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Bronca em Espinho: presidente tira poderes ao vice-presidente (quando soube que ele seria o candidato à sua sucessão)

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CM Espinho

Luís Canelas e Maria Manuel Cruz, ambos ao centro

Maria Manuel Cruz soube, através da direção nacional do PS, que Luís Canelas vai ser o candidato nas eleições autárquicas, e não ela.

A presidente da Câmara Municipal de Espinho retirou a confiança política ao seu vice-presidente e líder da concelhia local do PS, após saber pela direção nacional do partido que será esse o seu candidato nas próximas eleições autárquicas.

Maria Manuel Cruz estava na liderança dessa autarquia do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto desde a detenção em janeiro de 2023 de Miguel Reis, autarca também socialista que renunciou à presidência da Câmara na sequência da investigação policial do caso Vórtex.

Agora, a autarca revela que a direção nacional do PS lhe comunicou esta quinta-feira que, na próxima corrida eleitoral, a sua preferência será por Luís Canelas, até aqui vereador com pelouros como o Ambiente, Economia, Desporto e Juventude.

Em nota enviada à Lusa, a autarca critica a “forma desrespeitosa e a falta de transparência e frontalidade” de todo o processo e declara: “Ao longo destes mais de dois anos enquanto presidente da Câmara, nunca recebi um único contacto da direção nacional do Partido Socialista, pelo qual fui eleita – (…) num silêncio apenas quebrado a semana passada quando recebi um email convocando-me para uma reunião na sede nacional”.

“Nessa reunião, em que o Secretário-Geral nem sequer esteve presente, fui informada de que o candidato do PS à Câmara será o presidente da Comissão Política Concelhia e atual vice-presidente da autarquia, por mim indicado para o cargo”.

Recusando-se a “pactuar com manobras de bastidores, arranjos partidários e esquemas de poder que colocam interesses pessoais acima do bem-estar da população”, Maria Manuel Cruz retirou a Luís Canelas a confiança política e os pelouros que dirigia, argumentando que o cargo “pressupõe uma lealdade que não foi demonstrada e, o que é mais grave, um comportamento ético inquestionável, que também não se verificou”.

A autarca lamenta ainda que o vereador não lhe tenha comunicado pessoalmente a decisão de concorrer às autárquicas e acrescenta: “Desejo-lhe, sinceramente, os resultados que da sua atitude advenham”.

Quanto ao seu próprio desempenho, Maria Manuel Cruz diz que assumir a presidência da Câmara no contexto de uma renúncia em contexto policial constituiu “o maior desafio da história recente do concelho”.

“A operação Vórtex deixou um rasto de incerteza e instabilidade, mas assumi esta missão com determinação, sentido de responsabilidade e uma profunda dedicação a Espinho. As consequências foram severas: dirigentes afastados, serviços bloqueados, processos judiciais semanais, funcionários arguidos e um número incontável de baixas médicas”, recorda.

Defendendo que “poucos conhecem a verdadeira dimensão desse impacto”, a autarca afirma que a sua prioridade foi “evitar o colapso da Câmara” e, como exemplos de que em 2025 “Espinho está no rumo certo”, refere: “Reforçámos os serviços de higiene e limpeza urbana, iniciámos a requalificação da rede viária, avançámos com a manutenção dos parques infantis e dos espaços verdes e estão em curso as obras na Nave Polivalente de Espinho, na cobertura do Multimeios, na Piscina Solário Atlântico e na Escola EB 2/3 Domingos Capela”.

A lista inclui ainda “mais de 2,5 milhões de euros para melhorar o sistema de abastecimento de água, 1,3 milhões para a recolha seletiva de resíduos e outro tanto para mobilidade”.

Quanto ao restante mandato a cumprir, Maria Manuel Cruz garante que o seu compromisso com Espinho “permanece intacto”, visando o reforço da capacidade de resposta da autarquia e a execução de investimentos estratégicos para a modernização do concelho.

“Os interesses da nossa comunidade e das nossas instituições estão acima dos mesquinhos interesses pessoais e nisso continuarei a trabalhar. São sacrifícios que valem a pena”, conclui, admitindo a possibilidade de uma candidatura autárquica autónoma, como independente.

A Lusa tentou obter um esclarecimento de Luís Canelas, mas não obteve resposta.

// Lusa

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