A automação vai fazer a região centro do país perder 110 mil postos de trabalho dentro dos próximos dez anos. A manufatura e a agricultura serão os setores mais afetados.
Os avanços tecnológicos nem sempre são tão positivos como, por vezes, se fazem prever. Um estudo realizado pela Confederação Empresarial Portuguesa (CIP) e pela Nova SBE mostra as consequências da automação nas várias regiões do país e quais os setores de trabalho mais afetados.
As conclusões do estudo foram hoje de manhã apresentadas em Leiria. Os dados mostram que a região Centro terá menos 110 mil postos de trabalho até ao ano de 2030. Juntas, a agricultura e a manufatura representam mais de metade das perdas. Segundo o Diário de Notícias, estes dois setores irão sofrer uma perda de quase 60 mil trabalhadores.
A região Norte é uma das que também vai sofrer mais com a automação de processos. Na agricultura, será perdida 23,1% da mão de obra, enquanto na manufatura, nos próximos dez anos, será perdida mais de metade da força laboral do norte do país. Destaque também para o Alentejo, que perde mais de um terço dos trabalhadores na agricultura.
Algarve e a Área Metropolitana de Lisboa serão as zonas mais resistentes à automação. De acordo com os dados do estudo, o Algarve perderá “apenas” 7% dos trabalhadores nos setores da agricultura e manufatura. Por sua vez, a AM Lisboa verá a sua mão de obra reduzida em 22% nestes setores.
A indústria mais afetada será a de “produtos de plástico, borracha e outros minerais não-metálicos”, com quase 14 mil postos de trabalho sob ameaça. Não muito longe, a indústria de “produtos metálicos, exceto máquinas e equipamentos” poderá perder cerca de 13 mil vagas.
Num cenário mais conservador, o estudo revela que a nível nacional poderão ser perdidos 1,1 milhões de postos de trabalho devido à automação e à integração de novas tecnologias no trabalho. No pior dos casos, a fasquia pode chegar aos 1,8 milhões de empregos.
Uma outra perspetiva
Apesar do cenário ser alarmante e um grande número de postos de trabalho estar sob ameaça, a situação pode não ser tão caótica quanto isso. Por vezes, a automação de um emprego pode não representar a sua perda. Por vezes, as novas tecnologias apenas substituem uma das tarefas.
O apresentador do programa televisivo Last Week Tonight, John Oliver, abordou o assunto num dos episódios do mês passado, dando o exemplo das caixa de multibanco. Quando surgiu esta inovação, muitos trabalhos de vários bancos ficaram preocupados com a possibilidade de perderem os seus empregos.
Os seus medos acabaram por não se confirmar — até pelo contrário. O número de postos de trabalho subiu no setor bancário dos Estados Unidos entre 1980 e 2010. “Os seus empregos não se perderam, apenas mudaram”, disse John Oliver.
“No ano de 1900, cerca de 40% da mão de obra estava na agricultura. Se um economista voltasse atrás no tempo e dissesse que dentro de 100 anos, apenas 2% da força laboral iria trabalhar na agricultura, ninguém saberia o que os outros 38% ia fazer“, exemplificou David Autor, economista do MIT.
Isto para explicar que “grande parte dos empregos que hoje temos, há dezenas de anos atrás nem existiam“, acrescentou.