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Brasil. Ministro pede desculpas à China se receber ventiladores enquanto MP processa Governo

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Pedro França / Agência Senado

O ministro da Educação, Abraham Weintraub

O ministro da Educação brasileiro, Abraham Weintraub, que abriu uma crise diplomática após um comentário considerado racista por Pequim, disse que poderá desculpar-se caso a China se comprometa a fornecer ventiladores ao Brasil.

“Eu sou brasileiro. Então, vou fazer o seguinte, este é o meu acordo: vou lá, peço desculpa, falo ‘por favor, perdoem-se pela minha imbecilidade’, e a única condição que tenho é que, dos 60 mil respiradores que estão disponíveis, eles nos vendam mil, para salvar a vida dos brasileiros, pelo preço de custo”, disse na segunda-feira, em entrevista à Rádio Bandeirantes, citada pela agência Lusa.

Weintraub afirmou que necessita de mil respiradores na rede de hospitais universitários ligada ao Ministério da Educação do país, que também atende pacientes da rede pública de saúde do Brasil.

“Que tragam mil respiradores aqui para os meus hospitais, e eu vou à embaixada [chinesa em Brasília] e digo ‘eu sou um idiota, mil perdões’. (…) Eu aceitaria me humilhar para salvar brasileiros, mas caso contrário não, eles estão cantando de galo”, declarou.

As autoridades chinesas exigiram na segunda-feira uma retratação do Brasil após um comentário do ministro que o país asiático descreveu como “fortemente racista” e que disse causar “influências negativas” nas relações entre os dois países.

“O lado chinês aguarda uma declaração oficial do lado brasileiro sobre as palavras do Ministro da Educação, membro do Governo brasileiro. Estamos cientes de que nossos povos estão do mesmo lado para resistir a palavras racistas e salvaguardar a nossa amizade”, escreveu o embaixador da China em Brasília, Yang Wanming, numa publicação no Twitter.

A discórdia foi causada por uma mensagem de Weintraub, que usou a personagem Cebolinha da banda desenhada “Turma da Mónica” para sugerir que a pandemia do novo coronavírus faz parte de um “plano infalível”. “Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu Weintraub, no domingo, no Twitter.

Cebolinha, uma das personagens infantis mais populares do Brasil, tem problemas de dicção e troca a letra “r” pela letra “l” ao falar, uma substituição que também é associada aos chineses. O ministro apagou depois a mensagem no domingo.

Num comunicado oficial, também publicado no Twitter, a embaixada da China sustentou que o governante brasileiro, “ignorando a posição defendida pelo lado chinês em vários esforços, fez declarações difamatórias contra o país nas redes sociais e estigmatizou Pequim ao associá-lo à origem da Covid-19”.

“Deliberadamente elaboradas, essas declarações são totalmente absurdas e desprezíveis, têm um selo fortemente racista e objetivos indizíveis e causaram influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais”, acrescentou a embaixada chinesa.

A delegação diplomática do país asiático expressou “forte indignação e repúdio à atitude” do ministro da Educação e instou “algumas pessoas no Brasil” a “imediatamente corrigir os erros cometidos e suspender suas acusações infundadas contra a China”.

Já no final de março, Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, acusou a China de ter gerado a crise ao esconder informações sobre a disseminação do novo coronavírus. Na ocasião, o embaixador chinês expressou “repúdio” e “indignação” pelas declarações e exigiu desculpas, mas nem Eduardo nem o Ministério das Relações Exteriores do Brasil se retrataram oficialmente.

MP processa Governo por contradições sobre isolamento

De acordo com a Lusa, O Ministério Público (MP) brasileiro entrou com uma ação na Justiça na qual pede que o Governo siga as regras estabelecidas no país contra o coronavírus e não emita “discursos e informações falsas que enfraqueçam o isolamento social”.

O MP sustentou, na ação entregue na segunda-feira, que as contradições no discurso do Governo, com orientações do Ministério da Saúde a serem contestadas pela Presidência da República diariamente, criam um clima de insegurança sanitária que “pode provocar milhares de mortes”.

“O executivo, por meio de seu representante máximo, o Presidente da República, não pode expor ao risco o direito à saúde das pessoas, expor toda a sociedade a risco, recomendando a retomada das atividades quotidianas, a reabertura dos comércios, entre outras, diante da pandemia da Covid-19, contrariando todas as evidências científicas que apontam em sentido contrário”, referiram os 20 procuradores que assinaram a ação.

