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No campo de refugiados de Moria, há crianças que “dizem que querem morrer”

Mohammed Saber / EPA

No campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos, as crianças vivem em condições degradantes. Nos últimos três meses, uma psicóloga da Médicos Sem Fronteiras já tratou 20 casos de automutilação e duas tentativas de suicídio.

“Quero morrer” são palavras que Angela Modarelli, da organização Médicos Sem Fronteiras, nunca pensou que poderiam sair da boca de crianças de sete e oito anos. Mas, no acampamento de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos, é uma frase que se repete constantemente.

Este é um dos maiores acampamentos de refugiados na Europa. Cerca de 18 mil pessoas — das quais quase sete mil são menores — vivem atualmente neste campo que, inicialmente, foi construído para albergar apenas duas mil. E espera-se que cheguem ainda mais. Recentemente, as ilhas do Mar Egeu observaram um repentino aumento do número de refugiados provenientes de países como a Síria, o Afeganistão e o Iraque.

Muitas destas crianças chegam com traumas causados pelos conflitos armados nos seus países de origem e, ao chegar à Europa, são confrontadas com um ambiente que não favorece em nada o seu crescimento.

No centro podem ver-se crianças em idade pré-escolar a bater com a cabeça na parede ou a tentar puxar os seus cabelos. Os mais velhos, com idades entre os 12 e os 17 anos, “começam a automutilar-se e a falar sobre o desejo de morrer”, explicou Modarelli, especialista em psicologia infantil da MSF.

A especialista assegura que há evidências de que as condições de vida neste campo “estão a ter um impacto muito forte na saúde mental destes meninos”. “Normalmente, quando uma criança vive uma experiência traumática, deve ter tempo e um lugar para recuperar. Moria não permite a estas crianças que recuperem”, afirma.

Nos últimos três meses, Modarelli tratou 20 casos de automutilação e duas tentativas de suicídio. Um dos casos mais recentes é um adolescente de 17 anos que dorme nas ruas desde que chegou ao acampamento e que se automutilou. “Não está bem. E continua a dizer que quer fazê-lo outra vez”, conta a psicóloga.

Uma escola improvisada

Uma equipa da MSF e de refugiados tem estado a trabalhar para melhorar a educação destas crianças e as condições no acampamento. Uma dessas pessoas é Zekria Farzad, refugiado que ajudou a construir uma escola improvisada que serve de centro de estudos e que oferece cursos de línguas, de arte e de música.

“Começámos do zero. Tentei procurar um lugar para uma escola porque não havia nenhuma. E agora temos três turmas, mais de mil estudantes e mais de 20 professores. Aqui ocupam o tempo, vêm durante duas ou três horas e jogam, desenham, pintam… Teve algum impacto e devolveu-lhes alguma felicidade“, refere.

De acordo com o fundador, o objetivo do centro é construir um lugar seguro e dar espaço a estas crianças para que contem as suas histórias. “Tentamos trabalhar com eles para fortalecer o seu lado que ainda é saudável e fazer com que sintam que a culpa não é deles”.

Os refugiados em Moria podem passar meses sem ter notícias sobre os seus pedidos de asilo. E, com a chegada do inverno, os termómetros baixaram drasticamente e a maioria destes jovens não tem roupa nem sapatos adequados para enfrentar as temperaturas.

No próximo ano, o Governo grego planeia transferir cerca de 20 mil migrantes de Lesbos e das ilhas vizinhas para a parte continental do país. O Executivo também promete acelerar o processo dos pedidos de asilo, mas pede que outros países europeus partilhem a responsabilidade e tomem medidas para lidar com a crise migratória.

ZAP // BBC

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