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Montenegro anuncia reforço no investimento em Defesa já este ano. “Total subserviência” a Trump?

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Miguel A. Lopes / EPA

O Secretário-Geral da NATO, Mark Rutte, e o primeiro-ministro português, Luís Montenegro.

O Secretário-Geral da NATO, Mark Rutte, e o primeiro-ministro português, Luís Montenegro.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou que Portugal vai reforçar em cerca de mil milhões de euros a verba para a área da Defesa até ao final deste ano, antecipando algumas metas da Lei de Programação Militar (LPM).

Os 32 países da NATO acordaram esta quarta-feria um aumento do investimento de 5% do PIB na área da defesa até 2035, com uma revisão dos objetivos em 2029.

“Unidos para fazer face às profundas ameaças de segurança e desafios, em particular a ameaça a longo prazo apresentada pela Rússia à segurança euro-atlântica e a persistente ameaça do terrorismo, os aliados comprometem-se a investir 5% do PIB anualmente em requerimentos de defesa, assim como em despesas relacionadas com defesa e segurança até 2035”, referiram na Declaração da Cimeira de Haia (Países Baixos).

Os países da Aliança Atlântica concordaram em repartir o reforço de 5% no investimento nesta área: 3,5% em investimento direto nas capacidades militares de cada Estado-membro e 1,5% em investimentos, por exemplo infraestruturas aeroportuárias e estradas, que também podem ter uma utilização militar.

O primeiro ponto da declaração dá conta do compromisso dos 32 Estados-membros com o Artigo 5.º do Tratado de Washington, que estipula que um ataque a um país da NATO é um ataque contra todos, ou seja, um conflito militar que envolva um Estado-membro terá o envolvimento de todos.

Portugal atinge 2% do PIB já este ano

Após a reunião, Luís Montenegro anunciou que Portugal vai reforçar em cerca de mil milhões de euros a verba para a área da Defesa até ao final deste ano.

O objetivo é atingir 2% do PIB já este ano. O que estava inicialmente previsto era que essa meta fosse atingida apenas daqui a quatro anos.

“Andará à volta de mil milhões de euros, talvez um pouco menos, de investimento direto em aquisições de equipamento, de infraestruturas, de valorização dos nossos recursos humanos“, disse o primeiro-ministro português.

Montenegro salientou que este é um “esforço que só é possível porque temos efetivamente as finanças públicas equilibradas e temos a disponibilidade dentro desse equilíbrio de não necessitarmos de medidas adicionais”.

Além da meta dos 2% do PIB este ano, a reunião de alto nível acordou que os aliados devem investir 5% do PIB em despesas relacionadas com Defesa.

Montenegro estimou que, nos próximos quatro anos, Portugal andará “acima dos 2% do PIB” com uma “evolução gradual ascendente” para que em 2029 o país esteja em posição de poder cumprir o objetivo final até 2035.

“Total subserviência” a Donald Trump

O BE acusou Luís Montenegro de “total subserviência” ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por aceitar comprometer-se com uma despesa de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) em Defesa até 2035.

“Isto significa, em média, gastar 450 milhões a mais todos os anos em armamento. Num país que não consegue assegurar a educação que toda a gente, que não consegue assegurar saúde, serviços públicos, que não consegue fazer os investimentos de que precisa em infraestruturas, está a comprometer-se no sentido de gastar 5% do PIB, mais 450 milhões por ano, em armamento apenas para servir as ordens de Trump e do secretário-geral da NATO”, acusou Mariana Mortágua.

Para a coordenadora do BE, “esta subserviência a Donald Trump e à NATO não interessa e não defende Portugal“.

Mariana Mortágua lamentou que o primeiro-ministro português não tenha seguido a opção do seu homólogo espanhol, Pedro Sánchez, seguiu. O primeiro-ministro espanhol reiterou que Espanha se limitará a gastar 2,1% do PIB em defesa.

Em 32, só Sánchez foi do contra

Espanha foi o único dos 32 países da NATO que não se comprometeu com Trump.

“Espanha tem sido um país que sempre pagou muito pouco. Ou eram bons negociadores ou simplesmente não estavam a fazer o que era correto. Espanha deve pagar o mesmo que todos os outros”, disse, na semana passada, o presidente dos EUA.

No entanto, o primeiro-ministro espanhol manteve firme a sua palavra.

Como consequência, o presidente dos EUA ameaçou aplicar a Espanha tarifas mais severas pela recusa em investir mais na área da defesa.

