Não funcionou…..

    • Estive a ler atentamente a mensagem e confesso sentir um nó no cérebro, será que para alguém isto faz algum sentido. Então a Rússia não quer a Ucrânia na Nato para não ter de enfrentar os países da Nato numa guerra. E a seguir vai atacar um país da Nato, mas isto faz sentido a alguém. Por outro lado temos a Europa a aumentar os gastos com armamento em vez de investir em bens essenciais para os europeus, por causa dos Russos, mas não fomos nós europeus que temos estado a aumentar os países que aderiram à Nato, e achamos que os russos vem essa expansão tranquilamente, E pensar desta forma tem alguma coisa a ver com os avantes.

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  2. Se a Europa não se organizar e não se equipar e preparar como deve de ser com know-how e equipamento também europeu, se não forem os russos, são os chineses ou os americanos a comerem-nos de cebolada. continuam a achar que se vai lá com palavras e não se investir em capacidade dissuadora e depois admirem-se um dia.

  3. O Putin tem como objetivo final, reconstruir territorialmente a URSS. E é por isso que PCPs é outros que tais não o criticam. O problema é que a maioria dos países que abandonaram o “colo” da mãe Russia não estão interessados. Por mais poderio militar que qualquer país hoje tenha, ocupar e submeter um país é, a longo prazo, tarefa impossível de manter. São muitos os exemplos que o mostram, da Coreia ao Vietnam e ao Afeganistão. Todos os Impérios se extinguiram. E não é por acaso. É porque os povos os boicotam e tornam impossível, ou muito cara, a sua manutenção.

  4. Depois da Ucrânia, segue-se a Moldova. Só depois é vão os países bálticos. Ou talvez a Geórgia. Ou talvez o Azerbaijão. Todos ao mesmo tempo é que não dá, nem o Trump nem o Xi iriam aceitar isso. Certo é que o Putinho não fica satisfeito com a “Nova Rússia”, não tenham ilusões.

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