Tiago Petinga / Lusa

Luís Montenegro com Carlos Abreu Amorim (2015)
Passa a ser ministro dos Assuntos Parlamentares. “Dá a ideia de que Luís Montenegro está a prever problemas”.
Carlos Abreu Amorim vai ser ministro dos Assuntos Parlamentares. Até aqui secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, vai ser o sucessor de Pedro Duarte – é candidato a presidente da Câmara Municipal do Porto e, por isso, deixa o Governo.
Aos 61 anos, será ministro pela primeira vez, depois de ter sido deputado na Assembleia da República em duas legislaturas, entre 2011 e 2019; também foi vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, mas demitiu-se quando Rui Rio passou a ser presidente do partido. No ano passado foi eleito novamente, nas legislativas, tendo ficado com a tutela da comunicação social enquanto secretário de Estado.
Carlos Abreu Amorim tem um passado repleto de polémicas. A mais mediática aconteceu em Maio de 2013, no dia em que o FC Porto foi campeão nacional de futebol. “Magrebinos: curvem-se perante a glória do grande dragão”, escreveu o então deputado, e adepto do FC Porto.
Nessa altura também era candidato a presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. “Em Gaia também há magrebinos”, lia-se nas reacções – “magrebinos” era uma referência a adeptos do Benfica (e seus amigos, segundo o próprio). Carlos Abreu Amorim perdeu as eleições autárquicas nesse ano, com metade dos votos do vencedor Eduardo Vítor Rodrigues (PS).
“Agora vou para Baixa e para o Dragão com a canalha (já habituada) celebrar mais um campeonato? Thank you, Jesus!!!”, acrescentou no Twitter. Horas depois, lamentou aquele “momento infeliz”.
Magrebinos: curvem-se perante a Glória do Grande Dragão!
— Carlos Abreu Amorim (@cabreuamorim) May 19, 2013
Uma semana antes, e agora sobre política, disse que “o tempo político de Vítor Gaspar terminou”, defendendo a saída do então ministro das Finanças.
Em 2016, novamente sobre futebol, novamente nas redes sociais, escreveu que o treinador Julen Lopetegui era um “espanhol apatetado” e que a direcção do FC Porto, liderada por Pinto da Costa, era “pejada de milionários que enriqueceram no clube”. Acusou a direcção de nepotismo e enriquecimento ilícito. O FC Porto não gostou destas “falsidades” sobre a direcção e seguiu para a Justiça.
De volta à política, em 2018 Carlos Abreu Amorim abandonou o grupo de trabalho sobre a eutanásia, no Parlamento, porque “os grupos de trabalho morreram” com a polémica em torno da lei de financiamento dos partidos. Alegava que os grupos de trabalho haviam perdido credibilidade, eram considerados “grupos secretos, de conspiração”.
Mais recentemente, em 2023, o “alvo” foi António Costa. Carlos Abreu Amorim disse que o então primeiro-ministro deveria ter aceitado a demissão do ministro João Galamba.
Escreveu então que Costa deu prioridade ao poder político, não ao interesse do país: “Há 10 anos um primeiro-ministro disse: ‘Para salvar o país que se lixem as eleições. O que importa é Portugal. Ontem, António Costa pensou: ‘Para me salvar a mim e aos meus desta trapalhada (e da Comissão Parlamentar de Inquérito da TAP) que se lixe Portugal. O que importa é o poder”.
No ano passado, disse que André Ventura é um “bully boy” e que os 8 anos de Governos do PS foram “miseráveis”.
Montenegro prevê problemas
São momentos que deixam a ideia de um político com perfil combativo, controverso. Ao entrar na composição do XXV Governo Constitucional, o primeiro-ministro está a antever um Parlamento com problemas.
A análise é de Pedro Tadeu, comentador da CNN Portugal: “Carlos Abreu Amorim é, de facto, um político controverso. Foi muito protagonista na época do Governo de Passos Coelho, foi alguém que ia à luta e foi sempre polémico“, recorda.
“Isto dá a ideia de que Luís Montenegro, ao escolher esta personalidade, está a antever um Parlamento com problemas e precisa de dois homens de combate: Hugo Soares na bancada e Carlos Abreu Amorim como ministro. Não são pessoas de consensos”, analisou.
Mesmo assim, Pedro Tadeu considera que as competências políticas de Carlos Abreu Amorim são “evidentes”.