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Cartas de amor entre Saint-Exupéry e a mulher publicadas em França

Wikimedia

Saint-Exupéry

Antoine e Consuelo de Saint-Exupéry deixaram para trás a lembrança de uma relação tempestuosa, uma obra-prima que ele escreveu e ela inspirou, “O Principezinho”, e um conflito entre herdeiros. Mas a publicação, em França, de correspondência entre o casal pode fazer esquecer as disputas.

Da famosa obra do poeta e aviador francês, publicada pela primeira vez em 1943, foram vendidos mais de 200 milhões de exemplares em todo o mundo, com 450 traduções, segundo os seus herdeiros.

Esta quinta-feira, são publicadas em França mais de 160 cartas e telegramas que o casal trocou entre 1930 e 1944, além de fotografias, esboços de Saint-Exupéry e desenhos da mulher e artista.

“Consuelo, querida, não entendes o quanto me fazes sofrer”, diz ele. “Choro de emoção, tenho tanto medo de me exilar do seu coração…”, escreve ela.

A relação entre o aventureiro de temperamento instável e Consuelo, uma mulher muito independente, levou-os a passar por momentos difíceis.

“Consuelo tinha um caráter exuberante e ele era muito depressivo. Os seus múltiplos amores não foram um sinal de ‘donjuanismo’, mas sim de uma errância afetiva”, explicou à AFP o biógrafo de Exupéry, Alain Vircondelet.

Mas as cartas mostram que nada conseguiu separá-los, até à misteriosa morte de Saint-Exupéry durante uma missão no Mediterrâneo em julho de 1944.

A primeira carta do aviador, enviada para Buenos Aires, onde se apaixonou pela salvadorenha, parece o preâmbulo do que seria “O Principezinho”.

“Lembro-me de uma história não muito antiga, mudei um pouco: era uma vez um menino que tinha descoberto um tesouro. Mas esse tesouro era demasiado lindo para uma criança que não conseguia entender com os olhos, e cujos braços não podiam contê-lo. Por isso, o menino ficou melancólico”.

Saint-Exupéry não testemunhou o sucesso de conto, publicado pela primeira vez em 1943 em Nova Iorque, mas Consuelo, sim.

Quatro anos depois, um acordo resolveu o problema da sucessão do escritor, que faleceu sem descendentes nem testamento.

Consuelo ficou responsável por metade da receita derivada da obra e a família Saint-Exupéry pela outra metade, além dos direitos morais, ou seja, o poder de decidir sobre tudo o que afeta o universo do autor.

Ao falecer em 1979, Consuelo legou os direitos ao secretário, o espanhol José Martínez Fructuoso. E a tempestade desabou: o ramo da família da irmã de Saint-Exupéry, Gabrielle d’Agay, levou o caso à justiça.

Martínez Fructuoso foi condenado em 2008, após ter publicado os escritos de Saint-Exupéry na obra “Antoine e Consuelo de Saint-Exupéry, um amor lendário”. Mas, em 2014, os Agays tiveram que lhe pagar parte dos lucros obtidos com um desenho animado de “O Principezinho”.

Agora, as cartas simbolizam a paz entre as duas partes.

Há dois prefácios: o da viúva do secretário, Martine Martínez, e o de Olivier d’Agay, sobrinho-neto de Saint-Exupéry.

“Esta obra não poderia ter visto a luz sem a colaboração entre os herdeiros de Antoine de Saint-Exupéry-d’Agay e os herdeiros de Consuelo de Saint-Exupéry”, disse a família num comunicado, admitindo uma “guerra legal infrutífera para obter o copropriedade de direitos autorais”.

O académico Alain Vircondelet alerta, porém, que esta edição não contém “todas as cartas de Consuelo”.

“A Sra. Martinez tem um tesouro colossal sobre Saint-Exupéry e cada vez que ela fala comigo sobre isso, o meu queixo cai”, disse.

O biógrafo revelará uma pequena parte deste tesouro num livro a ser publicado em agosto sobre a génese de “O Principezinho” em Long Island (Estados Unidos).

ZAP // AFP

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