Em plena campanha eleitoral, todos os candidatos com assento parlamentar se recusam a comentar o caso de Tancos, não querendo fazer dele um tema de eleições.
O Presidente da República reiterou, esta quarta-feira, nunca ter sido informado sobre o alegado encobrimento na recuperação das armas furtadas de Tancos, e sublinhou que “é bom que fique claro” que “não é criminoso”.
As declarações de Marcelo Rebelo de Sousa vêm no seguimento da notícia da TVI, que avançou ontem que o major da PJ-Militar, Vasco Brazão, se referiu, numa escuta telefónica, ao Presidente da República, como o “papagaio-mor do reino”, que, segundo ele, sabia de tudo. Entretanto, o advogado do major, Ricardo Sá Fernandes, veio garantir que a referência em causa não pretendia visar o chefe de Estado.
Em plena campanha eleitoral, todos os candidatos com assento parlamentar se recusam a comentar o caso, não querendo fazer dele um tema de eleições. Prova disso é o primeiro-ministro e secretário-geral do PS. “Isso é da justiça”, respondeu António Costa às televisões à chegada a um almoço com a Associação Cabo Verdiana de Lisboa.
Já Rui Rio, à chegada a uma adega na Vidigueira, em Beja, defendeu que é preciso “muito cuidado” ao envolver o nome de qualquer Presidente da República em processos judiciais.
“Envolvimento do Presidente da República não vejo nenhum”, começou por dizer o líder do PSD. “Acho que é leviano envolver o Presidente da República numa polémica destas, não o devemos fazer”.
Assunção Cristas também se remeteu ao silêncio. Apesar da insistência dos jornalistas, uma e outra vez a líder do CDS optou quase sempre por dizer as mesmas frases, à margem de uma visita à fábrica da Continental, em Vila Real. “Nós estamos a tratar de eleições legislativas e não vou comentar mais este assunto”.
Por sua vez, Catarina Martins, que visitava o Mercado de Benfica, em Lisboa, defendeu que a questão de Tancos “não deve ser um caso de eleições”.
“Este é um caso que não é de agora e, portanto, que eu julgo que não deve ser um caso de eleições, até porque já decorre há bastante tempo. Como sabe a acusação ainda não se conhece e, portanto, eu não vou fazer qualquer tipo de especulação sobre essa matéria”.
Sobre o caso de Tancos, a líder bloquista quis apenas “repetir o que o Bloco de Esquerda disse sempre”, ou seja, que “a justiça deve fazer o seu caminho e deve apurar todas as responsabilidades e todas as consequências. Portugal é uma democracia e é assim que deve funcionar”, concluiu.
Jerónimo de Sousa partilha da mesma opinião. “Eu ouvi declarações do Presidente da República a afirmar claramente que não tem a ver com qualquer situação menos clara. É a palavra do Presidente. Não tenho nenhuma razão para suspeitar”, disse o líder comunista, à margem de uma visita à estufa de exploração de um pequeno produtor de cogumelos shiitake em Arcos de Valdevez, Viana do Castelo.
Por fim, o porta-voz do PAN, André Silva, afirmou também que o processo de Tancos “não deve entrar na campanha”, numa ação junto a um olival intensivo, em Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal.
Para o também cabeça de lista do PAN por Lisboa, o caso “sempre esteve envolvido numa enorme opacidade”, considerando que o envolvimento do nome do Presidente “é uma especulação”, não querendo “comentar sobre algo que é especulativo”.
“Não queria alimentar mais ruído em torno de um caso que precisa de muitos mais esclarecimentos e, quando houver, estarei disponível para comentar algo concreto e objetivo e não para alimentar mais especulações”, acrescentou.
O furto de armas de guerra nos paióis de Tancos foi divulgado a 29 de junho de 2017. Um dos arguidos do processo é o ex-ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, que está proibido de contactar com os outros arguidos, com o seu ex-chefe de gabinete e com o antigo chefe de Estado Maior do Exército, o general Rovisco Duarte.
Quase três meses após a divulgação do furto das armas, a Polícia Judiciária Militar (PJM) revelou o aparecimento do material, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração com elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.
O processo de recuperação do material militar levou a uma investigação judicial, por suspeitas de associação criminosa, tráfico de armas e terrorismo no furto do armamento e durante a qual foram detidos o agora ex-diretor da PJM, Luís Vieira, e o antigo porta-voz da PJM, Vasco Brazão, e três militares da GNR, num total de oito militares.
ZAP // Lusa