FAROOQ KHAN/EPA

Mulheres caxemires choram em frente à sua casa danificada após bombardeio transfronteiriço do Paquistão, na aldeia de Salamabad, em Uri, ao norte de Srinagar, na Caxemira indiana.
Evitou-se esta tarde uma guerra muito diferente (para pior): as duas potências nucleares, moderadas pelos EUA, puseram um ponto final a semanas de confrontos e morte na Caxemira.
A Índia e o Paquistão anunciaram este sábado um acordo de cessar-fogo após negociações que envolveram mais de 30 países e lideradas pelos Estados Unidos para pôr fim ao conflito entre os rivais com armas nucleares.
O acordo acontece após semanas de confrontos desencadeados por um atentado a tiro contra turistas no mês passado na zona de Caxemira indiana, no qual foram mortos 26 turistas hindus e pelo qual a Índia culpa o Paquistão, que por sua vez nega responsabilidade.
Este foi o confronto mais grave das últimas duas décadas e fez dezenas de civis mortos de ambos os lados: desde quarta-feira, cerca de 80 pessoas morreram numa escalada de tensão e violência com drones, mísseis, bombardeamentos e tiros de pequeno calibre envolvidos na fronteira.
O Presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que a Índia e o Paquistão concordaram com um cessar-fogo total e imediato, referindo estar satisfeito com o resultado das negociações.
“Após uma longa noite de negociações mediadas pelos Estados Unidos, tenho o prazer de anunciar que a Índia e o Paquistão concordaram com um cessar-fogo total e imediato. Parabéns a ambos os países por usarem o bom senso e a inteligência. Obrigado pela atenção dada a este assunto!”, escreveu Trump nas redes sociais.
“O Paquistão e a Índia concordaram com um cessar-fogo com efeito imediato”, garantiu também o ministro dos Negócios Estrangeiros paquistanês, Ishaq Dar, no X. O seu homólogo na Índia também garantiu que ficou acordado esta tarde que ambos os lados cessariam todos os disparos.
Os dois voltarão a falar na segunda-feira, segundo fonte do ministério citada pela Reuters. O cessar-fogo arranca às 17h00 deste sábado, disse a Índia. O espaço aéreo do Paquistão já foi reaberto a todos os voos.
Como noticiou o ZAP, na madrugada deste sábado, horas antes do acordo, aumentaram os receios de que a guerra pudesse escalar, após ataques, dos dois lados, a bases militares, que resultaram em pelo menos 13 mortos e mais de 50 feridos do lado paquistanês.
Guerra seria inédita (por maus motivos)
O Paquistão terá entre 170 armas nucleares na sua posse, e a Índia vem logo atrás, com cerca de 180.
Com o apoio da Rússia, a Índia desenvolve e testa mísseis de longo alcance, mísseis móveis terrestres e procura construir mísseis para navios e submarinos, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS); com o apoio da China, o Paquistão desenvolve principalmente mísseis balísticos móveis de curto e médio alcance, que têm capacidade para atingir o interior da Índia.
Geograficamente no centro da tensão está precisamente a China, outra potência nuclear, que administra parte do nordeste da Caxemira, disputada na fronteira entre os dois países e palco de duas de três guerras entre indianos e paquistaneses desde a independência do Raj britânico, em 1947.
A região, maioritariamente muçulmana, é ainda hoje dividida entre os dois Estados, mas reivindicada por ambos na totalidade.
Uma guerra total entre as duas potências, que juntas contam com cerca de 1,6 mil milhões de habitantes, seria a primeira a opor duas nações com armas nucleares e poderia matar 100 milhões de pessoas e provocar o arrefecimento global do planeta, segundo um estudo de 2019.
A Índia também garantiu esta semana que iria “cortar a água”, referindo-se ao caudal dos rios que correm do seu território para o Paquistão, o que seria uma causa provável (e local) da 1ª Guerra Nuclear na Terra, segundo outro estudo de 2016.
O Paquistão notou, na terça-feira, alterações no rio Chenab, um dos três rios sob o controlo de Islamabad ao abrigo do importante tratado de 1960 — que se fosse rasgado, seria encarado como um “ato de guerra” indiano pelo governo paquistanês, advertiu o próprio.
Poderiam, legalmente, usar armas nucleares?
Apesar de tudo, lembra a Al Jazeera, os dois países estão presos a doutrinas nucleares que os impedem de certos atos.
No caso da Índia, esta doutrina, publicada em 2003, impede o país de ser o primeiro a usar uma arma nuclear em caso de conflito, e também não pode usá-las contra Estados não nucleares. Por outro lado, prevê retaliação maciça, destinada a aniquilar as capacidades militares do inimigo. Mas a Índia tem mudado a sua postura.
“O que acontecerá no futuro depende das circunstâncias”, disse já o atual ministro da Defesa, Rajnath Singh, abrindo portas a uma mudança na política, em referência à “cláusula” de não atacar primeiro.
Já o Paquistão, não prevê oficialmente nada sobre o uso de armas nucleares, uma falta de transparência estratégica do governo de Islamabad. Mas há linhas vermelhas: qualquer perda de grandes partes de território paquistanês e/ou de forças militares, qualquer efeito asfixiante na economia ou na política interna pode justificar o uso de armas nucleares, de acordo com o que ficou estabelecido em 2001 pelo tenente-general Khalid Ahmed Kidwai.
No ano passado, o mesmo general esclareceu: O Paquistão “não tem uma política de não usar primeiro” armas nucleares.
Tomás Guimarães // Lusa
Paquistão já violou o cessar fogo…. Muculmanos