Bolsonaro tem sido um forte critico de medidas para conter a disseminação do novo coronavírus, como o isolamento social e o encerramento de comércios e escolas.

“Essa neurose de fechar tudo não está a dar certo. Para combater o vírus, estão a matar o paciente. Sem dinheiro, você morre de fome, tem depressão, suicídio, vem a violência. Quanto maior o desemprego, maior a violência”, advertiu Bolsonaro, numa transmissão em direto na sua página do Facebook, no final de março.

Bolsonaro gerou polémica junto da classe médica e política do Brasil ao pedir às autoridades estaduais e municipais, num discurso ao país transmitido em cadeia de rádio e televisão, a reabertura de escolas e comércio, e o fim do “confinamento em massa”.

“Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o encerramento do comércio e o confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima de 60 anos. Então, porquê fechar escolas?”, questionou, sublinhando que o país deve “voltar à normalidade”.

De acordo com o MP, o problema pode ser corrigido “pela publicação nos canais oficiais [do executivo], assim como na conta do Twitter do Presidente da República, de orientações e indicações sobre a necessidade imprescindível de isolamento social, enfatizando-se as medidas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde e referendadas pelos órgãos técnicos do Ministério da Saúde”.

A ação pede que a Justiça assegure dados corretas à população, obrigando “a publicação de orientações e indicações sobre a necessidade imprescindível de isolamento social nos sites da Presidência e ministérios, bem como nos canais oficiais nas redes sociais, aplicações de mensagens e qualquer outro canal digital, com destaque na página inicial”.

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta

“Desde que o Congresso Nacional estabeleceu situação de emergência em saúde pública no Brasil, (…) a autoridade maior do país vem sucessivamente emitindo discursos e orientações por meio de declarações à imprensa e nas redes sociais contrárias às medidas para contenção da pandemia”, indicou o MP na ação entregue à justiça.

A ação, entregue na Justiça Federal em Belém, no estado do Pará, enumerou 12 ocasiões em que Bolsonaro falou contra o isolamento social ou tentou minimizar a gravidade da pandemia, tanto em pronunciamentos oficiais quanto nas suas contas nas redes sociais Twitter e no Facebook.

Bolsonaro queria demitir ministro da Saúde

Segundo noticiou o Diário de Notícias, o Presidente brasilerio queria demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defensor do isolamento social, em plena pandemia. Em reunião de ministros, ficou decidido que aquele permaneceria no cargo, após pressão dos conselheiros militares do Presidente e do líder do Senado, Davio Alcolumbre.

“Faltou-lhe humildade”, “fala pelos cotovelos” e “não hesitarei em usar a caneta, ninguém é indemissível”, foram alguns dos comentários de Bolsonaro a propósito do ministro. Em resposta, Mandetta afirmou que “um médico não abandona o paciente”. “Ao Presidente, com mandato popular, cabe falar, a mim cabe-me trabalhar”, disse também.

Caso Mandetta deixe o cargo, o substituto mais provável é Osmar Terra, que exerceu o cargo de ministro da Cidadania até fevereiro, e é também contra o isolamento.

“Nos países europeus que radicalizaram na quarentena, em vez de diminuir, o número de casos aumentou muitas vezes e não houve achatamento da curva epidémica. Isso já é possível ver na aceleração de novos casos na quarentena do Brasil. Mas como a população está muito assustada, ela acredita que quanto maior o isolamento e a proibição, mais segura ela estará. Isso induz os gestores públicos a radicalizar medidas”, escreveu num artigo publicado na segunda-feira no Folha de S. Paulo.

Mandetta tem o apoio dos 27 governadores estaduais, dos presidentes das duas casas legislativas – o Senado Federal e a Câmara dos Deputados – e do líder do Supremo Tribunal Federal. Sondagens realizadas na sexta-feira davam conta de grandes subidas na popularidade e na relevância digital do ainda ministro.

ZAP //

5 Comments

  1. Independente de onde surgiu o vírus, penso que o mundo inteiro esteja no mesmo barco, mesmo porque, o vírus não escolhe a quem atacar; então, creio que diplomacia e ao menos um pouco de respeito por parte de nossos políticos, seria o mínimo esperado numa hora dessas! Por que então, esses senhores não opinam usando o cérebro deixando os intestinos para as fezes?

  2. Além de ser um “Idiota” como o reconhece, é igualmente mestre em chantagem, indigno tal como o seu “Amado Líder” de ocupar o cargo que ocupa. Mas enfim a maioria dos Brasileiros assim escolheram !

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