Acho terrível o que fez Espanha, vamos negociar com eles e vão pagar o dobro. Vamos obrigá-los a pagar, Espanha quer uma viagem grátis e eu vou obrigá-la a pagar de outra forma”, disse Trump em conferência de imprensa no final da cimeira.

Rutte não se cansa de elogiar Trump

Por seu turno e em sentido contrário a Pedro Sánchez, o secretário-geral da NATO acatou as exigências de Trump e atribuiu ao Presidente norte-americano “todo o mérito” pelo compromisso que os países da organização político-militar fizeram de investir mais.

Após a cimeira e depois de ter sido divulgada uma mensagem privada onde Mark Rutte “rasga” Trump de elogios, o secretário-geral da NATO voltou a repetir o tom lisonjeiro, sublinhando que fez o que mais ninguém conseguiu fazer.

“Está a fazer coisas que nos obrigam a investir mais. Teria sido este o resultado da cimeira se Trump não tivesse sido eleito? Chegaríamos na década de 2030 aos 5% [do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa]? Não merece mérito pelo que fez?”, questionou Mark Rutte.

O secretário-geral da NATO considerou que o que Donald Trump “fez com o Irão” impediu Teerão de desenvolver armamento nuclear: “Merece todo o mérito.”

Questionado sobre se os elogios que fez a Donald Trump demonstram fraqueza da Aliança Atlântica, Mark Rutte rejeitou que tenha cedido a caprichos de Trump.

Em conferência de imprensa no final da reunião magna da Aliança Atlântica, o secretário-geral considerou que “as coisas estão a avançar” com Trump.

A conferência do auto-elogio

Por cima do elogio alheio, veio depois o auto-elogio. Na conferência de imprensa no final da cimeira, na tarde desta quarta-feira Trump enalteceu-se por ter aberto o “caminho para a paz”, com os bombardeamentos às instalações nucleares iranianas.

“Não há outras Forças Armadas que o pudessem fazer, isto abriu caminho para a paz com um acordo para um cessar-fogo histórico. Foi a guerra dos doze dias, pareceu-me ser o nome apropriado”, disse.

O Presidente dos EUA rejeitou a ideia de que Israel e o Irão “voltem a atacar-se” depois dos bombardeamentos às instalações de enriquecimento de urânio iranianas, no último fim de semana.

Sobre a resposta de Teerão, bombardeando instalações militares dos EUA no Qatar, Donald Trump insistiu que Washington sabia e disse que não se importou.

“Eles [o Irão] disseram: ‘vamos atacar-vos’. E nós dissemos: ‘tudo bem, façam-no’. Retirámos as pessoas de lá”, comentou, desvalorizando as notícias de que Teerão provavelmente transportou o urânio enriquecido para outras instalações precavendo a intervenção norte-americana.

Donald Trump admitiu que o conflito podia “recomeçar em breve”, mas insistiu que tem a garantia de Telavive e Teerão de que respeitarão o cessar-fogo.

Quanto ao acordo alcançado na reunião magna da NATO, que compromete cada país com um investimento de pelo menos 5% do Produto Interno Bruto (PIB) na área da defesa, o chefe de Estado norte-americano considerou que “vai ser feito rapidamente, quase de imediato”.

Jornalistas mandados para a rua

Antes do início da conferência de imprensa, a equipa de comunicação do Presidente dos EUA exigiu aos jornalistas que estavam sentados nas três primeiras filas que deixassem vagos os lugares para os jornalistas acreditados pela Casa Branca e que acompanham Donald Trump.

Face ao protesto dos jornalistas, que já tinham ocupado estes lugares para assistir à conferência de imprensa do secretário-geral da NATO e não queriam ir para o fundo da sala, onde teriam de estar de pé, os elementos da comunicação da Casa Branca disseram: “Podem levantar-se agora ou acompanhar a conferência de imprensa lá fora. De pé, agora!”

Os jornalistas acreditados pela Casa Branca entraram uns minutos depois e ocuparam as três primeiras filas, que até àquele momento tinham sido preenchidas por jornalistas que fizeram questão de ir mais cedo para reservar um lugar para poderem trabalhar.

Miguel Esteves, ZAP // Lusa

1 Comment

  1. com um SNS moribundo, não há consultas de especialidade… num paízeco de fronteiras escancaradas e supostamente dos mais seguros do mundo, investe-se agora em segurança da NATO em vez de mais polícias e segurança para o país… isto para beneficiar todos excepto os contribuintes… a NATO tornou-se numa organização pouco convincente, apoiante e subserviente de terroristas, segue as ordens do outro lado do oceano e de um país terrorista do médio oriente que ataca toda gente… o circo com os jornalistas só demonstra o esterco de organização em que se tornou…

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